segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Capítulo 34

...e agora a reviravolta x) thank you all ao much!

Bulir a noite toda e ainda ter que dar mais no duro de manhã, decididamente que não era para Mariana. Trabalhava há pouco tempo naquele bar, a entregar as bebidas. Não era uma posição de grande prestígio, mas já dava para tratar das contas de casa. Era uma pessoa tímida até ao extremo, portanto encarar os clientes era tortura, noite, após noite, após noite. A atenção e o assédio ocasional não facilitavam muito, mesmo que lhe subissem o ego. Decididamente que a melhor parte, isto para não dizer a única parte boa, era Susana Marques.
“Olá, tudo bem?”, a voz que mais arrepios lhe dava, acabara de a cumprimentar, sempre no seu tom animado e simpático, arrancando-a dos seus pensamentos. Era sempre tão querida que Mariana sentia os joelhos a enfraquecer. O facto de ser linda era a cereja no topo do bolo.
“Ahm…olá”, retribuiu, atabalhoadamente. Ao ver a loura sorrir-lhe antes de se afastar, repreendeu-se a si mesma. Já tinha vinte e um anos, a idade da outra, não devia ficar assim. Já não se sentia assim desde os tempos do básico. Andava, desde que pusera os olhos em Susana, para a convidar para tomar um café um dia. Afinal sabia tão pouco sobre ela, só faziam conversa de circunstância uma vez por outra. Investigar por intermédio de outras pessoas estava fora de questão, não queria dar a entender a sua paixoneta.
Continuou com o que estava a fazer mais uns tempos, até que a chamaram para verificar as bebidas. Resmungando, foi, contando as diversas garrafas, quando sentiu alguém dar-lhe um toque no braço, irritando-a, “O que é que foi agora?!”
Virou-se para a pessoa que a sobressaltara, prestes a descarregar a sua raiva. Mas quando o fez, verificou que era Susana e olhava para ela com uma expressão admirada, “…podias só guardar-me o casaco, se faz favor?”
“Estúpida, anormal, parva…”, chamou a si própria mentalmente. Desculpou-se, sentindo as bochechas a ferver, o que não era ajudado pelo facto de a loura estar a usar um top branco decotado e justo, substituindo as suas habituais t-shirts. Ficou a ver a outra afastar-se, agradecendo pelo facto de esta estar a usar calças justas, em vez das largas do costume. Já com o casaco na mão observou-o, tinha capuz e era de rapaz, mesmo ao género da loura. Ninguém a estava a ver, não se conteve, levou-o à cara e cheirou-o. Baunilha e coco…
Muita arrumação depois, a hora de abrir chegou por fim. Desencostou-se do balcão e aguardou que alguém fosse para os sofás, para anotar os pedidos. Enquanto a sua atenção não era forçada a dirigir-se para os clientes, olhou para Susana, que já estava diante da mesa de mistura. Encontrava-se debruçada, o que proporcionava a Mariana uma visão boa demais do seu peito. Infelizmente teve que ir servir os clientes, que se começavam a amontoar. Uma última olhadela à loura e esta sorriu-lhe, o que deixou Mariana com a sensação que lhe ia escapar o ar.
Avistou uma cliente a acenar na sua direcção. Dirigiu-se a esta, já de bloco na mão, quando não conseguiu evitar que o olhar se dirigisse para a mesa de mistura. O que viu deixou-lhe uma sensação estranha no peito que não era boa decididamente. Susana estava envolvida, num abraço apertado e decididamente muito íntimo com uma rapariga. Desejou fervorosamente que não fosse a namorada, mas não podia tirar conclusões, tendo em conta que nada sabia da vida pessoal da loura. A cliente a chamá-la de volta à tarefa em mãos, acordou-a, mas a sensação de desconforto permaneceu.
Continuou com o seu trabalho, recusando-se a olhar para Susana, com receio de ver alguma coisa que não gostasse. A curiosidade matou o gato, precisamente como nesta situação estava em perigo eminente de acontecer. Voltou a observar a loura e foi nesse momento que todas as suas esperanças se fragmentaram. A dita rapariga tinha os braços em torno do pescoço de Susana e beijava-a, embora apenas com ternura e calma. Mariana não conseguiu desviar os olhos do que estava a ocorrer diante de si, embora a torturasse intensamente. Não aguentou mais, abandonou o recinto, dirigindo-se para a casa de banho, onde pôde, finalmente, soltar as lágrimas que andara a conter.
Depois de uma boa meia hora de choro, decidiu que não era assim que ia virar o jogo a seu favor. Ia para lá de cabeça erguida e iria lutar pela loura. Secou as lágrimas e voltou para o bar, aliviada por a sua ausência não ter prejudicado nada. Estava a lavar uns copos por detrás do balcão, quando precisamente quem não queria ver a chamou. Até seria algo bom, caso a possível namorada de Susana não estivesse com ela, com o braço da loura por cima dos seus ombros. Só então a observou em condições. À parte de terem a mesma altura e estatura, pronto, Mariana era mais bem constituída, afinal tinha anos de volleyball em cima, a namorada de Susana não era nada de especial.
Esta observação levantou um pouco a moral a Mariana, ansiosa por encontrar mais defeitos na rapariga. Um bronze não lhe ia fazer mal nenhum, pois a pele era de um branco lácteo e tinha cabelo e olhos quase pretos. Estas características não a tornavam assim tão diferente de Mariana, o que era bom sinal, era da maneira que ficava a saber que Susana gostava de morenas. O que mais a impressionou foi o facto de a rapariga ter ainda uma cara muito jovem, podendo passar por dezassete anos, mesmo com a maquilhagem ligeira. “Não fazia ideia que a Suse era pedófila, se gosta daquela miúda…que cara de antipática”
A loura fez os pedidos para as duas, enquanto as apresentou, “Mariana esta é a Daniela, a minha namorada e Daniela esta é a Mariana, é nova aqui”
Daniela avançou para cumprimentar a outra, esboçando um sorriso. Mariana ponderou dar-lhe uma cabeçada no meio dos olhos que a deixaria estendida no chão, mas tinha que causar boa impressão a Susana. Rangendo os dentes lá retribuiu o cumprimento da rapariga com um sorriso de tal forma forçado que lhe doeu a cara. Talvez veneno para rato na bebida resolvesse a situação…claro que não o fez, mas teve que se conter para não atirar o copo à cara da morena. Sorriu para si ao imaginar essa situação e esse sorriso foi a única coisa que a impediu de fazer o que imaginou.
Preferiu dirigir a sua atenção para a loura e fingir que Daniela não estava lá. No entanto não conseguiu não imaginar como adoraria ouvir Susana a apresentá-la a ela, Mariana, como a namorada. Fico tempo a mais do que devia a olhar para a loura com uma expressão embevecida, enquanto falava com ela. De facto deu mesmo demasiado nas vistas, pois Daniela arregalou o olhar, embora não tivesse dito nada. O que fez de seguida surpreendeu Mariana, ao vê-la retirar o braço de Susana do seu ombro, como se o fizesse para tirar a mala. Um pouco mais de conversa e a loura foi sentar-se, mas não sem beijar a rapariga, que mal retribuiu, permanecendo onde estava, “Já vou ter contigo”
Mariana percebeu que Daniela havia reparado. Começou já a preparar-se para uma luta, nada lhe daria mais prazer do que arrancar a expressão séria da rapariga à chapada. Esta limitou-se a sorrir, um sorriso honesto, como se tivesse empatia para com a outra e disse, “Ela é realmente algo, não é?”
Esta abordagem gentil apanhou Mariana desprevenida, de tal modo que ficou sem palavras. Optou por se fingir desentendida, “Desculpa?”
“Sejamos directas”, esclareceu Daniela, sempre com um sorriso verdadeiro, nunca subindo de tom, apenas enfatizando certas palavras, mas não ao ponto de fazer com que parecesse uma ameaça, “Acredita que eu vejo TUDO e muito bem, portanto eis o que vou fazer, se estiveres de acordo, é claro”
“Já percebi que gostas dela e não te posso censurar”, continuou, olhando para a outra, como se se revisse a si própria nela, “Mas ela tem namorada e estamos óptimas, digo-te isto mas não é para te esfregar na cara, acredita que te compreendo e sei melhor do que ninguém o que é gostar de alguém e ter que ficar a ver esse alguém com outra pessoa”
“Onde é que queres chegar?”, ripostou Mariana, agressivamente, já a subir de tom. Se aquela miúda pensava que a outra ia desistir com uma dúzia de palavrinhas mansas, estava TÃO enganada.
“Não te levantei a voz e agradeço que não o faças”, disse Daniela, que não pretendia mesmo irritar a outra, “Ora, eu não digo uma palavra à Susana e mal lhe toco à tua frente, em troca tu não tentas nada. Olha que se o fizeres VAI chegar aos meus ouvidos e acredita que vais dar-te mal”
“Estás a ameaçar quem, oh porca?”, sibilou Mariana, com um olhar venenoso. Quando se irritava tendia a insultar a torto e a direito.
“Ninguém, podes considerar isto como um aviso”, respondeu a rapariga, ignorando o insulto e o olhar que parecia estar a furar-lhe dois buracos na cara, “Tenho toda a confiança na Susana e mesmo que tentes alguma gracinha, não te levanto um dedo, mas olha que ela ferve em menos água que eu e vê-la chateada não é NADA agradável”
“Obrigada pelo aviso mas eu sei cuidar de mim”, respondeu a outra, fula, com um riso que soou a tudo menos a humor, “A Susana é crescida e faz o que bem entender, para que é que ela há de querer uma miúda como tu quando pode ter uma mulher a sério?”
“Não vejo aqui mulher nenhuma”, respondeu a rapariga, rindo-se. Tentou manter-se paciente, mas com Mariana tal não era possível, optou antes por sair do pé desta, “Tem uma boa noite”
Mariana ficou sozinha, a espumar de raiva. Não era seu hábito tratar alguém assim tão mal, mas no amor e na guerra valia tudo. Limpou uns copos, enquanto observava Susana e Daniela. Pelo menos, a rapariga estava disposta a cumprir com o que dissera, trocaram um olhar e esta impediu a loura de a beijar, dando-lhe a provar antes a sua bebida. O que mais doeu à outra foi ver a maneira como Susana olhava para a namorada, sempre com tanto afecto, como se não estivesse mais ninguém ali que não ela.
Decidindo-se a investigar melhor o historial da loura, virou-se para a barman, como quem não quer a coisa, “Elas já andam há muito tempo?”
“Desde o inicio do Verão, acho eu”, clarificou esta, enquanto picava gelo, “Nem sei como, a Suse costumava ser a maior player, mas agora anda certinha”
“Não a vejo mesmo como player”, continuou Mariana, arriscando, “Não larga é a miúda, deve ser bem oferecida”
“Ela comia era tudo e todas, mas isso são tempos passados”, disse a outra, “A Daniela tem-na bem controlada. Se falares com a Suse ela não se cala com a namorada, adora mesmo a miúda”
“Não lhe acho graça nenhuma, é arrogante e deve pensar que é importante porque tem uma namorada boa”, resmungou Mariana, já mais à vontade com a barman, “A Suse arranja melhor que ela, duvido que lhe dê sexo”
Foi aí que a outra se riu, antes de responder, “A miúda não é assim tão má, mas sim à primeira vista parece antipática. Mas dá-lhe uma oportunidade e ela é muito querida. E quanto a sexo, acredita que a Suse anda bem contente nesse aspecto”
A ideia da loura a tocar na rapariga arrepiava Mariana até mais não, mas se substituísse a erva daninha que dava pelo nome de Daniela pela sua pessoa, tornava-se uma fantasia mesmo muito boa. Ficou a repensar no que acabara de ouvir. Dito assim Daniela não parecia má rapariga, mas a partir do momento em que fora falar consigo, aquela disputa tornara-se pessoal. Não queria só ficar com a loura, se pudesse humilhar e magoar a rapariga a vitória seria ainda mais doce. E Mariana Lopes não era pessoa de se coibir de fazer o que quer que fosse necessário para atingir um objectivo.
A contagem decrescente para o novo ano interrompeu a sua linha de raciocínio. Pegou no seu copo de champanhe e preparou-se para celebrar.
5…4…3…2…1…
O grito colectivo de todas as pessoas no bar fez-se ouvir. Foi imediatamente prosseguido do som de copos a colidir uns com os outros, num brinde. Antes de oficializar a sua resolução de ano novo, a última coisa que Mariana viu foi Susana a emborcar o conteúdo do copo de uma vez antes de colocar as mãos na cintura de Daniela, puxando-a para si, antes de a beijar. A rapariga não quis estragar o seu primeiro beijo do ano por causa de uma concorrente ciumenta, lançou os braços ao pescoço da loura e retribuiu intensamente.

1 comentário:

  1. Ai ! Que isto começa a cheirar-me a esturro :c
    Não gosto dessa Mariana. Já vai fazer das suas, aposto. Esta será mais uma prova a superar na relação da Daniela com a Susana. Mas algo me diz que vêm aí situações complicadas.
    ( Eu sabia que esta noite ia trazer surpresas! )
    Espero (como sempre) por mais! Visto que já estou viciada nesta história :)
    Uma viajante dos blogues :) *

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