quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Capítulo 43

Isto esteve em altas hoje *.* Thank yoou! Especialmente a viajante dos blogs que sempre deixa um comentário :)

A intenção estava lá, exactamente onde e para o que se queria. Porém, a força de vontade nem sempre se encontrava presente. Os únicos pensamentos que mantinham Susana no caminho certo e a impediam de ir fazer a sua eram tanto a avó falecida, sobretudo a noção que esta não gostaria de a ver a enveredar por rotas tão controversas, e a namorada. Controlar a constante necessidade de voltar a consumir deixou-a um tanto fragilizada nos primeiros tempos, afinal não tinha a sua fuga da realidade temporária, nem dinheiro para adquirir mais. O certo foi que, com o passar do tempo a vontade foi sucumbindo, para se manter moralizada pensava nas pessoas a quem não gostaria de desapontar.
Antes de ter passado à prática, ponderou o que podia fazer. Com as habilitações que tinha só lhe dava para ir para um restaurante de fast-food, o que estava fora de questão, mais que não fosse porque “gato escaldado de água fria tem medo”. De certa forma, o que lhe valia era a sua humildade e simplicidade, pois não era qualquer pessoa que iria para uma rua movimentada da capital tocar viola, para que umas almas caridosas dessem uns trocos.
Sentir o calor tórrido do Verão a embater no asfalto e a reflectir-lhe na superfície da pele, não era pêra doce. Quando acumulado ao facto de estar completamente exposta a quem passava, o que resultava em bocas ou olhares desaprovadores, a situação era horrenda. Mas como não tinha alternativa, era resignar-se à sua sorte. Além de ter sido abordado por uma antiga professora que não se coibiu de lhe esfregar na cara que sempre a imaginara naquela situação, ainda tinha sido alvo de troça de umas pessoas que considerara amigos, pelo menos, até à situação da Mónica.
“Isto é tão decadente…”, manifestou-se Guida, ao ver um executivo que se detivera uns instantes a ouvir a amiga tocar, atirar-lhe uma moeda, “De certeza que não podias fazer outra coisa?”
“Obrigada…”, disse a loura, levando a mão já calejada à testa, para limpar as gotas de suor que lá se formavam, “Se houvesse eu aproveitava, mas se bem te lembras de quando trabalhei naquele restaurante, a coisa não correu bem”
Realmente, a tentativa de Susana de trabalhar num café simplório na periferia de sua casa terminara com diversos pedidos trocados e cafés mal tirados. Com um resmungo, Guida deu a conversa por terminada, já a fulminar com o olhar a tonalidade vermelha que lhe começara a surgir nos braços claros e, consequentemente sensíveis, expostos à radiação solar. Desde que chegara que a loura só tinha feito dois euros. E andava naquilo há quase um mês…conseguia mesmo à justa para comer, caso contivesse o seu apetite insaciável. O que a impediu de ficar na completa miséria foi o feliz acaso de ter encontrado algum dinheiro que a avó guardara. Não era muito, mas podia ficar mais tranquila com as contas da casa e da mota durante uns meses. Voltando a grunhir para si, a amiga ofereceu-se para ir comprar uma garrafa de água para a outra. Assim o fez, resmungando o caminho todo, até que se deparou com uma fila enorme no minimercado local.
Massajando as têmporas de modo a manter o controlo, Guida aguardou, ainda que para sua irritação, tivesse à sua frente uma mulher a pagar tudo com trocos, que demoravam décadas a contar. Pelo menos havia ar condicionado…assim que se despachou, notou que, com o tempo de espera a água fresca aquecera. Como não era ela que ia beber, encolheu os ombros e dirigiu-se de novo para junto da outra. Se bem que diante desta se encontrasse um indivíduo bem apresentado, de camisa e roupa quase formal, a trocar umas palavras com Susana. A julgar pela expressão desta, estava num dos seus momentos “louros”, isto é, como um burro a olhar para um palácio. Quando a alcançou, já o estranho tida ido embora, deixando apenas um cartão à loura.
“Quem era e que queria?”, questionou a amiga, observando de alto a baixo a figura de escuro que se ia afastando progressivamente, até se diluir no aglomerado de pessoas.
“Não sei…ficou um bocado a ouvir-me tocar, deu-me dez euros e depois disse que eu tinha talento…”, disse Susana, coçando a cabeça, “Deu-me o contacto e disse para lhe ligar mais tarde”
Guida arrancou-lhe o pedaço de cartão da mão e leu. Tratava-se de um director de uma pequena discografia independente, mas que já dera bons frutos e que estava em crescente ascenção. E aparentemente via na loura algum talento. A amiga sorriu de orelha a orelha, antes de guinchar, eufórica, “ESTÁS À ESPERA DE QUÊEE?!”
“Não sei, ainda tenho que pensar melhor…”, respondeu a outra, ainda que depois de observar as marcas de bronzeado à camionista nos braços, já estivesse disposta a qualquer alternativa, pior não podia ficar. Diz-se por aí que depois de uma tempestade vem sempre uma bonança, já era altura de encontrar a sua.
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O certo foi que, dois dias depois, ligou, após muita insistência por parte tanto da melhor amiga como da namorada, “Vá lá, tens voz fixe!”/”Se perderes esta oportunidade ainda te vais arrepender” e afins. Após uma conversa que tivera a duração de hora e meia, Susana estava numa sala repleta de madeiras envernizadas, paredes recém pintadas e metais polidos. Sentado no outro lado da mesa, o indivíduo que a abordara, lia o formulário que a fizera preencher e franzia o sobrolho. Cada vez que parecia pouco impressionado, o estômago da loura dava uma volta.
“Bem, pelo CD que me mostrou posso dizer que tem bastante potencial”, falou finalmente o produtor, “Só tem que assinar e começamos já”

1 comentário:

  1. Será que estou prestes a assistir a uma reviravolta na vida da Susana ? Ela bem que merecia!
    Não tens que me agradecer. Se não gostasse tanto, não comentava. Deves agradecer a ti própria, o mérito é teu. :')
    Uma viajante dos blogues :) *

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