segunda-feira, 27 de junho de 2011

Capítulo 28

“É bom que a Dani tenha escondido as facas da mãe”, pensou Susana, enquanto pegava nas chaves da mota e saía de casa. O facto de a “sogra” ter querido fazer um esforço para se redimir era um grande progresso, mesmo que tenha levado um mês a acalmar. O facto de a ter convidado, por intermédio da rapariga, para ir jantar lá a casa era um progresso ainda maior. Agora cabia à loura não estragar tudo ou com os seus modos pouco elegantes à mesa ou com o seu modo de conversa pouco eloquente.
Pegou na roupa que tinha e tentou ir um pouco mais bem vestida que o costume, embora não tivesse dispensado tanto os ténis como as calças largas. Desta vez escolheu uma camisa branca, por sinal a peça mais feminina do seu armário inteiro e que a avó a obrigou a comprar e esperou não ir muito desleixada.
Todo o trabalho a alisar o cabelo tinha ido por água abaixo quando tirou o capacete. Desistiu de se preocupar com isso e tocou à campainha, começando imediatamente a roer as unhas. Foi Daniela que lhe veio abrir a porta e parecia nervosa, como seria normal. Mal pôs o pé no jardim, a cadela da rapariga veio ter consigo, carente de atenção, “Pelo menos a cadela gosta de mim”. Cumprimentou-a como habitualmente e, quando a loura lhe deu a mão, limitou-se a deixar estar mão-morta.
“Espero que gostes de caril”, a voz da morena acordou-a dos seus pensamentos. Então aquele cheiro que lhe começava a fazer arder as narinas era isso. Já tinha ouvido falar mas não fazia a mínima ideia do que era.
“Que é isso?”, perguntou, sentindo a cara a aquecer, sinal de que estava a corar. Se havia coisa que odiava era que a tomassem por loura burra e, se havia coisa que odiava ainda mais era ter a consciência que o era. Ainda por cima a namorada tinha-a avisado que os pais valorizavam muito a cultura. Se na sua perspectiva, Daniela era das pessoas mais cultas que conhecia, e mesmo esta era muito inferiorizada pelos pais, então ela…
“É um prato indiano, com arroz, batata e frango”, explicou a rapariga. Se havia coisa que Susana adorava era o facto de a morena arranjar sempre paciência para lhe explicar as coisas as vezes que fossem necessárias, sem mostrar frustração. Era definitivamente uma melhoria de Mónica que, teria suspirado e dizer-lhe para esquecer. “Pode é ser um pouco picante…aguentas bem?”
“Muito picante?”, perguntou Susana, cujas parcas recordações de contacto com comida exótica ainda lhe davam arrepios, “Provei uma shamuça uma vez e aquilo não se podia”
“Então vai ser bonito…”, respondeu a rapariga, rindo-se, “Eu e o meu pai abusamos nisso”
Susana engoliu em seco, tanto com o que a morena disse como por ter avistado a mãe desta. Ainda de mão dada com Daniela, avançou em direcção à mãe, que parecia estar a fazer um esforço quase doloroso para sorrir. Agora que olhava para ela de perto, conseguia ver de quem a namorada tinha herdado muitas das expressões e, mais notoriamente, os olhos.
“Boa noite”, cumprimentou a senhora. O esforço que estava a fazer, esforço esse que era bem notório e não devia ser nada fácil, era algo que a loura tinha que valorizar.
“Boa noite”, retribuiu Susana, sorrindo de orelha a orelha, antes de se inclinar para cumprimentar a sogra com dois beijinhos. O estremecer desta não lhe passou despercebido, o que fez com que a loura prometesse a si mesma que faria de tudo para a deixar à vontade, “Está boa?”
“Sim muito obrigada”, respondeu, reticente, “Como vai?”
“Oh trate-me por tu, se faz favor”, pediu Susana, bem-disposta.
A conversa foi interrompida pelo pai, chamando-as para o jantar, sempre simpático e cordial. Foi cumprimentar a loura com a maior das naturalidades, desejando-lhe sorte para aguentar o picante. Sentaram-se à mesa, Daniela entre a outra e a mãe, muito para seu desconforto. Era a oportunidade perfeita para picar a morena e Susana não iria deixar passar. Colocou a mão na coxa da rapariga, apertando-a sempre que a mãe olhava para esta.
“Então Susana”, começou a mãe de Daniela, ainda com os olhos postos na filha, enquanto esta tentava disfarçar o embaraço, “Vive com quem?”
“Com a minha avó”, respondeu a outra, subindo um pouco a mão e sentindo a morena contrair-se.
“Então e os seus pais?”, questionou a mãe, franzindo o sobrolho ao olhar para a filha.
“Emigraram quando eu tinha aí quatro ou cinco anos, não me lembro muito deles”, contou Susana, parecendo estar a fazer um esforço a puxar pela memória, “Pelo que a minha avó me contou, vivíamos mesmo mal e a única opção foi ela ficar comigo enquanto eles iam para a Alemanha….começaram de novo lá e deram-me dois irmãos e uma irmã”
Daniela afagou a mão que Susana tinha na sua anca, o que fez com que esta sorrisse para si. Este curto e simples momento de intimidade não passou despercebido aos pais, que trocaram um olhar entre si.
“No início ainda mandavam algum dinheiro”, continuou a loura, à medida que sentia a rapariga entrelaçar os dedos nos dela, por baixo da mesa, “Mas depois os meus irmãos ficaram em primeiro lugar e fui esquecida…”
“Passaram por muitas dificuldades?”, interrogou a mãe, interessada em saber o mais possível e, acima de tudo, encontrar podres.
“Com o dinheiro que mandavam e a reforma dos meus avós estávamos seguros, não éramos ricos mas sempre era alguma coisa”, respondeu Susana, que tinha sido já prevenida e tinha a conversa preparada, “Mas quando o meu avô morreu e tiveram o meu irmão as coisas complicaram-se muito, a minha avó não tinha muita saúde e o dinheiro extra ia para medicamentos…estávamos sempre a apertar o cinto, por isso eu costumava tratar do jardim aos vizinhos, aí a partir dos dez anos, sempre ajudava um bocado”
Mal acabou o que tinha a dizer, a mãe sorriu. Ao ver o contentamento da senhora, ambas as raparigas sorriram de alívio. Bastava só referirem o passado trabalhador da loura e esta começava a cair nas boas graças dos pais.
“Agora faz o quê?”, perguntou o pai, desta vez.
“Sou DJ numa disco…alternativa”, disse Susana, tentando suavizar um pouco a resposta, “Até se ganha bem”
“A Susana é uma pessoa atraente”, disse a mãe, num tom que parecia acusatório, “Decerto que meninas e meninos atrás de si não faltam”
Ao ouvir isto, a loura riu-se um pouco, antes de responder, “Os meninos vêem-me sempre como mais um deles, felizmente, e quanto às meninas, bem, não digo que fiquem indiferente, mas já tenho a minha”
O riso geral da mesa serviu para aligeirar o ambiente, antes que cada um se servisse. Sempre esfomeada, Susana não hesitou em encher o prato, que até tinha óptimo aspecto. Ainda com a mão direita entrelaçada com a esquerda de Daniela, serviu-se com a sua esquerda. Levou à boca uma garfada generosa e saboreou. Era bom! Um pouco diferente do que estava habituada mas gostava. E o melhor foi que não sentia o picante.
Ou pelo menos naquele momento…uns segundos depois uma onda de calor devastou-lhe a garganta. Cerca de um minuto depois o fogo-de-artifício que tinha na boca intensificara-se ao quadrado, fazendo com que tivesse que desapertar um botão da camisa. Olhou à sua volta e viu que todos estavam a comer como se não fosse nada. Era alguma partida? Já sentia uma gota de suor a escorrer-lhe pela cara, que estaria, sem dúvida, vermelha que nem um morango. Levou um copo de água à boca, suspirando de alívio.
“Sabes, não devias ter feito isso”, disse a morena, olhando para ela alarmada, “Ainda vai fazer pior”
“Nada disso!”, garantiu a outra, apesar de ter acabado de confirmar o que a rapariga lhe dissera, não queria dar parte fraca aos pais, “Estou óptima”
Juntando o gesto à palavra, voltou a empanturrar a boca outra vez. Quando chegou ao fim do prato já tinha lágrimas a escorrerem-lhe pela cara e a camisa colada ao corpo desabotoada até meio. Ainda por baixo da mesa, Daniela afagou-lhe a mão, suada e peganhenta, tentando reconfortá-la. Este gesto, por sua vez, não passou despercebido aos pais.
“Vocês estão de mão dada, por acaso?”, perguntou a senhora, tentando parecer casual, mas no seu tom havia alguma irritação.
“Hmhm”, respondeu a rapariga, levantando a mão que estava a segurar a da loura.
O gesto teve reacções diferentes nas pessoas que se encontravam à mesa. A mãe esbugalhou os olhos, o pai sorriu para elas e Susana enterneceu-se com a namorada. A segunda reacção foi diferente, o pai deu um toque no braço da mãe, de modo a avisar esta, a mãe respirou fundo e sorriu e a loura levou a mão da rapariga aos lábios e beijou-a. Foi a vez de Daniela se enternecer, com um “oh” e de encostar a cabeça ao ombro da outra, esquecendo-se que os pais estavam a observar tudo.
“Susana, vai querer café?”, ofereceu o pai, trazendo as duas de volta à realidade.
“Não gosto, obrigada”, recusou a loura, rindo-se para a rapariga, “Para viciada em café basta a Dani”
“Mas eu quero!”, apressou-se a morena a dizer, já a salivar, sem ter ouvido o que a outra dissera.
“Daniela!”, repreendeu a mãe, “É o quê? O terceiro hoje? Nem penses, hoje não bebes mais senão não dormes!”
“Mãaae!”, amuou Daniela, fazendo beicinho à medida que se sentia corar, o gozo de Susana não melhorava o seu embaraço.
“De certeza que foram só três?”, riu-se a loura, conseguindo que a rapariga lhe esborrachasse o dedo do pé com o calcanhar, “Aaah!”
“É verdade”, perguntou a mãe, com um brilho malicioso no olhar, “Nunca disseram como é que se conheceram”
Foi aí que ambas gelaram. Dizer a verdade seria morte certa e inventar uma história que não fosse absurda seria difícil. A morena, com a maior das calmas, disse, “Foi o Pedro que nos apresentou, é uma amiga de um dos amigos dele”
“Ah só podia”, respondeu a senhora, obviamente desapontada por não ter sido nenhum bordel lésbico. A orientação do amigo da filha já lhe chegara aos ouvidos, daí a facilidade com que aceitou a desculpa.
Já se fazia tarde e Susana tinha que trabalhar. Despediu-se cordialmente dos pais de Daniela, sendo depois acompanhada até à saída por esta.

sábado, 11 de junho de 2011

Capítulo 27

“Finalmente”, disse Daniela para si, ao ver o seu dia de aulas como terminado. O segundo ano do curso já havia começado há duas semanas e já tinha trabalho até à ponta dos cabelos. Nesse período de tempo a sua rotina mudara drasticamente, resumindo-se a faculdade e casa. Em casa era submetida à pressão dos pais, fora dela era sobrecarregada com trabalho. Nesses momentos ponderava porque é que não tinha decidido cultivar batatas e criar vacas.
Com um suspiro impaciente, começou a percorrer a distância que separava o edifício onde teve aulas do metro, bem carregada tanto de livros como de mau humor. Não lhe apeteceu ir logo para casa, pelo menos ali não ouvia os pais. Sentou-se num muro nas redondezas e tirou um cigarro, ao menos ali não a chateavam por isso. Tinha já dado meia dúzia de bafos, perdida no seu resmungo interior, quando sente o telemóvel vibrar no bolso, era Susana. Mordendo o lábio apercebeu-se que nunca mais se tinha lembrado dela, apesar de naquele dia ter vestido a camisola que esta lhe tinha emprestado.
“Adoro ver-te com essa camisola ;)”
A morena franziu o sobrolho, como é que a outra sabia…espreitou para os lados e olhou em frente, mas da loura não havia sinais. Voltou-se de costas, apanhando um susto que a fez engasgar-se com o fumo. Susana estava a uma distância mínima de si, sorrindo feliz.
“Olá amor! Não estás contente por me ver?”, cumprimentou, ao mesmo tempo que se ria do ataque de tosse da rapariga, “Desapareceste”
“Suse…cof…estás a ver essa montanha de livros…cof?”, justificou Daniela, a tentar respirar, apontando para os diversos volumes que tinha junto a si, “É o que tenho para estudar…cof…só este período”
“Foda-se, ainda as pessoas me dão na cabeça por não ter ido para a faculdade”, disse a loura, com os olhos a saltarem-lhe das órbitas, “Também não tinha média, mas Porra!”
“Oh, podias não entrar em arquitectura mas desenho ou assim…”, divagou a rapariga, já recomposta, “O que te trás por cá?”
“Preciso de desculpa para vir ter com a minha namorada?”, esclareceu, como se fosse cristalino, “Passei duas semanas sem te pôr a vista em cima, já deixavas saudades”
Daniela atirou a beata para o chão, pisando-a antes de ir abraçar Susana, pedindo desculpa. A outra correspondeu ao abraço, mantendo-a agarrada pela cintura. Aproximou a cara da da morena para lhe dar um beijo. Esta, arrepiou-se por um momento perante a ideia de ter a universidade inteira em peso como plateia, mas tinha feito um esforço tão grande para deixar o receio de parte, que não podia estragar tudo. Deixou que a loura a beijasse, durante um pouco. Tendo em conta que a rapariga tinha terminado as aulas, a outra propôs que fossem dar uma volta pela cidade, proposta essa que Daniela prontamente aceitou. Susana, muito para alívio da morena, ofereceu-se para lhe carregar os livros.
Foram para um pequeno parque, nas imediações da faculdade, com bancos e aspecto tranquilo e ameno. A rapariga ia-se a sentar ao lado da loura, quando esta a puxou para o seu colo, colocando-lhe a cabeça no ombro e ficando a olhar com ar de cachorrinho.
“Que foi?”, perguntou Daniela, com um sorriso, antes de beijar Susana ao de leve.
Esta correspondeu, intensamente, até que as separou, voltando a fazer beicinho. Muita persuasão por parte da morena, através de dentadinhas no pescoço da outra, e esta finalmente falou,”Eu sei que tens andado com trabalho, mas não me tens ligado mesmo nenhuma”
“Eu sei, mas não tenho culpa, a faculdade ocupa-me imenso tempo…tens razão, eu devia ter conseguido conciliar as coisas”, respondeu a rapariga, sentindo-se mal, “Tem sido uma pressão enorme lá em casa”
“A gente já sabe como é a tua mãe”, disse a loura, suspirando, “Desculpa eu por te dar mais uma coisa com que te preocupares”
“Havemos de arranjar maneira”, respondeu Daniela, antes de abraçar a outra. Sentir o cabelo macio da loura roçar-lhe na cara era uma sensação que ainda lhe causava arrepios. Isso e sentir a respiração desta no seu pescoço. Foi trazida de volta ao mundo ao sentir Susana ficar muito tensa, “Passa-se algo?”
No momento em que virou as costas para a direcção do olhar desta, gelou. A passar cerca de cinco metros diante delas, estava, nada mais, nada menos, que Andreia. E a julgar pela expressão de estupefacção desta, ao ponto de ter a boca semi-aberta, tinha reparado nelas. “Foda-se…”, pensou a morena, “Não me posso deixar afectar senão a Suse percebe”. Deixou-se ficar nos braços da outra, que a segurou como se tivesse medo que se fosse desvanecer a qualquer momento. O aperto apenas cessou quando Andreia desapareceu do campo de visão de ambas.
“Aquela é a Andreia, não é?”, perguntou Susana, num tom venenoso.
“É sim”, reduziu-se Daniela a dizer, mordendo o interior da bochecha. Estava a sentir-se com vontade de cavar um buraco para se enfiar e não mais sair. Que vergonha…
“Deve ter pouco a mania, deve”, zombou a loura, que interiormente se sentia um misto de insegura com inferiorizada. Ao pé da outra parecia uma pedinte, ao seu ver. “Não pode andar como gente normal? É preciso dar ao cu?”
“É a Andreia, simplesmente a ser ela própria”, esclareceu a rapariga, com um suspiro que saiu mais melancólico do que gostaria, ainda a olhar na direcção para onde esta tinha ido, “Um pouco convencida e provocante, talvez…”
“Gajas como ela irritam-me”, continuou Susana, torcendo o nariz. A última coisa que queria era mostrar que, apesar de concordar que era muito parecida com a outra, achava que não se lhe podia comparar em termos de postura, estilo e aspecto cuidado. Olhar para o cabelo perfeitamente ondulado de Andreia e depois para o seu um tanto espigado e desgrenhado, para a forma como a outra se apresentava, na última moda e depois para a sua roupa larga e um tanto andrajosa, era a facada incendiária no seu orgulho.
“A Mónica também era do género”, respondeu Daniela, carrancuda. Cada vez que se lembrava da existência dessa sentia-se inferiorizada. Como se alguma vez lhe passasse pela cabeça competir com a beleza da ex da namorada, ou com o que quer que ela tivesse, a rapariga certamente não tinha.
“A Mónica era diferente”, teimou a loura, não querendo dar o braço a torcer. A simples presença de Andreia no mesmo quilómetro quadrado era suficiente para lhe fazer o sangue ferver. Era o seu orgulho que estava em causa e já nem se importava com o efeito das suas palavras.
“Sim, está bem”, disse apenas, a morena, revirando os olhos. Por muito mal que se sentisse não queria que houvesse picardias, tinha que se resignar a calar-se, coisa que não gostava de fazer, sendo a pessoa orgulhosa que era. Murmurou as palavras seguintes como um desabafo, “Chata do caraças…”
“Disseste o quê?”, zangou-se Susana, a ficar vermelha. Na sua mente já estava a ponderar o pior, que a namorada se estivesse a babar perante a imagem da outra ou algo do género.
“Nada, Susana, nada”, replicou Daniela, guardando para si tudo o que desejava dizer. Estava tão bem com a loura que não queria estragar o que tinham. Era uma pessoa muito calma mas encontrava-se prestes a explodir.
“Acho bem que não tenha sido nada”, prosseguiu Susana, agora completamente cega de raiva, ciúme e insegurança, “Ai de ti que te atrevas a pensar naquela puta”
“Cala-te, por favor”, tentou a rapariga uma última vez antes que se viesse a arrepender.
“TU NÃO ME MANDAS CALAR!”, gritou a loura, encolerizada, “Tu é que te estavas a derreter toda a olhar para aquela cabra e ainda chamas a Mónica para a conversa, a culpa é toda TUA, quem te dera a TI seres como a Mónica”
Nesse momento Daniela perdeu o controlo. Susana tinha acabado de dizer precisamente aquilo que não queria ouvir. Respirou fundo, antes de encarar a loura. Quando o fez notou que esta ainda não tinha voltado a si. Tanto melhor, pois tinha passado das marcas e ia ouvir.
“CALA-TE, BURRA DE MERDA”, gritou por sua vez Daniela, sempre que se irritava tendia a utilizar vocabulário menos próprio, “Já te ocorreu que se calhar já me sinto mal que chegue por saber que não chego aos calcanhares da Mónica sem que tu mo digas”
As suas palavras não aparentaram acalmar a loura pois já estava a abrir a boca para responder. E teria respondido, caso a rapariga não a tivesse cortado, “Aguentei com a tua birra patética apenas porque não queria ficar mal contigo, mas acabaste de me desrespeitar sem razão nenhuma”
“Fica desde já sabendo que se eu não tão perfeita como a Mónica linda”, finalizou a rapariga, já sem se importar com a coerência do que dizia, “Tu também não és metade do que a Andreia é”
Susana finalmente deixou de tentar retaliar, limitando-se a abrir e fechar a boca estupidamente. Daniela foi acalmando aos poucos, ficando cansada. Tirou outro cigarro, na esperança que recuperasse. Ia já a meio, quando a outra finalmente se manifestou, num tom fraco, “Desculpa…fui tão estúpida”
“Deixa…também exagerei”, disse a rapariga, dando outro bafo, “Esquece que disse a última parte”
“Não…não sei o que é que me passou pela cabeça”, lamentou-se a loura, incapaz de encarar a namorada. Ficou-se a olhar-lhe para as mãos, sorrindo ao ver o anel a reluzir no dedo desta. “Fiquei insegura…ela apresenta-se tão bem e eu ando sempre ranhosa”
“Suse, não digas isso”, confortou Daniela, afagando o cabelo da outra, carinhosamente, “Até gosto mais assim, adoro essa tua simplicidade”
A loura levantou a cabeça, encarando finalmente a rapariga, com os olhos vidrados, “De certeza que não sentes nada por ela?”
“Ela nunca me há-de ser indiferente, tal como a Mónica não te é”, respondeu Daniela, apressando-se a colocar um dedo nos lábios da outra, antes que esta falasse, “Não digas que não é verdade”
Susana pareceu pensar um instante, só dizendo o que quer que fosse depois, “Isso faz de nós segundas escolhas…mas tivemos a sorte de nos encontrar-mos, é por isso que somos perfeitas uma para a outra”
“Tens razão”, falou a rapariga, abraçando a loura, “Ainda bem que assim é”
Susana sorriu, puxando Daniela para si, de novo para o seu colo, “Esta discussão acaba aqui”
A rapariga beijou-a, acentuando que a discussão tinha acabado. Ficaram no parque mais um pouco, a trocar mimos e a rir cada vez que alguém passava e se chocava. Quando começava a fazer-se tarde, Susana ofereceu-se para levar a namorada a casa.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Capítulo 26

Passou uma semana. Durante essa semana o ambiente familiar em casa de Daniela melhorou um pouco. Esta já deveria ter previsto que, tendo em conta que a mãe a adorava e não era pessoa que aguentar chateada muito tempo, bastava ter explodido numa ocasião ou outra e a raiva passava-lhe. Era só esperar que o tempo fizesse o resto, era a estratégia da morena. Por sua vez, Susana sentia-se aliviada pela melhoria da situação da namorada. Só não se encontrava totalmente em paz porque o ataque de tosse da avó na semana passada não a deixava tranquila. Ainda por cima a idosa mostrava-se extremamente teimosa em relação a ir ao médico.
Faziam três meses, foi o pensamento que logo veio à mente da rapariga mal acordou. Ainda com o seu deslize do mês passado bem presente na memória, prometeu a si mesma que se redimiria. Felizmente para si, a avó da loura tinha combinado consigo que lhes deixaria a casa livre para o dia. À primeira vista os objectos que escolheu para presentear a outra podiam parecer aleatórios, mas Daniela tinha depositado imensa ponderação neles.
Fez o percurso até casa de Susana e à hora combinada estava lá. Serviu-se da sua cópia da chave para entrar sem que a loura desse por isso. Sem fazer barulho, dirigiu-se ao quarto da outra, onde presumiu que esta estivesse. Por acaso estava com sorte, Susana estava a tocar e estava de costas. Ainda pensou em cobrir-lhe os olhos, mas sabia que a loura gostava de tocar de olhos fechados, por isso decidiu-se por lhe dar uma dentadinha ligeira no ombro. O certo foi que Susana deu um salto, alarmada, o que fez com que a morena se risse.
“Porra! Oh amor, não me faças outra destas que não aguento”, disse a loura, ainda a tentar acalmar o ritmo cardíaco.
“És tão medricas, Susy”, brincou Daniela, enquanto abraçava a outra, mordiscando-lhe ao de leve o pescoço.
Susana apertou a namorada contra o seu corpo, mas ficou a olhá-la nos olhos à espera que esta dissesse aquilo que tão esperava ouvir. Ainda com os braços em torno do pescoço desta, Daniela fingiu-se desentendida perante o olhar de cachorrinho da outra, “O que foi?”
Era nessas alturas que a rapariga adorava a sua poker face, conseguiu disfarçar bem a expressão de gozo e o riso que lhe ameaçavam escapar a qualquer momento. Quase que teve pena de Susana quando esta, com o seu beicinho usual, lhe disse, “Esqueceste-te outra vez…”
A morena foi deixando o sorriso escapar-lhe progressivamente, até que não conseguiu conter-se mais e partiu-se a rir, para indignação da loura. Quando finalmente acalmou, com uma lágrima no canto do olho de se rir, falou, “Estava a brincar contigo”
“Ah bom! Estava mesmo a ver que te tinhas voltado a esquecer”, suspirou Susana, aliviada.
“Não mesmo, prometido é devido”, reconfortou Daniela, dando um beijo rápido à loura, “Aliás, espera um segundo”
Deixando Susana, dirigiu-se à mesa da entrada, onde tinha deixado as prendas. Voltou, rezando para que não parecessem estúpidas demais. Assim que voltou ao quarto, viu que a outra estava a tirar algo do armário. Mal esta se virou para si, correu a abraçá-la, simplesmente porque sentiu a necessidade de o fazer. A loura sorriu, apertando-a. Por fim separaram-se e Susana passou-lhe um ursinho de peluche para as mãos e uma rosa vermelha.
“Oh que coisa mais fofa”, exclamou a rapariga, abraçando o urso de pêlo creme felpudo, “E a rosa, opa!”
“Algo para abraçares…quando eu não estou por perto”, disse Susana, afagando a bochecha da namorada, “E a rosa é a minha preferida”
“O peluche não te substitui a ti mas obrigada”, disse Daniela, com um sorriso que ela própria teria achado parvo, mas estava comovida, tinha que dar o desconto a si própria. Beijou a loura novamente, antes de lhe dar o que tinha para dar. Colocou na mão da outra, um par de alargadores metálicos de cor escura e um lírio branco.
“Pode parecer parvo, mas como ambas gostamos de alargadores assim tínhamos uns a condizer”, esclareceu a rapariga, puxando o cabelo para trás para mostrar o seu túnel, consideravelmente mais pequeno que os da outra, “O lírio além de ser o meu preferido tem um silogismo especial para mim”
“Adoro estes!”, disse Susana, abraçando a morena, “Isso nunca me tinhas dito”
“Já reparaste que sempre que se vê lírios brancos à venda, costumam ter sempre as pontas manchadas ou vincadas?”, explicou a rapariga, “Matei-me para arranjar esse…continuando, o branco simboliza a inocência e pureza, mas o branco é facilmente manchável…vejo isso como uma metáfora para o facto de também ser difícil encontrar pessoas que tenham a pureza intocada. Decidi dar-te essa flor por isso, porque foste tu que me tiraste a pureza”
Quando acabou, olhou para Susana, mas a expressão baralhada na cara desta e o “Oi? Desculpa perdi-me” confirmaram-lhe as suas suspeitas. Tinha estado a falar para o boneco. Com um suspiro, disse-lhe para deixar estar. Na maior parte das vezes, a lentidão da outra era algo que, aos olhos da rapariga, era amoroso, noutras podia ser frustrante. Esta era uma dessas. Diante de si, estava a loura com um olhar suplicante que por si dizia “vá lá eu quero entender”, portanto a morena voltou a explicar, passo a passo. Quando se fez luz na cabeça de Susana, esta abraçou Daniela, ternamente.
Susana, que nunca tinha sido grande cozinheira, andava, ultimamente, a fazer um esforço para aprender com a avó. E, na sua opinião, estava a fazer progressos, pelo menos a comida já não ficava queimada por fora e crua por dentro. Como no Algarve tinha sido sempre a morena a cozinhar, a outra gostaria de a surpreender. Pediu-lhe para esperar na sala enquanto fazia o almoço.
Meia hora, muito esforço da parte da loura e muita espera da parte da rapariga, e o almoço estava feito. Daniela não soube identificar o que era pelo cheiro, mas quando pôde ver ficou surpreendida. Susana tinha acabado de preparar uma dose descomunal de esparguete com fiambre e natas. Mas o que mais surpreendeu foi o aspecto, que estava óptimo e perfeitamente posicionado no prato. A esparguete fumegava, com os pedaços de fiambre cuidadosamente misturados, envolvidos por um espesso molho de natas.
“Mesmo que não esteja bom diz que gostas só para não me sentir mal”, pediu a outra, com a testa brilhante do esforço, “Tenho andado a aprender”
Daniela sorriu antes de lhe dar um beijo na bochecha. Quando se ia a sentar, Susana puxou-lhe a cadeira, demonstrando mais uma vez o seu cavalheirismo. A rapariga sorriu, novamente, desta vez para si, num momento de “pita de doze anos com uma paixoneta”. Só o aspecto da comida foi suficiente para lhe fazer crescer água na boca, mas quando levou a primeira garfada à boca…o sabor era ainda melhor. A massa estava no ponto ideal! E ela era extremamente esquisita com a esparguete, mas a outra conseguira cozinhar na perfeição.
“Se eu soubesse dos teus dotes culinários, acredita que não te livravas de ter cozinhado lá no Algarve”, disse Daniela, entre garfadas.
“Curso intensivo com a minha avó”, clarificou a loura, mal cabendo em si de orgulho, “Ela faz isto melhor do que eu alguma vez fiz”
“Duvido…”, replicou a rapariga, ainda entre garfadas. Apesar de já ter o prato quase limpo, comia mais apenas porque estava delicioso, “Está perfeito”
Terminaram a refeição, muito a custo da morena, que apesar de se encontrar saciada, comia mais apenas porque adorou, mas tinha vergonha de mostrar a sua faceta mais alarve. O tempo ainda estava agradável, nem demasiado quente nem frio, ameno. Daí que a outra tivesse sugerido que fossem para o jardim. Quando, no percurso até à porta, passaram pelo quarto da loura, a rapariga viu a viola esquecida em cima da cama, lembrou-se de algo.
“Amor…tocas um bocadinho para mim, se faz favor?”, pediu Daniela, timidamente. Não sabia explicar porquê, mas sentira necessidade de chamar a loura por um nome dito querido.
O tratamento surpreendeu a outra de tal forma que não conseguiu dizer mais do que, “Sim claro…”
Foi rapidamente buscar a viola ao quarto e foram para o banco que estava no jardim, que por acaso era a parte da casa com melhor aspecto. Susana colocou o instrumento no colo, começando a dedilhar uma música que sabia ser uma das preferidas da morena. Daniela limitou-se a observá-la enquanto tocava. O ar da loura, a tocar de olhos fechados, enquanto cantava num tom de voz baixa, era algo que, além de transmitir paz a Daniela, ainda a enchia de orgulho. Quando deu por isso, a outra estava a tocar uma das partes que mais mexia com ela duma música.
“Adoro essa parte”, disse a rapariga, com um sorriso contente.
“Ai é?”, respondeu Susana, dando uma palmada na própria perna, “Senta aqui”
Daniela fez como lhe disse, pondo-se confortável no colo da loura. Susana colocou-lhe a viola no colo e, pegando-lhe nas mãos, explicou-lhe a maneira mais simples de tocar a tal música. A morena sentiu-se tocada com o gesto, apesar de ter tudo menos talento musical. Sentir a respiração quente da outra na parte de trás do seu pescoço causava-lhe arrepios. Virou-se para trás, fitando a loura e mantendo o olhar fixo. Susana estava adorável com o seu habitual sorriso feliz das covinhas. Acomodou-se no colo desta, pegou-lhe na cara e beijou-a. A outra não perdeu tempo a reagir, colocando as mãos na cintura da namorada.
A rapariga separou-as, apenas para reparar na cicatriz com que a loura ficara por causa da luta com a machona do bar. Olhou, enternecida, até que lhe deu um pequeno beijo. Susana sorriu, antes de lhe beijar o pescoço.
“Cuidado não me deixes chupões”, pediu Daniela, que não queria mesmo ter que voltar a ouvir a mãe.
“Se não for no pescoço posso fazer?”, perguntou Susana, olhando para o peito da morena, “Estás mesmo a jeito com esse top vermelho”
“Chama-se cai-cai e…AH!”, gritou a rapariga, quando a loura, puxando-lhe a peça de vestuário um pouco para baixo, lhe chupou com força no peito. A algum custo conseguiu tirar a outra do seu peito, mas não antes de esta lhe deixar uma marca vermelha. Voltou a beijá-la, sentindo-a levantar-se, arrastando-a consigo. Sem nunca se separarem, Susana encaminhou-as para dentro de casa, empurrando a morena, de costas, contra a parede. Daniela mal sentiu quando as costas embateram com alguma força na parede de pedra, colocou os braços em volta do pescoço da loura e deixou que esta lhe tirasse o top com um puxão.
Deixando o top algures pela casa, Susana seguiu com Daniela para a sala, a divisão mais próxima. Numa sequência de movimentos algo brusca, a loura pegou na rapariga e atirou com esta para cima do sofá, deitando-se por cima dela. Esta ficou surpreendida com a brutidão da outra, embora até preferisse assim.
“Foda-se, merda de calças”, resmungou a outra, esforçando-se por tirar as calças justas à pele da morena.
Rindo da expressão aborrecida da loura, a rapariga empurrou-a de cima de si, tirando ela própria as calças com toda a calma, só para chatear a outra. Apenas em roupa interior, montou Susana, beijando-a devagar e com calma. Impaciente, a loura agarrou Daniela, intensificando o beijo. Esta, perante a impaciência da outra, agarrou-lhe a camisola e puxou-a para si, obrigando-a a levantar-se. Ainda sentada em cima de Susana, tendo esta apenas as costas levantadas, tirou-lhe a camisola, dando-lhe uma trinca no pescoço com bastante força, o suficiente para sangrar um pouco.
“Agora deu-te para seres bruta?”, perguntou a loura, num tom bruto fingido. Agarrou numa mão cheia de cabelo da rapariga e afastou-a de si, pondo-a logo de seguida deitada no seu colo. Mal a teve onde queria, desferiu uma palmada na nádega desta com tanta força que lhe deixou uma marca vermelha, “’Tá bem”
Outra!...Outra!...Outra!... Daniela não soube ao certo quantas foram, saboreou bem a sensação de dor/prazer de cada uma, a diferença era mínima. Quando Susana a deixou ir, mal se pôde mexer pois toda ela tremia, mas não tinha importância. Não chegou a ter tempo para se recompor, a loura voltou a puxá-la para si e a beijá-la com tanta força que sentiu os dentes desta a ferirem-lhe os lábios. Instintivamente, cravou as unhas nos braços de Susana, sentindo-as quebrar a pele. Quanto mais a outra a beijava mais violentamente, mais esta lhe arrastava as unhas pelos braços, sentindo sangue.
Susana separou-as, puxando Daniela pelo cabelo. Olhou para esta e reparou que lhe tinha feito um pequeno corte no lábio. Apressou-se a dar-lhe um suave e carinhoso beijo, não a queria ter magoado àquele ponto. Por sua vez a rapariga revirou os olhos, não queria ternuras. Empurrou a outra para o sofá e voltou a montá-la. Esta pareceu perceber a ideia e arrancou o soutien da morena com um puxão, apertando-lhe o peito com força. Daniela voltou a beijá-la, puxando-lhe um pouco o lábio inferior, até que lho mordeu, sentindo o sabor a ferro tão característico do sangue.
A loura agarrou nas ancas da rapariga e puxou-a para si, com uma mão manteve-a bem firme no lugar, e com outra tirou-lhe o que restava da roupa interior. Daniela emitiu um ronronar impaciente e colocou as mãos nas costas de Susana, de modo a segurar-se. Quando sentiu dois dedos em si, sem aviso e com brutidão, inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos. Quando a dor escasseou, descobriu que sentia mais prazer assim do que de qualquer outra maneira. À medida que a sensação de prazer aumentava, mais deixava as unhas arrastarem-se, desta vez pelo peito da loura.
“Hm…Susana…”, sussurrou, mordendo o lábio já massacrado. A mão da outra que lhe segurava a anca cravava-lhe as unhas, sangrando um pouco. Não aguentou muito tempo, era demasiado. Deixou-se cair sobre o peito da outra, ainda a tentar recuperar o fôlego. Susana limitou-se a passar-lhe a mão nas costas, ela própria a olhar para o vazio com uma expressão de admiração, “Dani…”
Daniela ergueu-se, ainda atordoada. Sacudindo a cabeça, apressou-se a concentrar-se na tarefa em mãos. Era a vez da loura. Tirou-lhe as calças, tarefa que se revelou mais simples tendo em conta a indumentária típica da outra, fazendo o mesmo às cuecas. Numa versão mais experiente e aperfeiçoada, repetiu o que havia feito pela primeira vez no Algarve. Susana arqueou as costas, gemendo, de olhos fechados. Agarrou o cabelo da morena, mas desta vez não puxou, limitou-se a mantê-la no sítio. Durando menos do que o habitual, a loura deixou-se cair de costas, ofegante. Puxou Daniela para cima de si, colocando um braço em volta da cintura desta.
“Estás bem?”, perguntou Susana, ainda atordoada.
“Foi óptimo”, replicou Daniela, sorrindo como uma criança numa loja de doces, “Nem quero ver como é que tenho a cara…”
Foi interrompida pelo som da chave a ser introduzida no trinco da porta. A rapariga levantou-se de repente e começou a vestir as peças de roupa à pressa. A loura apenas lhe dizia, numa voz cansada para ter calma que não fazia mal. Já tinha as calças quase vestidas quando a cabeça da avó de Susana apareceu à entrada e lhe acenou com o top, “É disto que estás à procura?”
A morena foi tão apanhada de surpresa que deu um grito agudo, o que provocou o riso da parte de tanto da avó como da outra. A senhora, por entre risos, entregou o top à rapariga e foi embora. Daniela vestiu-se, enquanto Susana se deixou ficar deitada no sofá. Quando estava apresentável, a outra fez-lhe sinal para que se sentasse.
“Não estava mesmo em mim, desculpa”, disse, num tom de voz suplicante, “Espero não te ter magoado muito”
“Não fiques assim”, garantiu Daniela, afagando a face de Susana, “Adorei, apesar de mal me puder mexer”
“Nunca tinha feito assim com ninguém”, continuou a loura, enquanto se vestia, “Não sei como fui capaz de te tratar assim”
“Susana, se não tivesse gostado tinha dito”, consolou a rapariga, “Deixei que o fizesses porque sei que noutras condições nunca me levantarias a mão”
Mal concluiu a frase recordou-se do episódio do Sumol e a outra pareceu lembrar-se também, pois olhou para baixo corada. “Já passou”, sussurrou, encostando a cara da loura ao peito, enquanto lhe afagava o cabelo. Susana descontraiu um pouco, pedindo desculpa atabalhoadamente. Ficaram no sofá apenas a ver um filme, na companhia uma da outra. Daniela pensou para si que o televisor antiquíssimo com antena e imagem fraca eram um desconforto para a vista, portanto preferiu ficar apenas deitada sobre o peito da outra, que lhe ia roçando a mão nas costas.
A morena olhou para a janela, através do cortinado semi-desfeito e constatou que já era noite. Tinha combinado jantar em casa e não podia perder tempo. Com o peluche numa mão e a rosa na outra, a rapariga caminhou para o carro, acompanhada por Susana. Como era de noite e estava a cair imensa humidade, a morena estava a tremer um pouco, o que não passou despercebido à loura. Beijou rapidamente a namorada e foi num instante a casa, voltando com uma camisola com capuz preta.
“Podes levar”, disse, entregando à morena a peça de roupa, “Não quero que apanhes frio”
Daniela estava tão enregelada, apenas com o seu top vermelho que não pensou em recusar. Agradeceu e enfiou a camisola pela cabeça. Até não lhe ficava muito mal, só devia ser um ou dois tamanhos acima. E a melhor parte? A camisola cheirava a Susana. Despediu-se da loura com um beijo demorado e seguiu para casa.