sábado, 6 de agosto de 2011

Capítulo 32

Ainda não combati o suficiente o bloqueio criativo, por isso não tenho escrito nada e sinto-me crítica do que escrevi até agora, não me parece suficientemente bom e gostava de dar a conhecer apenas o melhor, menos que isso seria gozar com quem tem seguido a história regularmente, bem como comigo própria.
Afinal acabei por ter mais sucesso do que esperava, só me resta agradecer a todos os leitores por não desistirem do que escrevo apesar daquele mês sem publicar nada :)

Era dia de Natal.
Daniela acordou, muito a custo e com uma dor de cabeça provocada pelos barulho causado pelos seus primos mais pequenos. Ainda tinha que ajudar a mãe a preparar as coisas para o almoço, em família ainda, e só depois iria a casa de Susana. Resmungando levantou-se da cama, esfregando os olhos. Mal os pôde abrir notou que havia dormido demais e que não ia ter tempo de tomar o pequeno-almoço. Algumas obscenidades depois e já se encontrava à mesa, mais desperta, de banho tomado e vestida.
Decididamente não gostava da comida daquela quadra, mas conseguiu engolir sem fazer alguma expressão de desagrado muito má. Conversou com a família, ouvindo os elogios de ambas as avós e metendo-se com o tio. O facto de a avó paterna estar tão senil que era uma conquista distinguir a própria neta da vizinha não foi impedimento para que deixasse de a elogiar, muito para espanto da rapariga. Após almoço saiu, por fim, de casa, ainda com os “guia devagar” a ecoar nos ouvidos.
Apesar do trânsito não demorou muito mais do que o esperado até casa da outra. Pior foi ter que ter estacionado o carro um pouco longe. Tocou à campainha, de prenda perfeitamente embrulhada em papel vermelho na mão. Susana abriu a porta em tempo recorde.
Daniela lançou os braços ao pescoço de Susana, sentindo esta colocar-lhe as mãos na cintura. Afastaram-se uns minutos depois, dando um beijo rápido, ao qual a morena pôs fim mais depressa do que a outra gostaria. Riu-se um pouco, pouco à vontade, recuando um pouco da loura, com alguma vergonha, pois nunca fora de dar prendas. Mordendo o lábio inferior de antecipação, passou-lhe a prenda para as mãos, prenda essa que Susana não abrira, escolhendo antes perceber o motivo da ansiedade da rapariga.
“Estás nervosa amor?”, perguntou, exibindo o seu habitual sorriso que lhe punha as covinhas em evidência, que derretia sempre Daniela, “Entra masé”
A convidada cumprimentar a avó, sempre cordial e simpática. O ar frágil e abatido desta não passou despercebido à rapariga, mas não podia ser indelicada e perguntar. Ignorando os protestos da senhora, ajudou-a a arrumar o que faltava da cozinha. Só então voltou para junto de Susana, que observou o comportamento da namorada com um sorriso a iluminar-lhe as feições.
“Esqueci-me de te comprar uma prenda”, exclamou a outra, cujo plano era, não só testar as águas, como surpreender a rapariga, fazendo uma cara de preocupação.
"Oh eu não me importo", garantiu a morena, sorrindo, "Desde que não me chames amor eu perdoo tudo"
“Mas amor…”, calando-se imediatamente quando viu a cara de Daniela, que aparentava ficar nauseada cada vez que ouvia a palavra amor.
"Susy, o que é que acabei de dizer?", disse Daniela, rindo-se. Susana seria sempre Susana e o hábito de chamar aqueles nomes horríveis estava na sua natureza.
“Pronto, pronto”, apressou-se a loura a dizer, por muita piada que tivesse provocar a rapariga, tinha assuntos mais urgentes para falar com esta. Respirando fundo, desabafou com a morena, o que a atormentava desde o dia anterior. Nos minutos seguintes, Susana contou a Daniela exactamente as palavras que a avó tinha dito, fazendo depois a pergunta do costume “não estou a perceber”, pois havia pormenores que lhe tinham fugido ao alcance da compreensão, apesar de ter entendido o principal.
Daniela, apesar de não ter grande convivência com a avó da namorada, tinha alguma empatia para com esta, que sempre a tratara como uma segunda neta. Demorou um pouco a responder, não sabia que palavras utilizar. Depois de ponderar um pouco, falou, "A tua avó já é velhinha e por isso não tem um sistema imunitá...não tem uma saúde muito forte, sabes disso. O que te disse ontem foi que tem um problema sério nos pulmões e que pode não sobreviver muito tempo"
“Eu percebi que era sério, mas não consegui responder”, pronunciou-se a loura, que agora que percebia exactamente o que lhe havia sido dito, sentia os olhos a marejarem-se de lágrimas, até que finalmente deixou que uma lhe desliza-se pela face, apenas para que a rapariga a remove-se, com um beijo, confortando-a, “Sabes que ela disse-me que podia ser o seu último natal comigo, isso deixou-me muito abalada”
Tentando animar a outra, se é que havia como animar uma situação daquelas, a morena lembrara-a que nunca chegara a abrir a sua prenda. Apanhou-a da outra ponta do sofá e passou-a à outra. Susana abrira, sem grandes pressas, visto que se encontrava tristonha, o embrulho que a rapariga lhe dera. Tinha o formato de um livro e a capa imitava um antigo. Antes de o abrir, a loura olhou para a namorada, confusa, pois ia jurar que esta estava ciente que nunca tinha lido um livro de uma ponta a outra na vida. Daniela encorajou-a a ver.
Na primeira página, estava uma foto de ambas, tirada no Algarve, uma em que Daniela estava a dar o seu gelado a provar a Susana e esta estava com um bigode de baunilha. Com um sorriso enternecido, a loura folheou mais um pouco o álbum. Estavam praticamente todos os momentos que tinham passados juntas, por vezes, a loura nem reparava que a rapariga estava de máquina na mão e outras vezes nem reparava como é que a morena lhe roubava as fotografias. Ou ela era muito esperta, ou a loira era muito burra.
Quando acabou de folhear o álbum e deixar escapar vários sorrisos, olhou a namorada nos olhos e beijou-a intensamente, voltando depois a desculpar-se perante a namorada devido ao seu esquecimento de prenda, pensando para si mesma que era bastante esperta e muito boa actriz e que a outra nunca iria desconfiar que na verdade existia um presente.
Daniela apontou para uma foto que se encontrava no inicio do álbum, uma que por acaso encontrara no facebook do bar, em que Susana estava na mesa de mistura abraçada à morena. A rapariga achava que tinha ficado horrenda, mas não podia deixar de incluir a foto. Tinha sido tirada no dia em que começaram a namorar.
De seguida, mais uma troca de mimos, mais comedidos do que ambas prefeririam, simplesmente não era boa altura. Susana, cessou de beijar Daniela, para encostar os lábios à orelha desta, o que sempre arrepiara a morena e disse, “Que te apetece fazer hoje? Quero algo em que possamos incluir a minha avó por um bocado, se não te importares”
Nesse momento a voz enfraquecida da avó fez-se ouvir, pedindo a Susana que fosse às traseiras buscar mais lenha para a lareira. Mal a loura abandonou Daniela, a avó apareceu na sala, sorrindo com um álbum de fotos na mão. Tinha um aspecto antigo e de não ser tocado há bastante tempo. "Estava a ver que ela não te largava", disse a idosa. A rapariga riu-se, arranjando espaço para que a senhora se sentasse no sofá. Só então observou melhor o aspecto do álbum. Estava enfeitado com ursinhos e balões. A avó sentou-se junto à morena e colocou o álbum entre ambas, "Ela nem sempre teve aquele ar de sem-abrigo, era tão querida"
Daniela sorriu, antes de abrir na primeira página, onde estava uma foto de Susana tirada havia vinte e um anos atrás, em que esta se encontrava com um fatinho azul claro, no colo de uma mulher loura e de um homem de cabelo mais escuro e olhos claros. Este último tinha covinhas, tal como Susana. Ambos sorriam ao ver a bebé esticar o braço para tentar agarrar o colar da mãe.
As páginas tinham fotografias com o sucessivo passar dos anos em que se notavam ligeiras diferenças: a maneira de vestir, de fatinhos de treino do pokemon a calças de ganga largas e rasgadas, de brincos simples a alargadores, cada vez maiores e de corte à tigela, adorável, diga-se, a compridos com rastas. Já as feições permaneceram inalteradas, excluído o efeito do passar dos anos. “E o facto de estar cada vez mais sexy…”, pensou Daniela.
Logo após acabar de passar a última página do álbum, Susana apareceu, carregada com troncos, que colocou num cesto junto à lareira. Observou com um ar enternecido a avó a conviver com a namorada. O sorriso que tinha desapareceu quando se apercebeu do que estavam a ver.
“O que é que está a fazer?”, perguntou, chateada, tirando o álbum das mãos da namorada e indo arrumá-lo. Voltou à sala e ralhou à avó, “Já tivemos esta conversa depois do que se passou com a Mónica, mais nenhuma namorada minha ia ver aquele álbum”
“Não te preocupes que o que se passou não se volta a repetir”, assegurou a avó, “A Daniela é boa menina”
A morena limitou-se a observar, ora uma, ora outra, pelo canto do olho. O que quer que tenha acontecido teve, mais uma vez, a ver com Mónica. Apesar de não saber muito dela, a rapariga apenas lhe via um aspecto positivo que era, isso mesmo, o aspecto. Não fez perguntas e limitou-se a proferir, com um sorriso, “Tens as covinhas e os olhos do teu pai”
Susana, que não esperava nada menos do que ouvir Daniela gozar abertamente, ficou um tanto abalada pelo comentário. Ao contrário do que havia esperado de Mónica há uns anos atrás, que não se coibira de fazer troça, tanto com o aspecto da loura quando mais nova, como com o facto de os pais a terem deixado para trás com a avó. Era, de todos, o ponto em que mais lhe doía que tocassem e a ex namorada soubera como, não só colocar o dedo na ferida, como abrir esta ainda mais. À pala do que se passara com os pais, Susana ficara com um severo problema de auto-estima.
De modo a quebrar o ambiente pesado que causara que ficasse a pairar na sala, a loura lembrou-se da prenda que tinha para a rapariga, prenda essa que lhe dera imenso trabalho a fazer. Dirigiu-se ao quarto rapidamente, indo buscar o embrulho ao interior de uma gaveta. Coçou a cabeça ao observar o aspecto deste, mas concluiu que embrulhar prendas não era o seu forte. O embrulho simplesmente estava horrendo, todo amachucado e cheio de fita. Num acesso de fúria, arrancou o papel que o envolvia, deitando-o no lixo, apenas para se arrepender a seguir.
Foi então que teve uma ideia.
“Então mas não te tinhas esquecido de comprar alguma coisa?”, perguntou a morena, que no fundo sempre soubera que a outra só podia estar a gozar. Se Susana adorava dar-lhe prendas por todos os motivos e mais alguns, nunca iria deixar de perder uma oportunidade como o Natal.
“E não comprei nada”, esclareceu a loura. O sorriso brincalhão desta foi a última coisa que viu antes que esta a vendasse, colocando-lhe as mãos em frente dos olhos. A rapariga sentiu-se encaminhar, desde a entrada do quarto até à secretária. O percurso não foi feito sem acidentes, chegando mesmo a tropeçar e a cair para a cama, arrastando a outra consigo. Sendo Susana como era, não podia deixar de encontrar algo positivo na posição em que se encontravam, procedendo a beijar Daniela, enquanto dizia, “Também podemos deixar a prenda para daqui um bocadinho”
A morena limitou-se a fazer a outra rolar de cima de si, rindo-se, “Quero a minha prenda JÁ”
Com um suspiro de derrota, a loura levantou-se, dando a mão à rapariga para que se pudesse levantar também, antes de a vendar outra vez. Ao chegar ao pé do local onde se encontrava a prenda, a outra retirou as mãos da cara da morena. Daniela, ao pegar no papel, reduziu-se a abrir e fechar a boca, sem articular o que quer que fosse.
Tratava-se de um desenho a carvão de ambas, na praia delas. Ali, Daniela estava encostada ao peito de Susana, que lhe tinha o braço por cima dos ombros, estavam ambas sentadas e a sorrir uma para a outra. Não tinham uma única foto que correspondesse a algo sequer semelhante ao que estava retratado, tinha sido tudo imaginação da loura. A rapariga, que se encontrava pronta para atirar com aquilo à cabeça da outra caso fosse algo caro, agora estava pronta a chorar. Devia ter uma tendência para que todas a suas raparigas lhe dessem desenhos, mas aquele deixava o de Sofia a um canto.
“Susana…”, limitou-se a dizer, com a garganta apertada, antes de se virar para a loura e de a abraçar.
Susana, com a cara de Daniela no seu pescoço, afagou as costas a esta. Não cabia em si de orgulho, “Vou levar isso como um adorei”
O resto do dia foi passado com as pessoas daquela sala a fazerem uma actividade conjunta. Fora até Daniela que propusera que jogassem às cartas, até porque era uma oportunidade para exibir todos os truques que sabia fazer com um baralho. A loura que não entendia o fascínio da rapariga cada vez que aprendia uma manobra nova, pôde finalmente ver. Mas o melhor foi o facto de terem podido incluir a senhora. Susana estava verdadeiramente feliz por não ter de optar por passar aquela quadra ou com a namorada ou com a avó.

1 comentário:

  1. Entendo que o desejo seja mesmo de publicar o melhor possível. Mas também acho que é normal que quantos mais feedback's positivos tens, mais exigente te tornas contigo própria.
    Continuo a adorar! Gostei especial do "miminho" das duas raparigas por tentarem proporcionar algum conforto à avó de Susana. Apesar que não me espanta, visto que se nota mesmo o amor entre aquela neta e avó.
    Quanto à escrita, acho maravilhosa.
    Aguardo por mais.
    Uma viajante dos blogues :) *

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