segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Capítulo 10


A data do festival aproximava-se e para Daniela tudo parecia ideal. Nunca havia sido pessoa para imaginar contos de fadas, mas se o tivesse feito, então não seria muito diferente da realidade. Tinha conseguido terminar o primeiro ano na faculdade com boas notas, deixando os pais orgulhosos, o que equivalia a regalias e liberdade extra. Fora isso o seu relacionamento com Susana não podia estar a correr melhor, a loura não cessava de a surpreender diariamente, sempre com um gesto carinhoso novo.
Felizmente os pais haviam-lhe dado permissão para ir sem grandes perguntas, muito para gratidão da rapariga, visto que não gostaria propriamente de dizer “ah e tal vou a um festival de dois dias com a minha namorada e fico na mesma tenda que ela”. A véspera foi passada a preparar a mochila com o que iria necessitar. A morena passou esse tempo com uma sensação de desconforto estranha, sensação essa que não soube identificar, apenas lhe pareceu má. Como um mau pressagio, visto que tudo lhe estava a correr demasiado bem ultimamente e, sendo a eterna céptica, não conseguia manter-se optimista sem estranhar.
No dia seguinte, acordou cedo de modo a ter tempo de verificar se tinha tudo quanto necessitava. Para seu desconsolo, a sensação de inquietação não desapareceu durante a noite, quando muito intensificara-se. Despachou-se e despediu-se dos pais antes de sair de casa, mas não sem as recomendações do costume, “Liga regularmente” e “não bebas álcool”. A rapariga revirou os olhos, ao sentir que lhe estavam a insultar a maturidade e, com mais um “até daqui a dois dias, prometo que ainda não é desta que morro”, saiu de casa.
Conforme havia sido combinado, encontrou-se com Susana no cimo da rua que, já tinha chegado, pontual como sempre. Embora tivesse pena, a morena não a pôde cumprimentar como gostaria, afinal estavam em plena vista de tudo e todos…em vez disso limitou-se a subir para a mota e a dar um beliscão amigável na cintura da outra. Arrancaram e, em meia hora estavam perto do local onde seria o concerto.
Susana tirou o capacete e soltou os cabelos dourados, que lhe caíram em cascata pelas costas ao mesmo tempo que lhe emolduravam o rosto. Tal visão lembrou demasiado bem Andreia, para mal de Daniela, que susteve a respiração durante uns instantes. Não era nem a altura nem o local para pensar demasiado nela, apesar de tais recordações terem sido pouco frequentes na mente da morena durante os últimos tempos.
A rapariga olhou em volta e decidiu arriscar um pouco, uma vez que, como tinham chegado cedo, o local estava razoavelmente vazio. Aproximou-se da loura e beijou-a ao de leve nos lábios, conseguindo assim, surpreendê-la.
“Isso era tudo saudades?”, perguntou ela com um sorriso rasgado, abraçando a namorada.
“Tantas que tu nem sabes”, brincou Daniela. Numa tentativa de se vingar na brincadeira, Susana segura firmemente a cintura da morena, impossibilitando-a de escapar e começa a mordiscar-lhe o pescoço,”Ai pára! Estás-me a fazer cócegas!”
O ruído de pessoas a chegarem chamou as raparigas à realidade, não estavam sozinhas e, mesmo que a loura não se importasse, a rapariga não queria dar a entender que se passava alguma coisa entre as duas. Separaram-se e caminharam para o acampamento, afinal apenas tinham umas horas para montarem tudo antes que os concertos começassem. Visto que estavam as duas de acordo com o local escolhido, trataram de tudo rapidamente. Quando acabaram, verificaram que já faltava pouco para o primeiro concerto.
“Posso dar-te a mão?”, pediu Susana com uma expressão séria. Daniela ainda ficou relutante em aceitar, porque já tinha reparado em demasiada gente conhecida para o seu gosto. Ainda assim, sabia o quanto magoava a outra manter a distancia em publico, por isso entrelaçou os dedos com os da loura, à medida que se encaminhavam para o local.
A multidão começou a aglomerar-se junto ao palco, sob o pique do calor proveniente do sol de Verão. Sempre de mão dada conseguiram furar por entre o público, encontrando um lugar com boa vista, que não era nem muito sobre lotado, nem muito agitado. Susana colocou o braço em torno da cintura da morena, aproximando-a de si. Daniela sentiu-se um tanto inquieta mas, após ter olhado em volta, apercebeu-se que as atenções estavam todas voltadas para a música.
“Estás a gostar?”, perguntou a loura, encostando os lábios ao ouvido da morena.
“Hm, sim…”, respondeu a rapariga, aconchegando-se melhor nos braços da outra. Um grupo de pessoas aproximou-se demasiado e começaram a chover encontrões. Se Daniela já estava a ficar incomodada com as cotoveladas, pior ficou quando lhe entornaram cerveja em cima. Depois de uns quantos “tem cuidado”, Susana colocou-se por trás da morena, com ambos os braços em volta do corpo desta, de modo a protegê-la da multidão agressiva.
“Obrigada”, disse a ela, sentindo-se confortável e admirada com o gesto da outra, “A ti não te está a incomodar?”
“Eu estou bem, só estava preocupada contigo”, respondeu a loura, dando um beijo na testa da rapariga.
Assim permaneceram até ao final das actuações, com a loura a servir de escudo à morena, de modo a que esta não fosse muito aleijada com os encontrões. Para Daniela, apesar de se sentir bastante tocada e agradecida por a outra demonstrar toda aquela atitude protectora, o gesto pareceu-lhe demasiado exagerado, como se a loura a visse como um objecto feito de vidro que se pudesse partir ao menor toque. Para Susana, o aspecto delicado da rapariga era algo enternecedor que simplesmente lhe despertava e realçava o seu instinto protector em relação aos demais, apesar de recear parecer “chata”.
Já se fazia tarde, os concertos daquele dia tinham acabado e as raparigas estavam a começar a sentir os efeitos de estar horas de pé. Susana finalmente soltou Daniela, apesar de permanecerem de mãos dadas. A morena propôs que voltassem para a tenda, uma vez que amanha era outro dia de concerto e convinha descansarem. Apesar de ter vindo a passar bastante tempo com a outra, a rapariga não pôde deixar de se sentir nervosa perante a ideia de ter de dormir com a outra.
“Estás tão calada, passa-se algo?”, perguntou Susana, à medida que se encaminhavam para a tenda.
“Oh não é nada…”, respondeu Daniela, não lhe apetecia exteriorizar as suas preocupações.
A loura achou melhor não insistir, a morena dir-lhe-ia o que se passava quando fosse altura. Ou talvez estivesse só cansada. Tentou abrir o fecho da tenda apenas com uma mão, já que a outra permanecia entrelaçada com a da rapariga, mas estava complicado. Quando finalmente conseguiu, ao entrar tropeçou e, sem se puder apoiar convenientemente, caiu, arrastando-a consigo. Daniela aterrou, não graciosa nem levemente, em cima de Susana, que parecia dividida entre rir-se com o comício da situação e queixar-se de dores.
“Ai, desculpa!”, apressou-se a morena a dizer. Apesar de se sentir bastante aliviada por a loura lhe ter amortecido em grande parte a queda, não pôde deixar de se sentir mal por a ter aleijado, “Estás bem?”
“Porra, dói um bocado, não é?”, queixou-se a outra, por entre risos. Ajeitou-se melhor, pondo-se mais confortável por baixo da rapariga e continuou, “Não me queres fazer uma massagem?”
“Não sei fazer massagens decentes, mas posso sempre tentar”, disse Daniela, sentando-se em cima das nádegas de Susana, com as pernas uma de cada lado, de modo a não fazer muito peso, “Tens é que tirar a t-shirt”
A loura assim o fez, ficando em tronco nu e apoiou a cabeça sob os braços cruzados, enquanto esperava que a morena prosseguisse. Esta não demorou muito e começou por colocar ambas as mãos nos ombros da outra, contornando-os e pressionando ao de leve. Susana gemeu ao de leve e pediu a Daniela para continuar. Foi o que fez, desta vez descendo um pouco mais, passando as mãos pela coluna da loura, até que embateu no soutien.
“Olha, posso só desapertar?”, questionou a rapariga, obtendo apenas um murmúrio afirmativo como resposta, por parte da outra.
Desapertou-o sem grandes pressas, continuando com a massagem. Desceu ainda mais, até à zona onde tinha acertado com o cotovelo durante a queda. Estava um pouco vermelho, mas nada de mais. Passou as mãos por essa área e sentiu Susana tremer um pouco, por baixo de si. Colocou a outra mão na parte magoada, visto que essa estava fria, de modo a suavizar a dor. Aparentemente foi bem sucedida, pois a loura não voltou a demonstrar dor. Após ter concluído a massagem, beijou o ombro da outra, ao de leve, antes de se deitar ao lado desta.
“Tens que me cair em cima mais vezes”, brincou Susana, inclinando-se para agradecer à Daniela com um beijo. Esta retribuiu, sempre à sua maneira recatada e tímida, beijando-a devagar e levando o seu tempo. Quando o beijo se intensificou, a loura, que não tinha voltado a apertar o soutien, deitou-se por cima da morena, apoiando-se num joelho que colocou entre as pernas da rapariga e nos braços que manteve acima dos ombros desta, de modo a não a pressionar demasiado com o seu peso.
Daniela raspou as unhas ao de leve nas costas de Susana, tendo o cuidado de não a arranhar. Sentiu ansiedade e um certo nervosismo, mesmo tendo em consideração o facto de já ter estado em situações quase extremas com a loura. Sensação essa que apenas se intensificou quando a outra começou a beijar-lhe o pescoço e acertou numa zona mais sensível.
A morena arrastou as unhas com um pouco mais de força, conseguindo um gemido por parte da outra, que mordeu com alguma força naquele mesmo ponto no pescoço. A rapariga permitiu-se deixar apenas desfrutar as sensações, enquanto deixava que a outra fizesse o que bem lhe apetecesse. Esta começou a brincar-lhe com a camisa, apertando-lhe o peito e acariciando-o.
“Não estou a ir depressa demais?”, perguntou Susana, afogueada, olhando Daniela nos olhos, parando o que estava a fazer por uns momentos. Este olhar era idêntico ao de Andreia nos escassos momentos em que não apresentava a sua imagem imponente. Tal parecença fulminou qualquer tipo de pensamento coerente que a morena pudesse estar a tentar ter.
“Continua, está bem assim”, respondeu a rapariga, voltando a beijar a loura, desta vez sem a sua calma característica, mas sim com alguma necessidade. Empurrou Susana de cima de si e montou-a, surpreendendo-a com a sua súbita tomada de iniciativa.
A outra puxou-a para si e beijou-a com igual necessidade, antes de lhe tentar desatar o nó da camisa. Daniela apercebeu-se que esta estava com alguma dificuldade em fazê-lo, portanto, com um sorriso, fê-lo por ela, tirando a camisa. Foi a vez da loura sorrir, passou as mãos pela cintura da morena, sentindo-lhe os contornos. Esta num só movimento sem hesitações, removeu o soutien da outra, atirando-o sem saber para onde.
Susana apertou-lhe o peito novamente, antes de desapertar o soutien da rapariga. Mais uma vez, esta facilitou-lhe a tarefa e inclinou-se para a voltar a beijar. A outra retirou-a de cima de si, deitando-a de costas, voltando a colocar-se tal como estavam antes. Daniela estremeceu um pouco ao sentir o joelho da loura de volta entre as pernas, agora um tanto mais próximo.
“Estás bem?”, perguntou Susana. O estremecer de Daniela não lhe passou despercebido e, apesar de já não estar com ninguém há algum tempo, a ultima coisa que queria era fazer algo que a rapariga não quisesse.
“Não te preocupes”, murmurou a morena, estava a adorar cada instante, ainda que sentisse algum nervosismo.
A outra sorriu e beijou-a ao de leve nos lábios, passando depois para o pescoço. Daniela fechou os olhos por um momento, apenas para saborear a sensação, Susana era tão cuidadosa, embora ao mesmo tempo não hesitasse. A loura beijou o peito da rapariga, trincando ao de leve. Tal como previra, a morena era particularmente sensível aí. A rapariga manteve os olhos fechados, enquanto a outra continuou, estava a gostar demasiado.
“Hmm…Andreia”, gemeu Daniela, involuntariamente. Ainda que estivesse concentrada no que Susana lhe estava a fazer, não pôde evitar pensar no seu antigo amor.
Foi como se o tempo tivesse parado e a temperatura tivesse caído dos quarenta para os quinze graus negativos. Daniela ficou estática de olhos arregalados, incapaz de articular qualquer palavra ou de se mover. Susana parou o que estava a fazer e ergueu a cabeça, olhando para a morena fixamente, com uma expressão horrorizada. De seguida, pareceu engolir um soluço e, com um nó na garganta, levantou-se, procurou a camisola, que vestiu apressadamente e, dirigiu-se à entrada da tenda.
A rapariga recuperou a consciência nesse momento e, perdendo apenas um segundo para se repreender mentalmente a si própria, levantou-se, puxando a camisa esquecida para cima de si. Ao alcançar a loura, colocou-lhe a mão por cima do ombro, sentindo a outra tremer. Esta, voltou-se para Daniela que, retirou prontamente a mão quando enfrentou aqueles olhos azuis vidrados.
“Não…não posso mais com isto”, soluçou Susana, à medida que as lágrimas lhe caiam pela cara.
“D-desculpa, Susana”, gaguejou Daniela, para si cada lágrima da outra era como uma estalada que levava. Apesar de ter a consciência que não gostava tanto da loura como deveria, saber que lhe estava a causar tanto sofrimento era demais. Voltou a tentar colocar a mão sob o ombro da outra…apenas para ser enxotada com estalo.
“Quero ficar sozinha”, disse Susana, por entre soluços. Saiu da tenda em passos rápidos e depressa desapareceu na escuridão da noite.
A morena, após ter recuperado do choque, suspirou e massajou as têmporas. Não podia perder muito tempo, mesmo não sabendo como resolver a alhada em que se meteu, tinha que pelo menos tentar, não podia deixar a outra naquele estado. Vestiu a camisa e saiu também da tenda, ainda conseguia avistar a loura ao longe. Encurtou a distância que as separava com uma corrida, até que a alcançou, já ofegante. Num momento de bazófia cega, agarrou o braço da loura, obrigando-a a encará-la nos olhos.
“Susana, espera!”, pediu Daniela, já a perder a coragem a olhos vistos, “Deixa-me explicar, depois deixo-te ficares sozinha”
A rapariga não sabia ao certo aonde a conversa a iria levar, queria que tudo voltasse ao que era dez minutos antes, embora na melhor das hipóteses apenas conseguisse, talvez, acalmar a outra o suficiente para que voltasse. Aparentemente, só conseguiu fazer com que Susana passasse de destroçada a enraivecida, ou talvez um misto das duas.
“Não me toques!”, gritou Susana, dando um estalo em cheio na face da morena.
Daniela não estava a contar com um impacto tão forte, mesmo considerando que não era uma pessoa de grande estatura e que a outra era um tanto maior. A morena desequilibrou-se e caiu para trás, embora estivesse mais incomodada com a dor que sentia na cara. Levou a mão à bochecha atingida e comprimiu um pouco, até que sentiu algo liquido a escorrer-lhe por entre os dedos. Ao observar a mão viu que estava coberta de sangue, sangue esse que lhe escorria em quantidades alarmantes do nariz.
“Dani, desculpa!”, assustou-se Susana, voltando a si ao deparar-se com o que acabara de causar, levando as mãos à cara, “Eu não queria…”
A rapariga ignorou a outra por um momento, apenas para se certificar que estava bem. Durante um par de minutos tentou estancar a hemorragia, conseguindo fazê-lo. Fora mais o susto que qualquer outra coisa. Limpou-se e só então falou:
“O estalo foi completamente desnecessário…”, disse ela. Se algo de positivo adveio daquele incidente infeliz, então decerto que foi o facto de ter servido para acalmar a loura.
“Não queria mesmo tê-lo feito…”, continuou a outra, ainda com as mãos na cara, “Por favor desculpa”
“Deixa, já passou”, tranquilizou-a Daniela, segurando-lhe as mãos, “Podes só ouvir-me, se faz favor?”
Susana limitou-se a baixar o olhar e a acenar afirmativamente com a cabeça. A morena reparou que a outra não a tinha afastado, o que só por si já era uma conquista. Ponderou durante um pouco sobre a melhor maneira de se justificar, se é que o que tinha feito era digno de ser explícito por uma justificação minimamente plausível. Por fim, com um suspiro cansado, como se tivesse acabado de correr uma maratona, começou:
“Antes de mais, tenho que te pedir desculpa”, disse ela, com toda a honestidade, “Tens sido óptima para mim, não podia exigir mais de ti, tens tido imensa paciência e feito tudo por mim, e é assim que te trato…”
A loura ergueu o olhar, fitando a rapariga directamente, mas sem nada dizer. Limitou-se a aguardar que esta continuasse, apenas apertando-lhe as mãos como que a encorajá-la.
“Simplesmente não mereces isso”, acrescentou a morena, um tanto abalada por se ver obrigada a encarar o olhar implorante e magoado de Susana, “Não te posso pedir que compreendas, quanto mais que me perdoes”
“Só te peço que sejas honesta”, sussurrou a loura, num tom quase inaudível, como se lhe fosse faltar a voz.
“Gosto muito de ti, isso é certo e digo-to honestamente”, prosseguiu Daniela, com um sorriso fraco, “Mesmo que não possa dizer que te ame, pelo menos por enquanto”
Diante de si, Susana estremeceu, ainda que não se tivesse manifestado mais.
“Tenho a certeza que o viria a fazer, se me desses mais uma oportunidade, mas não posso pedir-te isso, não depois do que fiz”, disse a morena, apertando as mãos da outra nas suas, como se de repente a loura se fosse desvanecer à sua frente, “Mas entende que amei a Andreia incondicionalmente, mais do que era razoável, tendo em conta que nunca fui correspondida”
Foi nesse momento que Susana foi abaixo nos seus braços. Como uma tempestade que se abateu sobre o mar, lágrimas caíram-lhe tortuosamente dos seus olhos azuis. Daniela nada pôde fazer senão segurá-la, passando-lhe a mão pelas costas, de forma a tentar reconfortá-la.
“Shh, um dia talvez venha a sentir ainda mais por ti, de maneira mais especial, já que contigo posso estar”
“Dou-te as oportunidades que precisares, estou disposta a tanto”, soluçou a loura, tremendo violentamente, “Vales assim tanto”
“Não posso exigir isso de ti, já passaste por suficiente”, soluçou Daniela que, ao escutar as palavras proferidas pela outra, não conseguiu segurar mais as lágrimas, “É egoísta da minha parte, mas não te quero perder”
“Mesmo que não tenhas esquecido a outra completamente, não consigo acabar com o que temos”, continuou Susana, puxando a morena ainda mais para si, se é que tal coisa era possível, “Apesar de só estarmos juntas há pouco tempo, és demasiado importante para mim”
A rapariga enterrou a cara no pescoço da loura, sentindo o cheiro desta, “Prometo-te que um dia vou gostar tanto de ti como mereces”
Susana retirou a cara da morena no seu pescoço e olhou-a nos olhos com intensidade, olhar esse ao qual Daniela correspondeu. Naquele momento foi tudo dito. Não foi possível determinar quem tomou a iniciativa, talvez ambas. Beijaram-se com mais necessidade do que alguma vez o tinham feito, agarrando-se como se temessem que a outra desaparecesse. Da mesma forma que não souberam quem começou, também não souberam quanto tempo durou. Só voltaram à realidade quando um grito lancinante lhes pôs fim ao momento:
“DANI!”
A morena largou prontamente a loura, alarmada. Demorou uns instantes a reconhecer a pessoa que tinha gritado, graças à escuridão em que se encontravam, mas reconheceu-o. Tratava-se de Fábio, o filho de uns amigos dos seus pais, amigos esses com quem se davam bastante e até chegaram a organizar almoços juntos. E dizer que o rapaz estava estupefacto seria o eufemismo do século.
Daniela respirou fundo…já eram demasiadas emoções para uma noite só. Sentiu pânico irromper-lhe do peito, perante a possibilidade de Fábio comentar algo com os pais, que não perderiam tempo a ir falar com os dela. Se explicasse a situação ao rapaz podia ser que este compreendesse e guardasse segredo.
“Suse, espera um pouco, se faz favor”, pediu a rapariga, beijando a outra na bochecha, antes de se dirigir ao rapaz, “Fábio, isto é mesmo o que estás a pensar que é”
“Não tenho problemas com isso, mas Daniela, não sabia que tu eras…”, respondeu ele, mais calmo, embora ainda se encontrasse visivelmente abalado.
“Calma, eu não sou lésbica, sou bissexual”, esclareceu ela, “Há uma pequena diferença, mas não importa”
“Pronto, eu não tenho nada com isso mas desta não estava mesmo à espera”, disse ele, agora completamente em si.
“Olha, por favor guarda segredo, ainda não estou pronta para me assumir”, implorou ela.
“Claro que não, isto não sai daqui”, prometeu Fábio.
Despediram-se pouco depois, fazia-se tarde e amanhã era dia de concertos. Daniela e Susana caminharam lado a lado, sempre em silêncio e mantendo uma certa distância uma da outra. O clima ainda estava pesado, o que não era de admirar, pelo menos ambas estavam dispostas a continuar a investir na relação. Ao chegarem à tenda, despediram-se com um “boa noite até amanhã” e cada uma adormeceu no seu respectivo lado, de costas voltadas.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Capítulo 9


Tanto Daniela como Susana repararam na ausência das raparigas, embora nenhuma tivesse tido a menor ponta de preocupação, visto que era óbvio o que tinha acontecido. Como Guida tinha ficado com a responsabilidade de substituir a DJ no seu trabalho enquanto esta estava ausente, a loura teve que voltar à mesa. Mas não sem levar a morena consigo. De mãos dadas abandonaram o recinto cheio e Susana passou rapidamente a próxima musica.
Passaram o resto da noite assim, a loura colocou os braços em torno da cintura da morena e descansou a cabeça no pescoço desta. Por sua vez, a rapariga deixou-se encostar à outra enquanto a abraçava. De vez em quando havia um beijo um uma carícia, mas permaneceram o tempo todo em silencio, afinal não era necessário falar, o que era preciso dizer já havia sido dito. Quando o final da festa chegou, Susana finalmente falou:
“Queres que te leve a casa?”, perguntou ela.
“Eu não queria dar-te muito trabalho”, respondeu Daniela, desde sempre que não gostava de andar à boleia, pois achava que acabava por ser um fardo para os outros, ainda assim só tinha maneira de ir para casa dali a umas horas, “Mas só tenho como ir embora daqui por um bom bocado”
“Nem penses que ficas aqui sozinha!”, alarmou-se a loura, desde sempre que era extremamente protectora em relação aos demais, “Vou pôr-te a casa e tu não respingas”
A morena viu-se sem alternativa, embora tivesse que admitir que era preferível assim do que esperar duas horas sozinha por um comboio. Para seu horror viu-se novamente em cima da tão temida mota, tanto que por instinto apertou o corpo da outra como se não houvesse amanha, de modo a não se arriscar a desequilibrar-se. Uma hora depois já avistava a casa e sentiu uma onda de pânico, nunca mais se tinha lembrado dos pais! E se tivessem dado pela sua falta ou se tivessem acordado por qualquer motivo?
Despediu-se de Susana com um demorado beijo e dirigiu-se à entrada de casa, rezando para que o barulho da mota não tivesse acordado a mãe. Esperou um pouco para se certificar que a mãe tinha tempo de voltar a adormecer, caso fosse necessário e abriu muito lentamente a porta, tendo o cuidado de a fechar sem o menor barulho. Descalçou-se e dirigiu-se ao quarto, podendo verificar que estava tudo como tinha deixado, mas só ficaria completamente descansada quando enfrentasse os pais na manhã seguinte.
Daniela acordou na manha seguinte e a primeira coisa que fez foi tomar banho para evitar encarar os pais com aquele cheiro a tabaco próprio do bar. Não se demorou muito pois já tinha ouvido os pais na cozinha e queria ficar completamente descansada. Saiu do duche e vestiu uma roupa prática, visto que tencionava passar o resto do dia em casa, e desceu as escadas em direcção à cozinha. Foi imediatamente cumprimentada pela sua mãe com um sorriso, o que fez a rapariga estranhar, embora por um lado tivesse retirado um peso enorme de cima. Pelo menos não tinha sido apanhada.
“Dani, senta-te que gostava de ter uma conversa séria contigo, se faz favor”, disse a mãe embora com alguma hesitação, como se estivesse a preparar um discurso ou a organizar uma linha de pensamentos lógicos. Isto não deixou a morena muito descansada, talvez tivesse festejado antes de tempo.
Daniela assim o fez, apenas com um acenar afirmativo de cabeça, puxando uma cadeira para si e sentando-se nela. Esperou que a mãe prosseguisse, sem a apressar, sempre com o coração nas mãos.
“Queria…queria pedir-te desculpa, o castigo acabou por ser exagerado”, desculpou-se ela. A rapariga sabia que a mãe devia estar mesmo arrependida, visto que sabia melhor que ninguém o quão custava fazê-la admitir que errou.
“Não faz mal, eu compreendo que devia ter dado justificações…”, respondeu Daniela, “Apenas gostava que me desses mais liberdade, sou adulta e nunca te dei razões para não confiares em mim”
“Agora percebo isso, mas sabes que és a minha única filha, não ia aguentar se te acontecesse alguma coisa”, disse a mãe, com um nó na garganta.
“A sério, eu não torno a sair de casa sem dizer nada, mas não tens que te preocupar”, retaliou a morena, “Sei o que faço”
“Tem cuidado, filha”, concluiu ela, num tom que Daniela não sabia identificar, tampouco compreendeu o significado daquelas palavras naquele contexto. Fosse como fosse não matutou sobre o assunto.
Acabou o pequeno-almoço em silêncio e beijou a bochecha da mãe, antes de voltar para o quarto. Pegou no telemóvel e viu que tinha uma mensagem de bons dias de Pedro, no seu habitual tom estridente, mensagem essa à qual respondeu no mesmo tom, visto que sabia como ele ficava caso não recebesse os bons dias de forma animada. Tinha, também, uma mensagem de Susana:
“Consegues ser a primeira pessoa em quem penso quando acordo, como é que o fazes?”
Ao ler aquilo Daniela sorriu de orelha a orelha. Apressou-se a responder-lhe:
“Se me acordasses todos os dias assim eu era uma miúda feliz :) Tiraram-me o castigo finalmente e concordaram em dar-me mais liberdade”
No fundo a rapariga sentiu-se um pouco culpada por não ter dado uma resposta à altura da mensagem da outra, mas expressar sentimentos nunca tinha sido o seu forte, muito menos por palavras. A resposta não se fez demorar:
“Hu, então temos que comemorar isso! Hoje queres vir ter à praia?”
A morena não viu mal nem achou que seria um pouco “abuso” de liberdade aproveitar já, portanto assim concordou. Depois de almoço iria ter ao café do costume, depois iriam à praia. Até lá a rapariga tinha duas horas, embora não tivesse planos. Ajudou a mãe com as compras, arrumou o quarto e ajudou a preparar o almoço. Tudo para dar a melhor impressão possível. Mal acabou de almoçar consultou o relógio, para sua frustração não tinha tempo de chegar à paragem. Muito para seu constrangimento não teve opção senão pedir o carro aos pais.
Tendo em conta que o trânsito até não estava muito engarrafado, conseguiu chegar ao local combinado apenas com uns dez minutos de atraso. Às tantas já nem se importava, simplesmente ser pontual não era algo que conseguisse. Estacionou o carro e dirigiu-se para o café. Tal como no primeiro dia, Susana estava encostada à parede de braços cruzados. Esta, mal avistou a rapariga não perdeu tempo e foi cumprimentá-la. Daniela tencionou fazê-lo com dois beijinhos, mas a loura tinha outra ideia e tentou dar nos lábios da morena. Ainda assim, esta teve presença de espírito suficiente para desviar a cara, para desilusão da outra.
“Oh, então?”, questionou a loura, com uma expressão magoada nos seus olhos azuis.
“Desculpa, mas em frente a esta população toda não, por favor”, murmurou a rapariga, sentindo-se tanto incomodada como culpada.
“Hás de te sentir mais à vontade com o tempo”, suspirou Susana, tentando manter-se paciente, “Ao menos posso dar-te a mão?”
Daniela ainda pensou em responder torto, mas a última coisa que desejava era arranjar problemas com a sua “namorada”, só a palavra custava a dizer. Portanto optou por um sorriso terno e um “Claro que sim”
A loura pegou-lhe na mão e encaminhou-as para o percurso que já era familiar a ambas, de tal modo que não tardou muito que chegassem à praia. De modo a redimir-se, a morena agarrou, embora de forma não bruta, a camisola da outra, apenas de modo a mantê-la perto e beijou-a. Talvez por ter sido apanhada de surpresa, Susana desequilibrou-se e caiu para trás, arrastando Daniela consigo.
“Estás bem?”, perguntou a rapariga, afinal tinha caído mesmo por cima da outra.
“Estou melhor agora”, respondeu a outra, rindo-se, “Olha, tenho uma surpresa para ti, aliás, para nós! Queres ver?”
A morena apressou-se a sair de cima da loura e a dizer “Ui, sinceramente gosto pouco de surpresas, mas diz lá”
“Não sei se faz bem o teu género, mas acredita que foi com a melhor das intenções”, continuou Susana enquanto tirava algo da mala. Daniela reparou que esta tinha qualquer coisa verde fluorescente na mão, embora não soubesse exactamente o quê.
“Pulseiras para o Sumol Summer Fest!”, concluiu a outra com um sorriso de orelha a orelha.
Mesmo que a rapariga não gostasse daquele tipo de música, teria fingido estar entusiasmada só para não ferir os sentimentos da loura pela segunda vez naquele dia, mas tendo em conta que adorava, atirou-se para cima de Susana, dando-lhe o maior abraço.
“Love you!”, disse a morena, ainda agarrada ao pescoço da loura, “Foi das melhores surpresas que podias ter feito”
“Não tenho direito a um beijinho?”, gracejou Susana, enquanto colocava os braços em torno da cintura de Daniela e a puxava para si.
“Com certeza!”, respondeu Daniela, colocando-se em bicos de pés para agradecer convenientemente à outra com um beijo.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Capítulo 8


“E tudo está bem quando acaba bem”, pensou Guida para si. Decerto que podia abandonar o que estava a fazer por uns minutos, só para ir lá abaixo felicitar Susana e “Dani”. Foi o que fez, tentando demorar o menos possível, dirigiu-se a elas e a primeira coisa que disse quando viu Daniela foi, “A Dani precisa de um Danoninho”
“Oh Guida sê um bocadinho mais simpática, sim?”, pediu Susana enquanto revirava os olhos. Aproximou-se da sua melhor amiga e murmurou-lhe ao ouvido, “Eu fiz a minha parte, agora não te esqueças do que prometeste”
Em condições normais, a rapariga de olhos verdes teria pegado num balde e vomitado o jantar, mas estava a simpatizar com a amiga de Daniela. Achava particularmente piada ao cabelo vermelho que lhe fazia ressaltar os olhos esverdeados. “Hm, pode ser que isto não seja assim tão mau…”
“Susy, vai comer a tua miúda e sai-me da frente”, disse enquanto caminhou em direcção à tal rapariga. Pelo caminho observou o seu reflexo numa superfície brilhante que se encontrava por perto, o seu cabelo escuro caia-lhe pelas costas de forma perfeita, fazendo contraste com os olhos límpidos, que faiscavam com as luzes, a pele era deveras branca o que lhe conferia, um ar ingénuo, apesar de ela ser tudo menos isso. Resumindo, estava com bom aspecto.
“Posso oferecer-te uma bebida, querida?”, disse com o seu ar mais “fofinho”, enquanto olhava para a rapariga de alto a baixo. Ficava mesmo querida quando corava e acenava que sim. “Duas caipirinhas! Meta na conta da Suse”
Guida estava capaz de jurar que tinha ouvido um “Vai para o caralho” ao longe mas decidiu ignorar, de momento a sua atenção pertencia exclusivamente à rapariga de cabelo vermelho. “Como te chamas?”
“Obrigada pela bebida, chamo-me Marta e tu, oh boa?”, disse Marta sem a menor ponta de vergonha, afinal estava mais que habituada a situações destas, só que esta era bem mais gira que o costume.
“Margarida…lembra-te bem pois vais gritar pelo meu nome mais tarde”, ela nem sabia de onde tinha surgido tanta confiança, claro que com rapazes era uma coisa, mas nunca se tinha dado ao trabalho de sequer pensar em engatar uma miúda.
“Primeiro prova-me que isso não é só garganta”, picou Marta, de forma provocante.
Foi o suficiente para que Guida lhe tirasse o copo da mão e a beijasse, sem demoras nem hesitações. Afinal até que não era mau, pensou. Não estava na sua maneira de ser, ser gentil nem calma. Passou a língua pelos lábios da miúda de cabelo vermelho e colocou-lha na boca. Apesar de ser um pouco bruta não era por isso que deixava de beijar bem. E pôde verificar que com Marta o caso era o mesmo, estava provado que beijava lindamente.
Já se previa que o clima não demoraria muito a aquecer, daí a outra ter terminado o beijo, com a cara vermelha e já sem fôlego, “Continuamos num sítio mais privado”
Guida pegou-lhe na mão e encaminhou-a para a saída. Percorreram a distância que ia do bar até ao carro desta e, sem se conterem mais, voltaram-se a beijar contra a porta. Era difícil procurar a chave quando se tinha alguém a beijar-nos o pescoço, foi a conclusão a que a morena chegou. Quando finalmente abriu a porta, foi empurrada para dentro por Marta, que a deitou no banco de trás, sentando-se-lhe com as pernas uma de cada lado do corpo.
A rapariga de olhos verdes não perdeu tempo a puxar a camisola da outra. Massajando-lhe o peito. “Estar com uma rapariga até que não era nada mau”, constatou Guida, à medida que sentia a outra beijar-lhe o pescoço novamente. Fechou os olhos e deitou a cabeça para trás, sentindo a outra desapertar-lhe a camisa. Nem sequer duvidou por um bocado que fosse que não conseguisse levar isto até ao fim.
“Vai abaixo”, disse enquanto agarrava nos cabelos vermelhos de Marta. Aquele estava a ser o minete da vida dela, à medida que a outra continuava, passando-lhe a língua pelo clítoris. Não ia durar muito mais tempo, cravou as unhas longas nas costas de Marta, gemendo esse mesmo nome. Tinha que admitir que foi melhor que qualquer rapaz até agora. Agora vinha o mais difícil, retribuir o favor.
“Olha, nunca fiz disto antes com uma rapariga, por isso vais ter que me dar umas indicações”, pediu ela. Se havia coisa que detestava era não ser bem sucedida à primeira.
“Ora bem, amor, começa por me fazer o que te fiz”, disse Marta num tom autoritário.
Guida assim o fez e começou a imitar os movimentos da rapariga mais experiente.
“Começa por me beijar o pescoço…isso”, disse a rapariga de cabelo vermelho enquanto fechava os olhos, saboreando a sensação.
A morena beijou-lhe o pescoço, deixando uma marca para “marcar território”. Desceu mais um pouco o mordiscou ao de leve no peito da outra, chupando-lhe os mamilos. Depois de dar o mesmo tratamento aos dois, continuou a descer, deixando um padrão de beijos e contornou-lhe o umbigo com a língua, conseguindo fazer com que Marta gemesse o seu nome. Mas ainda não estava satisfeita, queria fazê-la gritar.
Em vez de continuar a descer como Marta fez, voltou a cima e beijou-a. Levou a mão à boca da rapariga, que a lambeu, percebendo a ideia. Depois, sem aviso entrar dentro de Marta, fazendo com que esta gemesse de prazer. “Sim, acho que já lhe apanhei o jeito”, pensou com um sorriso triunfante. O facto de Marta lhe ter mordido o ombro com força, ao ponto de sangrar um pouco só contribuiu para a sua sensação de sucesso.
Pouco tempo depois a rapariga vem-se, beijando-a novamente. Pena que Guida lhe tivesse caído em cima, adormecida, de tão esgotada que ficou.