sexta-feira, 22 de abril de 2011

Capítulo 20

Susana acordou com um sorriso no rosto e uma sensação de tranquilidade no peito. Verificou que a rapariga que se encontrava aninhada no seu peito ainda dormia e, por muito que acordasse naquelas condições, o ar de inocência e serenidade desta era algo que nunca deixaria de a enternecer. Abraçou a morena mais para junto de si e deixou-se ficar, desejando que nada nem ninguém perturbasse o estado perfeito em que estavam, que pudessem ficar apenas assim mais tempo. Não cabia em si de felicidade por finalmente ter podido assentar, sobretudo com alguém que correspondia a todos os seus padrões em todos os aspectos.
Claro que o que ouviu da conversa entre a namorada e o amigo a magoava bastante, ainda não desistira de ter uma conversa séria com esta sobre isso. Afinal, a ideia de que Daniela poderia arranjar pelo menos duas pessoas, uma delas um rapaz, que seriam melhor partido, era excruciantemente dolorosa. Gostava tanto dela que a ideia de a perder por não lhe conseguir dar melhor a matava por dentro. Apertou a rapariga um pouco mais fortemente, como se procurando conforto.
“Hm Suse…já acordada?”, perguntou Daniela ainda de olhos fechados e sem levantar a cabeça do peito da loura.
“Desculpa se te acordei”, limitou-se a responder a outra, enquanto afagava as costas da morena. A ausência de “nomes fofinhos” indicava que não estava com a melhor das disposições.
A rapariga ergueu-se, apoiada pelo cotovelo e beijou a namorada. Quando esta mal lhe correspondeu, confirmou as suas suspeitas. O que era estranho, tendo em conta que na noite anterior não lhe tinha sido nada difícil acalmá-la e levá-la para a cama. Afastou-se e, sempre apoiada no cotovelo, apenas com o lençol a impedir que estivesse como quando veio ao mundo, perguntou à loura o que se passava.
Susana permaneceu deitada de costas e, mantendo sempre o olhar fixo no tecto, murmurou, de forma quase inaudível que estivera a pensar no que ouvira no dia anterior. Daniela pegou-lhe no queixo e obrigou-a a olhar directamente para si, “A que conclusão chegaste?”
“Acredita que estou feliz por te conseguir fazer feliz”, respondeu a outra, com uma expressão que aparentava ser de melancolia com um misto de contentamento, “Mas se o melhor para ti for a tal Sofia ou o Tomás, eu…”
“Não te atrevas a dizer isso”, interrompeu a rapariga, colocando-lhe um dedo nos lábios, “Esses dois estão mais do que no passado, como já disse, eles dois juntos não fazem metade de ti”
Ao lembrar-se da forma como a namorada a defendeu, a loura sorriu, apenas para ser arrebatada por outra onda de insegurança, “O que ganho chega para me sustentar e à minha avó mas pouco mais…”
 “Ao contrário do que aquele panhonha pensa, tenho o meu dinheiro e sustento-me, não preciso que o faças”, disse Daniela enquanto lhe passava a mão pelo rosto, acariciando-o suavemente, “Nisso tenho um grande respeito por ti, trabalhas para o que tens e mereces tudo o que conseguiste, eu nunca fiz nada e foi-me tudo dado pelos meus pais…és realmente algo…”
Tendo em conta que a rapariga sempre desejara alguém com mais posses, o seu respeito pelas condições da outra era uma conquista e tanto. Susana sorriu abertamente pela primeira vez naquele dia e roçou a cara na mão da morena, enquanto esperava que esta prosseguisse.
“Isso e apaixonei-me foi por ti…”, continuou Daniela, aquele tipo de conversa não era algo que a deixasse confortável nem à vontade, mas era necessário, “não há nada a fazer e eu abdico bem das minhas fantasias…não podia estar melhor, acredita”
A loura puxou a rapariga para cima de si, beijando-a com todo o sentimento que nutria por ela. A morena correspondeu, simplesmente deixando-se levar. Ao sentir as mãos da outra no seu corpo, percebeu para onde as coisas estavam a ir. Segurou as mãos de Susana por cima da cabeça desta e disse-lhe que esperasse um pouco enquanto se despachava, mais tarde continuavam, beijou-a rapidamente e dirigiu-se para o duche.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Capítulo 19

Depois de terem estado no café decidiram ir à praia, tendo em conta que Susana já conseguia andar sem grandes problemas e que um dos seus maiores prazeres era ir à praia. Tinha sido uma tarde aprazível, tendo ambas acabado por ficar uma boa parte do tempo na toalha. Daniela trouxera máquina fotográfica e, como ainda não tinha fotos com a outra, aproveitou. Pessoalmente, a sua preferida desse dia era aquela em que a loura estava de barriga para cima a puxar a rapariga para cima de si e esta a beijá-la. Foi agradável terem podido estar juntas como um “casal convencional”, sobretudo depois da peripécia no café. Durante essa tarde Pedro não cessara de lhe mandar mensagens sempre com o mesmo discurso “despacha-te que temos que ter uma conversa séria”. Daniela já sabia sobre o que era e sinceramente não estava ansiosa por o ouvir maldizer Susana a torto e a direito, mas não tinha alternativa. Quando chegassem ao apartamento, a rapariga ligaria a Pedro, se iam te aquela conversa mais valia que ficasse despachada.
Pena que mal tivesse sentido a loura a colocar os braços em torno da sua cintura, se tivesse sentido tentada a acompanhá-la para o duche. Lá encontrou presença de espírito para se soltar e lhe explicar que tinha uma chamada para fazer. A outra ainda a tentou dissuadir com um beicinho mas sem sucesso, a morena limitou-se a dar-lhe um beijo rápido e a ir para o quarto. Sentou-se na borda da cama e ligou ao rapaz.
“Halloooo, como estás meu bebé?”, cumprimentou ele, eternamente feliz.
“Passemos já ao assunto vá”, interrompeu ela, quanto menos adiassem melhor. Era bom que a conversa tivesse lugar enquanto Susana estava no duche.
“Pronto está bem…”, disse o rapaz, contrafeito, “Bem, queres que comece pelos aspectos positivos ou negativos? Ah é melhor os positivos, que são poucos”
“Sim…diz lá”, murmurou a morena, mordendo o lábio inferior.
“Ora bem, é simpática e sabe lidar bem com provocações”, enumerou Pedro, como se estivesse a contar pelos dedos, “E é boa”
“É, não é?”, entusiasmou-se Daniela, “Ela é tão mas tão querida e carinhosa, ainda outro dia…”
“Ainda não acabei!”, interrompeu ele, num tom um tanto seco, “Mas fica-se por aí, por amor de Deus, ela parece ser completamente oca, estou certo? Sê lá sincera”
“Oh…bem, ela é perspicaz e ponderada, sim, é esperta…não a subestimes”, hesitou a rapariga, “Mas se estás a falar em inteligência, pode ser um tanto lenta às vezes…quanto a isso a Andreia era mais”
A partir deste momento, Daniela começou a chatear-se, tendo levantado a voz um pouco mais do que gostaria. Nem sequer reparou no facto de já não ouvir a água a correr na casa de banho ao lado.
“Ai a Andreia perfeita”, gozou Pedro, “Mas nem falemos nessa! Onde é que eu ia…ah sim, já viste bem como é que ela ganha a vida?”
“Sim já e até foi assim que a conheci”, disse ela, já massajando as têmporas para se manter calma, o que não estava a ser fácil, estava a ter uma tendência para elevar a voz, “Antes que digas o que quer que seja, ela não teve oportunidade de continuar depois do 12º, teve que trabalhar para se sustentar a ela e à avó, que estava e está doente”
“Oh por favor, há imensa gente que trabalha e estuda ao mesmo tempo”, insistiu ele, teimosamente, “Se a essa parasita lhe deu para a preguiça…”
“Oh essa é boa vinda da pessoa que menos fez a vida toda”, retaliou a morena. O que restava da sua calma, tinha-se dissipado, “Claro que eu preferia e muito que ela fosse ou médica ou uma merda qualquer, mas se não é, paciência”
“É assim, eu acho que se deve sempre tentar arranjar superior a nós, no mínimo, ao nosso nível…”, continuou Pedro, a tentar manter um discurso coerente, “Mas pior que essa só uma preta que lavasse escadas”
“Ela trata-me bem, é carinhosa, gosta de mim, é altruísta, dedicada…”, disse a rapariga, como se lhe faltasse o fôlego, “Porra, o Tomás e a Sofia juntos não fazem metade dela! Não importa se a achas uma imitação rasca da Andreia, para mim é perfeita”
“O Tomás é militar e a Sofia estuda medicina”, respondeu ele, “Tens que admitir que sempre preferiste alguém que te levasse a um restaurante cinco estrelas a alguém que te levasse a comer a roulottes”
 “Olha, dou-te razão aí, ela não tem nada para me oferecer”, concluiu a morena, enterrando a cara na mão livre, “Não tem onde cai morta, como tu dizes, e os outros dois eram melhor partido, mas agora estou feliz e é quanto me basta. Ficamos por aqui, adeus”
Desligou o aparelho e atirou com este para o canto oposto da sala, ouvindo-o fazer um barulho desagradável quando embateu no chão. Só então deixou que a testa repousasse sobre o polegar e o indicador, tentando acalmar. Sentiu o olhar de alguém fixo em si e, com um esgar angustiado viu que Susana estava encostada à parede a olhar para si, com uma expressão que não soube identificar. Mesmo o que lhe faltava…
“Suponho que ouviste”, suspirou Daniela, voltando a segurar a cabeça.
“Desculpa não ter respeitado a tua privacidade…”, disse Susana em voz baixa, com um sorriso leve, “Não sabes como fico feliz por saber que enfrentaste o teu melhor amigo por mim e que te faço feliz…”
A morena limitou-se a levantar o olhar e a sorrir para esta de forma cansada, a última coisa que desejava era discutir desta vez com a outra. Mas se esta ouvira realmente a conversa, então decerto que levara com uns quantos baldes de água gélida.
“Apesar de ser pobre e não ter onde cair morta…ou talvez de ser burra ou uma imitação rasca da Andreia”, continuou ela, agora num tom sombrio, “Ou por puderes arranjar melhor partido, tipo um militar ou uma médica, sim vocês falaram alto o suficiente para eu ouvir”
A rapariga não pôde fazer mais do que acenar negativamente com a cabeça, estava exausta. Não havia muito pior para si que discutir com Pedro, não conseguia arranjar estofo para outra discussão. Nem sentia que tivesse que dar justificações à loura, afinal ela não era bem o que idealizara mas ainda assim aceitava-a.
“Susana…agora não, por favor”, sussurrou Daniela, olhando Susana como se lhe implorasse para não gerar confusão. Vendo que esta não parecia estar a acalmar, considerou outra abordagem. Não lhe agradava naquelas condições, mas sabia que a loura dificilmente resistiria. Levantou-se da borda da cama e caminhou até Susana, que parecia baralhada.
“Dani…”, disse a outra, enquanto a rapariga encurtava a distância entre ambas e se inclinava para si, “Que estás a fazer?”
“És como és, aceito-te seja como for”, murmurou a morena ao ouvido da loura. Começou-lhe a mordiscar a parte de baixo da orelha, “Esquece o que ouviste, não me interessa o que ele acha”
Susana fechou os olhos e pareceu sucumbir um pouco, ainda assim conseguiu dizer, “Não é assim que me seduzes, Daniela Sousa”
“Não?”, perguntou Daniela, afastando-se para olhar a outra nos olhos e lhe sorrir um sorriso cúmplice, antes de lhe beijar o pescoço.
A loura já nem parecia estar a tentar retaliar, virou-as e empurrou a rapariga contra a parede, beijando-a, “Não resisto muito tempo”, disse, por entre beijos. A morena nada disse, limitando-se a corresponder aos beijos, colocando a mão no peito da outra, empurrando-a para a cama. Susana conhecia a situação demasiado bem para o seu gosto, mas preferiu sacudir os pensamentos incómodos, deixando-se levar.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Capítulo 18

Daniela acordou, com os raios do sol a atravessarem os cortinados por uma pequena brecha. Ao seu lado estava Susana ainda adormecida, com a cara enterrada no seu pescoço e com um braço em torno da cintura da morena. Sinceramente estava a fazer-lhe imenso calor, tendo em conta a temperatura que se fazia sentir e o facto de a loura ser um forno em pessoa, mas não queria estragar o momento. Levou a mão ao telemóvel, tentando não acordar a outra para consultar as horas. Ao fazê-lo repara que tem uma mensagem de Pedro:
Oláaaaa amor! Então espero que tenhas dormido bem, é hoje que passo por aí e é bom que me apresentes essa pega! Olha, estou aí ao meio-dia e se te apanho ainda a dormir nem queiras saber o que te faço!
Sorriu e posicionou-se de modo a soltar o braço e puder responder, quando Susana acorda. Manteve o queixo no ombro da rapariga enquanto lhe espreitou a mensagem.
“Porque é que esse te pode chamar amor e eu não?”, perguntou ela, fazendo beicinho.
“Porque esse já o faz desde os meus oito anos”, respondeu Daniela, virando-se para beijar a outra, “Olha…ele vem cá hoje e gostava de te conhecer, o que achas?”
Susana sorriu de orelha a orelha feliz por a namorada parecer estar a levar a relação a sério ao ponto de a apresentar ao melhor amigo e beijou a rapariga, “Parece-me muito bem”
Ficaram na cama ainda mais um pouco, trocando mimos. A morena pensou que aquilo era algo a que se podia habituar, não se importava nada de acordar assim mais vezes. O que a frustrava era saber que esse sonho estava ao seu alcance, mas para tal teria que assumir a relação aos pais. Era preferível que soubessem por ela do que por terceiros e para tal teria que lhes contar depressa, já que se aquilo se espalhasse, seria como fogo numa floresta e chegar-lhes-ia aos ouvidos em menos de nada. Talvez no dia dos seus anos fosse uma boa ocasião.
Já não tinham muito tempo, resolveram levantar-se e ir tomar o pequeno-almoço rapidamente. Daniela preparou-lhes o pequeno-almoço enquanto Susana foi fumar um cigarro (“Não te faço companhia porque se o Pedro sabe dá-me um tiro”). Precisamente quando ambas acabaram e estavam despachadas, a campainha tocou. A morena engole a ansiedade e apressa-se a receber Pedro, que entra no apartamento com os seus característicos modos espalhafatosos.
“Oláaaaa meu bebé! Então como estás?”, cumprimentou-a ele, esborrachando-a com um abraço. Nem esperou pela resposta ao ter avistado a loura, que se mantivera encostada à parede. Largou a rapariga e dirigiu-se à outra, muito sério.
“Pedro Henriques, melhor amigo. Muito prazer”, apresentou-se o rapaz, estendendo a mão para a cumprimentar, “Tu deves ser a cabra que anda a comer a minha menina”
“Susana Marques, namorada. Muito prazer”, respondeu-lhe ela, apertando-lhe a mão, nunca deixando de sorrir, “Parece que sim”
Daniela ficou a ver a cena desenrolar-se diante de si com uma expressão de embaraço. Tão típico de ambos…Encaminharam-se todos para a sala, que era o único sitio fresco da casa. Pedro pegou na mão da rapariga e, raptando-a da loura, sentou-se no sofá, com a morena no colo.
“ Oh tu, larga a minha miúda!”, brincou Susana.
“Tua miúda?”, gozou Pedro, com uma careta, “Ainda tu andavas de fraldas e ela já era minha”
A morena deu um puxão ao de leve no piercing do nariz do rapaz, vendo-o gritar exageradamente. A outra sentou-se também no sofá junto aos dois e esperou que o interrogatório começasse, tal como a rapariga a tinha prevenido. Apesar de ter estado nervosa e cheia de vontade de causar boa impressão, não cabia em si de contente por a namorada estar finalmente a assumir a relação. Gostava de se sentir parte da vida de Daniela, algo que nunca pudera fazer quando estivera com Mónica.
Pedro, antes de se dirigir à loura, sussurrou ao ouvido de Daniela que ela era mesmo a cara chapada de Andreia. A rapariga concordou e deixou-o começar a falar.
“Então diz-me, estudas onde?”, começou Pedro, como se a estivesse a entrevistar para um emprego.
“Hm, não estudo…”, admitiu Susana subitamente menos à vontade, “Já trabalho”
O rapaz fez uma cara de desagrado, esconder emoções nunca tinha sido o seu forte, mas não queria fazer com que a outra se sentisse mal, por isso sorriu-lhe, “Fazes o quê?”
“Sou DJ”, disse ela, podia não ter começado da melhor maneira, mas ainda ia a tempo de resolver isso, “Até não ganho tão pouco assim, tendo em conta que não faço muito”
“Isso é temporário ou tencionas fazer disso a tua vida?”, perguntou ele, com o sobrolho franzido.
“Não sei, mas por enquanto é o que me paga as contas”, sorriu Susana, tentando manter-se paciente.
Daniela olhou para Pedro e foi quanto bastou para lhe perceber tudo o que ia na cabeça, “parasita, pobre, provavelmente passa os dias a fumar droga e as noites a comer gajas, por favor corre para o Tomás enquanto é tempo”. Revirou os olhos e decidiu poupar Susana ao interrogatório, afinal não era nada que ele não soubesse, a morena já lhe tinha falado imenso da outra. Soltou-se do abraço dele e puxou a loura pela camisola para cima de si, beijando-a.
“Hey! Não quero essas figuras nem à minha frente, quanto mais em cima de mim!”, resmungou Pedro, empurrando a rapariga de cima de si.
“Desculpa maninho, quando se tem uma namorada tão linda como a minha é difícil largá-la por um bocadinho que seja”, gozou Daniela, deitando-lhe a língua de fora.
“Não me mostres essa língua!”, horrorizou-se ele, “Sei lá por onde isso andou”
Ambas se riram, considerando os acontecimentos da noite anterior. Até que Susana voltou a beijar Daniela, pondo nesse beijo todo o sentimento que nutria pela rapariga. Pedro, que tinha onde estar dali a pouco tempo, despediu-se:
“Bem, estou aqui a mais”, replicou, fingindo indignação, “Tenho que ir mas Dani, mais tarde ligo-te”
“Até já lindo”, disse a morena, soltando-se da outra para se ir despedir do rapaz com um abraço. Por sua vez o rapaz, depois de abraçar a amiga, disse adeus à loura com um aperto de mão.
Assim que Pedro foi embora, Daniela foi preparar o almoço. Depois de cozinhado colocou-o na mesa e chamou Susana, que tinha ficado no sofá a ver uma coisa na televisão que lhe interessava. Esta não demorou a ir para a mesa, sentando-se em frente da rapariga. Enquanto esperava que o prato arrefecesse, apertou a mão da morena e agradeceu-lhe, tanto por ter cozinhado, como por a ter apresentado ao melhor amigo.
“Oh ele não parava de me chagar para te conhecer”, disse Daniela, “Sabes como é, é natural que ele quisesse conhecer a pessoa de quem eu tanto falava”
“Deu-me esperança que finalmente pudesse ter uma relação estável e duradoura”, confessou a outra, “Que não me viesses a fazer o que a Mónica me fez”
A rapariga abanou a cabeça e assegurou à loura que não lhe faria aquilo. Dito isto, começaram a almoçar, mantendo um diálogo simples e casual. Quando acabaram Daniela propôs que fossem a um café próximo, porque precisava de tomar um café decente. Esta foi a desculpa que deu à namorada, mas no fundo queria provar a si própria que conseguia estar com Susana em público tal como estaria com um rapaz.
Ao saírem de casa, Daniela tomou a iniciativa de dar a mão a Susana. Deu um discurso moralizante a si própria e foi repetindo “Faz isto por ela, se conseguiste com a Sofia consegues com a Suse” o caminho todo. Era mais fácil se se abstraísse da multidão, apesar de ser difícil ignorar um grupo de raparigas que não se coibiu de cochichar entre si. A loura não parecia minimamente incomodada, nem aparentava reparar. Por fim chegaram ao café, que estava mais cheio do que a rapariga pensou que estaria. “Oh que merda…”, pensou, enquanto procuravam uma mesa vazio. Encontraram uma que não estava num local propriamente discreto, mas era a única, por isso aproveitaram e sentaram-se.
Daniela colocou a mala numa mesa vazia e perguntou à outra se queria que lhe trouxesse alguma coisa.
“Pode ser um pastel de nata”, respondeu Susana. À experiencia puxou a rapariga para si e beijou-a, antes que esta se levantasse. A morena parecia apenas um pouco surpreendida mas não disse nem fez nada para impedir a outra. Correspondeu e piscou o olho à loura antes de se dirigir ao balcão.
Até chegar ao balcão teve que passar por diversas mesas e já não estava determinada em ignorar quem as tinha visto. Assim sendo, foi apanhada de surpresa ao ver tanto gente a olhar de lado como grupos a comentarem. Respirou fundo e fez o seu pedido no balcão, afinal não era que conhecesse aquela gente. De repente sentiu alguém afagar-lhe o braço. Pensou que fosse a outra, por isso virou-se com um sorriso. Sorriso esse que diminuiu até se transformar numa expressão de horror ao ver a criatura que se encontrava diante de si. O ser devia ter mais ou menos a sua altura e pesar o mesmo, com o cabelo oleoso e a cara rivalizava com os terrenos bombardeados do Iraque. A indumentária não o favorecia, com óculos à Harry Potter e calças puxadas até ao umbigo, deixando mostrar as canelas minúsculas peludas. Ao sorrir exibia os seus dentes amarelos de castor em toda a sua glória.
“Olá querida”, disse ele em voz alta de sopinha de massa, “Que dizes a largar a outra fufa e a juntares-te a mim hoje à noite?”
“Desculpa?”, escandalizou-se Daniela, que se apressou a pegar no café e no pastel de nata e a virar-lhe as costas.
“Oh não vás embora bebé”, continuou ele, seguindo a rapariga, até que lhe apalpou o rabo.
A morena vira-se nesse preciso momento, mesmo a tempo de o ver afagar o seu próprio “pacote” ao mesmo tempo que dizia, “Este brinquedo aqui vai converter-te”
Ao ouvir isto, Daniela limita-se a revirar os olhos e a afastar-se, tentando manter o almoço no estômago. Pousa as coisas e senta-se na mesa, perante o olhar irritado da outra. O rapaz dirigiu-se a elas e disse, “Oh fofinha, vais ver que sou melhor que essa, mas ela também se pode juntar a nós”. Ao ouvir isto Susana sussurra ao ouvido, “Eu resolvo”. Levantou-se da cadeira coma expressão mais sedutora que Daniela alguma vez vira. A rapariga pensou que, se ela própria já estava com os calores, nem queria imaginar o outro. Quando olhou para este ficou dividida entre partir-se a rir ou enojar-se.
O borbulhento já tinha saliva a escorrer pelo queixo e a expressão mais pervertida de sempre. Mas o que chamou mesmo à atenção da morena foi o “chumaço” que este tinha nas calças, enquanto a loura ia na sua direcção. Susana manteve sempre a mesma expressão até chegar ao pé dele, que começou a caminhar para trás indo ficar encostado a uma parede. Quando o alcançou, próxima o suficiente para quase o comprimir entre ela e a parede, deu-lhe uma joelhada. Os olhos do rapaz pareciam que lhe iam saltar das orbitas e ficou a morder o lábio de dor. Então a loura afastou-se, dizendo apenas “Para a próxima cuidado com os comentários, bebé”. Aí o borbulha caiu no chão, enrolado.
“Já está, amor”, disse Susana, voltando ao seu eu habitual, sorridente.
“Vais fazer aquele olhar só para mim”, disse Daniela, afagando o cabelo da outra.

domingo, 10 de abril de 2011

Capítulo 17

Cedendo à nova exigência de Pedro, Daniela organizou na perfeição os planos para a ida ao Algarve. A inicio, quando os pais a informaram de que tinha o apartamento à sua disposição, o seu primeiro impulso foi convidar o melhor amigo, o que a deixou num impasse porque se lembrou de Susana. Mas uma coincidência feliz permitiu-lhe não abdicar da companhia do rapaz, afinal este iria de uma maneira ou de outra, com a família. Além disso, Pedro queria muito conhecer a loura, para horror da morena. A primeira e última pessoa que tinha apresentado ao rapaz havia sido Tomás, que tinha sido muito do agrado de Pedro.
Era, portanto, a oportunidade perfeita para os apresentar. Embora soubesse, à partida, que a loura estaria na sombra de Tomás, tinha esperança que se dessem bem. Tendo isto em mente, estacionou o carro num local próximo do apartamento e, com um suspiro enfastiado disse, “Já chegámos, finalmente”
Saíram do carro e Susana propôs que, depois de se instalarem e de descansarem um pouco, fossem dar um mergulho à piscina. Depois de se acomodarem, a morena fez o almoço e permitiu que a outra se sentasse no sofá entretanto. Para si, a rapariga pensou no quanto o facto de cozinhar para alguém que não iria servir de grande ajuda em lides domésticas e se encontrava sentado, a enervava, visto que era a favor da repartição de tarefas. Mas como a loura não estava ainda em condições de fazer grandes esforços, abriu uma excepção. Até porque sabia o quanto esta detestava não puder ajudar. Colocou o prato no colo da outra e aninhou-se no sofá junto a esta.
Logo após terem despachado a refeição, Daniela encostou-se ao peito de Susana, enquanto esta lhe colocou a mão na cintura e lhe foi desenhando círculos inexistentes na pele. Às tantas, a loura, com a outra mão, segurou o queixo da rapariga e, após tê-la olhado nos olhos afectuosamente, beijou-a. Beijo esse que não era mais que um encostar de lábios a início mas que depressa se intensificou, encontrando-se já a morena a deitar a outra por baixo de si. Depois de se ajustar de modo a não magoar a loura com o seu peso, a rapariga sentou-se sobre esta, voltando a beijá-la. Susana interrompeu o beijo apenas para colocar uma ponta do cabelo de Daniela por trás da orelha e para lhe murmurar “amo-te”. A morena sorriu-lhe e disse “Ich liebe dich auch, meine Suβe”, dando-lhe uns “beijinhos à esquimó”, que lhe valeram uns risinhos por parte da loura.
Ficaram onde e como estavam durante mais algum tempo, ocasionalmente trocando uma carícia ou um beijo. Limitaram-se apenas a aconchegar-se uma na outra, desfrutando da companhia uma da outra. Durante esses momentos, aproveitaram para dialogar, afinal não se conheciam há assim tanto tempo nem tão bem assim. Daniela verificou as horas no telemóvel e constatou que tinham passado cerca de três horas, o que a fez estranhar pois estava capaz de jurar que só tinha passado uma no máximo. Deu uma chapadinha muito leve na face de Susana para a acordar, esta adormecia sempre que deitava a cabeça no colo da rapariga enquanto esta lhe afagava o cabelo.
“Acorda Suse”, sussurrou a morena, dando-lhe um beijinho no pescoço, “Não querias ir à piscina?”
A loura abriu os olhos muito a custo, murmurando qualquer coisa incompreensível. Devagar, levantou-se, apoiada na rapariga, encaminhando-se até ao quarto. Daniela baixou o olhar enquanto Susana se vestia, ainda não se tinha habituado aos efeitos que o corpo da outra lhe provocava…Quando esta estava pronta observou, enternecida, o rubor que tinha surgido na face da rapariga, mas não a picou desta vez. Depois de estarem prontas dirigiram-se à piscina por fim. A morena sentiu-se perfeitamente à vontade, visto que ali não conhecia ninguém, por isso não se fez rogada em dar a mão à outra depois de se atrever a beijá-la em público, que pareceu satisfeita pela nova desinibição da rapariga.
Ao chegarem à piscina, colocaram as coisas junto às respectivas cadeiras, e dirigiram-se para a água. Apesar de estar um dia de calor, Daniela era friorenta, por isso preferiu entrar na água com um mergulho. Já Susana não se podia dar ao luxo de fazer o mesmo, sentando-se antes na borda da piscina. A rapariga nadou até à borda, ficando nesta com a cabeça deitada sobre os braços cruzados, junto à loura, enquanto esperava que esta se decidisse a mergulhar. Quando a outra finalmente o fez, a morena juntou-se a ela.
Para desconforto de Susana, aqueles momentos eram, para si, dejá vu daqueles que partilhara com Mónica. Não tendo grande margem de opção, a loura preferiu distrair-se com Daniela e ignorar a sensação gélida que se fazia sentir no seu peito. E assim a tarde na piscina passou, com ambas simplesmente a brincarem. A temperatura começou a arrefecer, o que fez com que ambas tivessem que ir embora, após terem estado um pouco na toalha. Voltaram para o apartamento, decidindo tomar um banho antes do jantar.
“Queres ser tu a tomar primeiro enquanto eu faço o jantar?”, perguntou Daniela.
Susana sorriu de modo travesso. Não foi preciso verbalizar aquilo em que estava a pensar para que a rapariga percebesse a ideia, “Nem penses…”
“Ai penso sim”, retorquiu a outra, ainda a sorrir mais ao ver a face da morena a ficar escarlate, “Até parece que nunca te vi nua antes”
Daniela resmungou mas não retaliou quando a loura a puxou para a casa de banho. Com um arrepio de antecipação, preparou-se para ver a outra começar a tirar a camisola. Desde sempre que tinha sido tímida e era, sem comparação, a menos experiente na relação, mas desta vez queria provar a si própria que era bem capaz de tomar a iniciativa e surpreender a outra.
“Espera, eu faço isso”, disse a morena, aproximando-se de Susana e colocando-lhe as mãos em torno da cintura para lhe tirar a camisola. A loura pareceu contente pela iniciativa da namorada e ajeitou-se de modo a facilitar-lhe a tarefa. Quando a outra ainda tinha os braços no ar e as mãos presas pela camisola, a rapariga beijou-a. Susana apressou-se a corresponder, atirando a camisola para o chão e pondo as mãos na cintura de Daniela, puxando-a mais para si. A rapariga desistiu de despir a loura por um momento e colocou-lhe os braços em torno do pescoço, enquanto as mãos da outra lhe exploravam o corpo. Quando voltaram à cintura, foi a vez de Susana lhe tirar a camisola e de Daniela lhe desfazer o nó que lhe segurava as calças largas de pano, que lhe caíram em volta dos tornozelos.
A loura não se fez rogada em lhe desapertar o botão dos calções, removendo-os. Quando chegou a parte da roupa interior, Susana não teve o menor problema em tirar a da morena, fazendo-o, embora com a maior das naturalidades, mantendo sempre um contacto visual intenso. Quando foi a rapariga a fazer o mesmo, esta pareceu um pouco hesitante, embora o tivesse feito sem complicações. Mas após estarem ambas integralmente nuas, Daniela pegou na mão da loura e puxou-a para debaixo do chuveiro. Apesar da desinibição que sentia, não pôde senão sentir-se surpreendida perante as acções da outra, que a comprimiu entre a parede fria e o seu corpo quente.
Susana começou a beijar-lhe o pescoço, não o mordendo, o que fez cócegas a Daniela. Sorriu-lhe ao ter levantado a cabeça para a olhar nos olhos. A maneira como esta estava encostada à parede com o cabelo molhado e as pequenas gotículas de água a escorrerem-lhe pela face era-lhe dolorosa, mas naquele momento a loura sentia-se demasiado bem com a pessoa com quem estava para se importar. A morena mordiscou-lhe ao de leve a parte debaixo da orelha, algo que sabia que a outra apreciava. Mesmo sabendo que Susana havia recuperado a confiança, Daniela não pôde deixar de arregalar os olhos ao que a outra fez a seguir.
Susana colocou o joelho entre as pernas da morena, fazendo alguma pressão. Daniela ficou sem fôlego por uns instantes, mas recuperou depressa e roçou-se sobre este, de modo a criar fricção. Sempre tinha sido uma das actividades que mais prazer lhe dava, estava a ficar com a respiração ofegante, não demorando nada a ficar em êxtase. A loura apercebeu-se disso e retirou o joelho, substituindo-o pela mão. Ainda receosa pela dor que sentira da última vez, a rapariga segurou-lhe a mão.
“Não te vou magoar, prometo”, disse Susana, beijando Daniela, de modo a confortá-la, “Confia em mim”
A morena largou-lhe a mão e deu-lhe permissão. A outra começou por fora, fazendo-lhe movimentos circulares. A rapariga colocou a cara no ombro da loura e mordeu-lhe o ombro. Pouco tempo depois, Susana finalmente meteu um dedo, tencionando avaliar a reacção de Daniela. Esta não pareceu estar com dores, por isso, a outra colocou outro, tentando uma abordagem mais violenta. A rapariga fechou os olhos e segurou-se aos ombros de Susana, desta vez só tinha tido um ligeiro desconforto inicial mas rapidamente estava a ter tanto, senão mais prazer do que quando se roçara.
Abriu os olhos apenas para ver o olhar da loura directamente fixado no seu. Enquanto a sensação de prazer aumentava, a morena não conseguiu desviar o olhar do da outra, que por sua vez parecia determinada em não perder uma única expressão de prazer da rapariga, que lhe colocou uma perna em torno do corpo. Pouco depois, quando a morena finalmente atingiu o clímax, a outra segurou-a num abraço apertado.
“Suse…”, suspirou Daniela, com as pernas a tremerem, quase caindo se não fosse a outra a segurá-la, “Amo-te”
Susana beijou-a ternamente e permitiu que ambas terminassem o duche normalmente. Durante esse tempo, a rapariga reparou que a outra mantivera as pernas sempre juntas. Quando a questionou sobre isso, a resposta deu-lhe imensa vontade de rir, vontade essa que abafou a todo o custo.
“Estou bem…estou só um bocadinho coiso por causa do que acabámos de fazer”, admitiu Susana, rindo-se, “Se quiseres podes ir fazendo o jantar enquanto eu…”
“…enquanto tu?”, picou a morena. Tinha percebido e bem, mas adoraria ouvir a loura dizer.
“Não acredito que me vais obrigar a dizer…”, disse a outra, ainda a rir-se, “…Enquanto eu resolvo isto aqui”
Ao ouvir isso a rapariga não conseguiu conter o riso, riu-se ainda um bom bocado até que se acalmou e falou com a maior das seriedades, “Posso ajudar-te com isso, se quiseres”
Ao ouvir isto, os olhos da loura brilharam, “Estás a falar a sério?”
“Quer dizer, não sei se consigo, mas posso tentar…da outra vez não retribuí o favor”, murmurou Daniela, corando um pouco.
“Não tens que fazer nada que não queiras”, assegurou Susana, abraçando a namorada.
“A sério, eu quero”, assegurou a morena. Daniela pegou na mão de Susana e encaminhou-as para a cama, empurrando esta para lá e sentando-se sobre esta.
Beijou-a intensamente, antes de executar o que tinha em mente. Naquele momento arrependeu-se amargamente de não ter aceite a exemplificação de Marta, quer fosse a sério quer não. Ia ter que improvisar tudo, nem se lembrava de como a loura tinha feito. Quando a loura abriu as pernas Daniela pôde ver em primeira mão porque é que a outra estava a manter as pernas juntas.
Começou com calma, apenas para se habituar. Afinal não se tratava de algo que sempre se imaginara a fazer, embora não fosse tão desagradável como pensava. A loura estremeceu e pediu-lhe que se apressasse, não queria, precisava daquilo. A morena decidiu não a fazer esperar mais, sendo o mais delicada possível. Pouco depois, quase que por instinto, os movimentos saiam-lhe com naturalidade. E o facto de a outra lhe ter agarrado o cabelo e de a ter mantido presa era indicativo de que estava a ser bem sucedida. O seu súbito sucesso foi o incentivo que precisava para dar o seu melhor, de certa forma gostava do facto da loura não gemer baixo. Susana não aguentou muito tempo, gritando o nome da rapariga.
“Para primeira vez não está mesmo nada mau”, disse a outra, ainda ofegante, “Então com prática…”
“Não te ponhas com ideias”, brincou Daniela, “Agora se me dás licença, tenho que ligar aos meus pais”
Pegou no telemóvel que se encontrava na mesa-de-cabeceira, ligando à mãe. Esta atendeu pouco depois, parecia bem-disposta.
“Sim mãe, está tudo…”, estava a rapariga a dizer quando Susana aparece mesmo à sua frente, com um sorriso enorme, assustando-a, “…bem”
“Olá sogra!”, cumprimentou ela, um tanto em voz alta, sempre a rir. A morena viu a vida a passar-lhe em frente dos olhos e apressou-se a calar a loura com um caldo.
“Sim, está tudo bem, tenho é que ir jantar. Até amanhã, beijinhos”, despediu-se a rapariga, olhando para a outra com um ar ameaçador. Mal desligou, voltou-se para esta, “Tu estás parva?!”
“Calma, estava só a brincar um bocadinho…”, disse Susana. Não pensou que a morena fosse levar tão a mal.
Daniela nem respondeu, deixou Susana e dirigiu-se à cozinha para despachar qualquer coisa para jantar. Qualquer coisa e diria à mãe que tinha sido na brincadeira, mas detestaria dar a entender que se passava algo e o tom com que a mãe repetiu a pergunta não a deixou tranquila. Até porque a mãe pensava que esta estava com outra amiga que não Susana. De modo a puder ir tivera que a enganar, algo que não a deixava em paz consigo própria. Pouco depois a loura veio ter consigo, com o seu ar de cachorrinho abandonado. Colocou os braços à volta da cintura da rapariga, apoiando a cabeça no ombro desta.
“Estava só a meter-me contigo”, disse Susana, beijando o pescoço de Daniela, “Não te queria deixar chateada”
A rapariga beijou a bochecha da loura antes dizer, “Não estou chateada, mas não quero dar a entender nada à minha mãe e ela ficou desconfiada”
“Já era para te falar sobre isso há algum tempo”, prosseguiu a outra, apertando a morena nos seus braços, “Não estás a pensar contar-lhe?”
Nesse momento Daniela soltou-se do abraço da namorada e olhou para esta como se tivesse duas cabeças. Com um suspiro Susana limitou-se a dizer “Isso responde à minha pergunta…”
“Eles não aceitariam…”, sussurrou a rapariga, quase sem voz. A verdade é que não tinha posto ainda essa hipótese e se apresentasse uma namorada aos pais, no mínimo seria castrada.
“Só tinham era que aceitar, o importante é a tua felicidade”, reconfortou-a a loura, abraçando a rapariga.
A morena agarrou-se mais à outra, procurando conforto nos braços desta. Susana aconchegou-a melhor junto a si e beijou-lhe a testa, dizendo, “Gostava que lhes contasses…”
Daniela olhou para a loura, desta vez sem expressões de horror. Sabia que a outra ainda não tinha acabado de falar, apenas estava a tentar explicar-se, por isso deixou-a prosseguir.
“Sabes, a Mónica sempre fez os possíveis para manter a nossa relação em segredo…”, contou Susana, ainda com a cara encostada ao cabelo da rapariga, “Só dois amigos meus é que sabiam, para além da minha avó. Ela nem me deixava estar com os amigos dela e no fim ainda me fez passar por mentirosa”
“Susana…”, murmurou Daniela, olhando para esta directamente, “Não merecias mesmo ter passado por isso…”
“Se ambas estamos empenhadas na relação não temos motivos para namorarmos às escondidas”, continuou a outra, mantendo a morena agarrada pela cintura, “Não tenhas vergonha de nós…”
“Não tenho vergonha de nós…sabes que neste momento não te trocava por nada nem ninguém”, disse a rapariga, colocando os braços em torno do pescoço da loura, aproximando-as, “Mas os meus pais não fazem a mínima ideia, ia destroça-los”
“Pronto, já percebi que ainda não estás preparada, não faz mal”, sussurrou-lhe Susana ao ouvido, passando-lhe a mão pelas costas, de modo a tranquiliza-la, “Quando contares e se alguma coisa correr mal lembra-te que não estás sozinha, eu estou ao teu lado aconteça o que acontecer”
Daniela deixou-se simplesmente ficar abraçada pela outra, naquele momento não queria pensar no futuro. O som da água a ferver lembrou-a do jantar que estava a preparar. Rapidamente o acabou de cozinhar enquanto a loura se sentava e ambas comeram. As coisas pareciam normais, pelo menos não voltaram a tocar no assunto. Essa foi a primeira noite em que pôde dormir com Susana sentindo-se perfeitamente em paz, como se nada no mundo a pudesse atingir naquele momento.

domingo, 3 de abril de 2011

Capítulo 16

(Última tentativa, retribuo todo e qualquer comentário que deixarem)

Daniela acordou com o maior sorriso de contentamento que conseguiu esboçar sem danificar a cara. Dormira a noite inteira sem as suas habituais insónias e já não se encontrava dorida do dia anterior. Depois da desastrosa conversa com Pedro (talvez não tão catastrófica assim, visto que já conhecia o rapaz há doze anos, sabia bem como lhe dar a volta) ainda pensara em ligar a Susana mas como não sabia quando é que esta estaria acordada decidiu esperar. De hoje não passava, de qualquer forma tinha que ir lá a casa, portanto juntaria o útil ao agradável.
Uma olhadela rápida ao relógio despertador permitiu-lhe notar que dormira a manhã toda, já sendo horas de almoço. Como não tinha os pais por casa decidiu fumar o seu cigarro antes de mais nada, depois tomou banho com a maior das calmas e almoçou algo leve (coisa que só se podia dar ao luxo quando a mãe não lhe tinha uma arma apontada à cabeça para a obrigar a alimentar-se substancialmente). Pegou no carro e dirigiu-se a casa de Susana, certificando-se que ia pelo caminho mais longo, porque ainda queria reflectir sobre o que se passara em paz.
Primeiro tinha que admitir que aquele cabrão de merda do Pedro tinha razão. Perder a virgindade com uma rapariga nunca tinha estado nas suas previsões. Apesar de ter desfrutado das experiências lésbicas que tinha tido, sempre se imaginara a acabar com um colega advogado, pouco atraente mas capaz de lhe proporcionar uma vida confortável. Pelo recente desenrolar dos acontecimentos, era provável que fosse ficar com “uma pobretanas que não tem onde cair morta mas pelo menos é boa”, como Pedro tão eloquentemente dizia. Não queria criar expectativas, mas até àquele momento não tinha razões de queixa.
Finalmente chegou à casa da loura mas, no momento em que estava para colocar a chave na fechadura, detivera-se. Estava com alguma vergonha de ter que enfrentar a outra…ainda por cima estava a ter flashbacks do primeiro beijo lésbico que dera. Tinha sido com Sofia, uma amiga próxima. Nesse dia tinha tido um pique culminante de bazófia para a conseguir beijar em frente a uma multidão num centro comercial em época de Natal. Bazófia essa que não durou muito e quando esgotou, Daniela não conseguira encarar Sofia, virando-lhe as costas e dispersando-se no meio da multidão. Até aos tempos que corriam ainda se arrependia.
Respirando fundo, ganhou coragem para entrar dentro de casa. Por muito tempo que lá passasse nunca se habituaria ao cheiro a mofo/humidade característico do sítio. Antes de nada, dirigiu-se à sala para cumprimentar a avó, que a recebeu de braços abertos como era hábito. Todo este tempo esteve com um nervosismo imenso por ter que falar com a outra dentro de momentos. Após ter feito conversa de circunstância com a senhora, dirigiu-se ao quarto de Susana, que parecia acabada de acordar.
“Boa tarde”, disse Daniela, sorrindo feliz embora timidamente. Não sabia bem como agir, optando por se manter de pé, a alguma distância da cama onde a loura estava.
“Hm, mor…”, murmurou Susana, que tinha acabado de acordar. Estava a fazer um esforço enorme por manter os olhos abertos e a cabeça erguida, “…mos que falar sobre ontem, não ‘chas melhor?”
“Sim…claro”, respondeu a morena, que já tinha matutado sobre a melhor maneira de abordar o assunto. Sentou-se na borda da cama, junto à loura, que estava ainda a fazer os possíveis por acordar.
“’Tás bem?”, perguntou Susana, com uma expressão séria, dificultada pelo sono. Era agora, não havia como escapar, mesmo que quisesse. A conversa era necessária.
“Óptima”, disse Daniela, sorrindo sinceramente, “Digo-to com toda a franqueza”
“Estava mesmo a precisar de ouvir isso”, suspirou a loura, só agora verdadeiramente aliviada desde que tinha acordado na noite anterior, “Posso perguntar-te outra coisa?”
“Claro que sim”, assegurou a morena, acariciando a face da outra.
“Não te desapontei?”, questionou Susana, um pouco a medo. O seu lado mais paranóico estava a fazê-la duvidar tanto da sua aparência, afinal tinha passado uns bons tempos de cama, como da sua prestação, mesmo que tivesse bastante prática.
“Em que aspecto?”, perguntou Daniela, a ambiguidade da questão em si baralhou-a.
“O…acto em si…”, esclareceu a loura, roçando a cara na mão da namorada.
“Admito que não correspondeu ao que eu sempre tinha imaginado, nunca pensei que viesse a ser com uma mulher”, confessou a rapariga, sorrindo ternamente em resposta à expressão nervosa da outra, “Mas não mudava nada, foi melhor do que alguma vez poderia ter sonhado”
“Nem sabes como fico feliz”, disse Susana, sorrindo daquela maneira que derretia a morena, exibindo em glória as suas covinhas, “E em relação a…”
“…a?”, encorajou Daniela, não sabendo mesmo que mais poderia ser.
“…em relação a mim”, concluiu a outra, com um suspiro. Desde sempre que tinha sido confiante, mas depois do acidente e do tempo que ficou de baixa, já não tinha tantas certezas.
Desta vez a morena não conseguiu controlar um riso que lhe escapou dos lábios, nunca lhe teria passado pela cabeça que a loura estivesse insegura. “Foste tão cuidadosa e fizeste-me sentir tão bem que não podia ter pedido mais nada”
“Acredita, é óptimo saber isso, não ia conseguir viver comigo própria se te tivesse magoado demais”, proferiu Susana, “Mas referia-me à minha pessoa”
“Não acredito que me perguntaste isso”, disse Daniela, ainda mais admirada do que antes, não fosse a expressão de seriedade na cara da outra, “És perfeita, não encontrei nada que precisasse de ser melhorado em ti”
A loura, que encontrou novamente a paz de espírito, puxou a namorada para si, beijando-a. “Amo-te”, disse, olhando-a com o ar mais terno.
Susana estava há tempo a mais para o seu gosto deitada, já conseguia andar com o auxílio de muletas. Além de que nunca tinha sido pessoa para ficar no inactivo. Foi isto que Daniela teve em consideração antes de lhe fazer uma proposta, proposta essa que já tinha considerado antes.
“Suse tenho uma surpresa para ti”, disse-lhe a rapariga, em tom travesso, “Mas para isso preciso que te vistas. Consegues andar, certo?”
Mal obteve a confirmação da outra ajudou-a a vestir-se e a caminhar até ao carro. A ideia de sair de casa desenhou um sorriso feliz no rosto da loura, para alívio da morena, que esperava a outra estivesse suficientemente forte. Durante a viagem, Susana nunca cessou de sorrir, aquele seu entusiasmo quase infantil continuava a enternecer Daniela, que de vez em quando a observava pelo canto do olho, não evitando, ela própria, sorrir também.
Cerca de meia hora depois, chegaram finalmente ao sítio pensado pela morena. Estavam, nada mais, nada menos, do que no parque de estacionamento junto ao café onde se tinham encontrado depois de se terem conhecido. Tal facto apenas intensificou o sorriso da loura, que apertou, ao de leve, a mão da rapariga que ainda se encontrava por cima do manete de mudanças. A morena desviou o olhar do volante para a outra, sorrindo-lhe antes de lhe beijar os lábios. Depois de a ter ajudado a sair do carro, caminharam até à praia, lentamente, tendo em conta que o caminho era acidentado.
Apoiando-se em Daniela, Susana conseguiu sentar-se, indicando a esta para se sentar ao pé de si. A morena assim fez, ficando a observar o mar enquanto matutava algo que a tinha andado a incomodar desde a conversa com a outra. Assim ficou até que a loura finalmente quebrou o silêncio.
“Obrigada por me teres tirado daquelas quatro paredes”, disse Susana, “Já não aguentava mais estar deitada”
“Ainda bem que gostaste da surpresa”, respondeu Daniela, ganhando coragem e decidindo finalmente falar sobre o que a importunava, “Olha…”
“Hm?”, questionou a outra, enquanto deitava a cabeça no colo da morena.
“…estavas tão insegura há bocado porquê?”, concluiu a rapariga, à medida que começava a afagar os cabelos louros da outra, “Compreendo que tenhas medo de começar a ficar em baixo de forma por teres que descansar, mas daí a teres tanto receio pela tua prestação…”
Susana corou um pouco, visivelmente envergonhada. Ainda abriu a boca para tentar falar mas não saiu nenhum som. Daniela, por muito curiosa que estivesse, preferia deixar o assunto cair no esquecimento do que constranger a loura. Optou, por isso, por lhe dar um beijo rápido e garantir que não tinha que falar sobre isso se a incomodava.
“Não…eu devia contar-te”, acedeu a outra, olhando a namorada nos olhos, “Só te peço que me ajudes, não me vai ser fácil”
“Claro, leva o teu tempo”, assegurou a morena, enquanto passava as unhas ao de leve no couro cabeludo da loura, daquela maneira que sabia que a tranquilizava, “Sou toda ouvidos”
“Só queria garantir que tinhas tido a melhor experiência possível porque…”, interrompeu-se ela, enquanto ponderava a melhor maneira de se fazer entender sem parecer egoísta ou patética, “…tenho medo de não te puder dar o que um gajo podia”
“Susana…”, disse Daniela, enternecida, “O género é irrelevante, no fundo só me interessa a pessoa que és, não há nada que um rapaz me pudesse dar que tu também não o dês, melhor que qualquer pessoa”
“Não digas isso, ainda é muito cedo”, retorquiu Susana, num tom melancólico, “Quando te fartares vais preferir um rapaz”
“Não sabes do que falas…”, murmurou a rapariga, chateada pelo auto-flagelo da loura.
“Olha que sei”, limitou-se a outra a responder.
“Tens a certeza?”, continuou a morena, agora curiosa, “Esclarece-me, se faz favor”
“Absoluta…lembras-te de te ter falado de uma namorada com quem estive três anos? Bem…”, prosseguiu Susana, contando a Daniela a infeliz situação pela qual tinha passado. Durante o relato, não pôde evitar que lhe caíssem umas lágrimas pelo rosto, lágrimas essas que a rapariga limpou com o polegar, enquanto ouvia atentamente. Por muito que custasse à loura tocar naquele assunto, sentia-se melhor por puder partilhar aquilo com a namorada. Durante esse tempo, a morena passou de chateada a culpada, por ter sido agressiva para com a outra. Passou-lhe a mão pela face e limitou-se a segurá-la, não sabendo como a consolar por palavras.
“Lamento imenso o que aconteceu com a Mónica, a sério que não merecias o que aconteceu…”, tentou Daniela, afagando o rosto da loura, tão ternamente quanto possível. “Não te posso prometer nada para além do presente e neste momento não desejo ninguém que não tu”
“Por enquanto é quanto me basta, não posso pedir mais”, disse Susana, sorrindo apesar dos seus olhos azuis vidrados.
A rapariga ponderou durante uns instantes antes de fazer uma nova proposta, ainda não tinha considerado a sério a hipótese mas, naquele momento, até que parecia boa ideia. Tinha por hábito ir todos os anos em Setembro uma semana para o Algarve com os pais, só que naquele ano tinham que trabalhar. No entanto disseram-lhe que podia ir (caso ligasse todos os dias, claro) e dar uso ao apartamento no condomínio. Parecia-lhe que a loura já se encontrava em condições de a acompanhar, caso aceitasse.
“Eu e os meus pais costumamos ir uma semana para o Algarve agora em Setembro”, disse a morena, ainda a decidir a melhor maneira de propor à outra. Primeiro queria testar a reacção da loura.
“Hm fazes bem, vai e diverte-te”, respondeu esta. O tom amargo com que o disse não passou despercebido à rapariga que sorriu para si. O facto de saber que a loura sentiria a sua falta era, de certa forma, um consolo para a sua auto-estima.
“Mas eles têm que trabalhar este ano”, continuou Daniela, com um sorriso travesso, “Estava a pensar se não gostavas de vir comigo”
Susana sorriu de orelha a orelha, abraçando a namorada. Escusado seria ter pensado duas vezes.