Bom, 2 anos de trabalho e 100 capítulos depois, acabou, finalmente. Mas, não podia deixar de referir algumas pessoas a quem tenho bastante a agradecer por terem ajudado sempre que bloqueava e, acima de tudo, por levarem comigo, a sério, muito obrigada :D Sem mais demoras:
Q, sem ti 50% de isto não teria sido possível e bem que te chateei, portanto obrigada mil vezes, espero que tenhas gostado do resultado final. Tiveste mesmo uma paciência enorme para mim e tenho-te a agradecer mais por isso do que por me ajudares propriamente!
Viajante dos blogues, muito provavelmente o meu único público mas também te tenho a agradecer porque, se não fosses tu, faltar-me-ia a motivação para acabar a história, portanto todos os obrigadas são pouco.
The Sparrow, simplesmente porque te abstiveste de gozar e só por isso já estou eternamente grata para com a tua pessoa. Sessões de bisca na praia e mais não digo :D
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Capítulo 100 - Epílogo
“Para o menino Afonso, uma
salva de palmas!”
Ainda os últimos entoares do tradicionalmente
alegre cântico dos “Parabéns” não havia sido proferido, já Afonso soprava as
velas, com o entusiasmo típico de qualquer criança que acabara de completar
cinco anos. Quando a última se extinguiu, nem teve tempo de recuperar o fôlego,
já Leonor, correndo para ele no seu passo leve, o abraçara. Se um rubor não
demorou a contrastar com a pele clara da face da criança, muito para deleite
dos espectadores, ainda menos demorou a acentuar-se quando a rapariga lhe
beijou a bochecha, o que resultou numa onda de risos.
Perante a atenção, Afonso,
muito tímido, escondeu-se atrás da mãe, que lhe afagou os caracóis negros, algo
que o reconfortava fosse qual fosse a situação. No conforto do seu sofá, Susana
não pôde deixar de se enternecer ao observar o cenário, adorava a sua família e
não havia nada que não fizesse por ela, tanto que praticamente que abdicara da
sua carreira após não ter podido estar presente para ouvir a primeira palavra
do filho. No entanto, nem com a responsabilidade e maturidade acrescidas,
conseguiu evitar passar a oportunidade para provocar Guida, “Daqui por uns
tempos o meu filho vai andar a pitar a tua filha”
Fosse nos tempos de primária,
fosse nos tempos actuais, a ousadia valia-lhe sempre uma resposta dolorosa que,
daquela vez, veio sob a forma de uma cotovelada nas costelas, “Au…”
Leonor era a luz dos olhos
tanto de Guida como de Marta e ai de quem fizesse um comentário menos apropriado.
Com quatro anos, a criança já prometia vir a tornar-se numa fonte de orgulho. Ainda
naquele dia, Guida sentara a filha no colo e a deixara segurar o volante do seu
carro, derretendo-se como um cubo de gelo ao sol ao ver o entusiasmo da
criança. Porém, havia coisas que, simplesmente, nunca iriam mudar e a reacção
de Guida quando Daniela lhe passou uma fatia generosa de bolo para as mãos era
uma delas, “Ai! Tem cuidado com as minhas ancas!”
Num tom propositadamente agudo
de sátira, Susana troçou, em resposta. Refilando, Guida, ao invés de responder,
como antigamente, num registo mordaz, talvez a maternidade a tivesse amolecido,
disse, com um beicinho, “Queria ver como é que ficavas se a Dani parecesse o
boneco da Michelin!”
A loura ponderou a hipótese
por uns instantes. Daniela tinha, de facto, ganho algum peso, havia uns anos, não
fosse ter um trabalho que consumia muito do seu tempo, embora nada que não
tivesse perdido, com alguma dedicação. Mas nada que a incomodasse. Acabou por
responder, sorridente como se ela também estivesse a receber prendas, “Havia
mais para eu brincar!”
Daniela, ao apanhar aquela
parte da conversa, revirou os olhos, embora não deixasse de sorrir, ao afagar o
cabelo a Susana, que lhe encostou a cara à barriga e olhou para cima, para ela,
antes de lhe piscar o olho. Sempre hiperactivo, André, o cabo-verdiano adoptado
por Rodrigo e Tiago puxava-lhe a mão livre, pedindo outra fatia de bolo. Tinha
já sete anos e vivia com eles desde os dois. O processo de adopção decorrera
sem problemas e o rapaz era o orgulho e fonte de alegria dos pais. Era uma
criança alegre, inteligente e bem comportada, apesar de a sua asma o impedir de
praticar desporto tanto quanto gostaria, o que fazia com que tivesse imensa
energia acumulada.
Era com grande pena de Daniela
que Pedro não se encontrava presente. Estando na área em que estava, o melhor
para ele em termos profissionais era ir para o estrangeiro e fora mesmo isso
que fizera, havia um par de anos. Ainda comunicavam regularmente e a vida
corria-lhe bem. João Pedro e Maria João, os afilhados da morena, estavam ambos
com nove anos de idade e saudáveis. Em suma, o único senão eram mesmo as
saudades.
Limpando carinhosamente os
lábios a Leonor com um guardanapo, Marta passou-lhe para a mão uma caixa
embrulhada em papel colorido para que desse a Afonso. A rapariga, altiva,
caminhou para ele, sempre confiante. Era engraçada a semelhança física que
tinha com Marta, com cabelo alourado sedoso e olhos âmbar, embora fosse alta e
de personalidade vincada. No entanto, aquela ocasião em que tentara trepar uma
árvore com Afonso e tivera dificuldades para saltar de um dos ramos para o
chão, acabando o rapaz por a convencer, através de muita gentileza, seria um
segredo só dos dois: se ela não queria admitir que tivera medo, ele não queria
dar parte fraca e admitir que quando ela lhe caíra em cima, o aleijara. Assim
que se aproximou, estendeu-lhe o presente, dizendo, “Parabéns, Afonso!”
“O…Obrigado, Leonor”,
agradeceu ele, nunca deixando de fitar os sapatos. Se Leonor herdara a
extroversão de Guida, Afonso não tinha o à vontade de Susana. Apenas podia
dizer que em termos de feições era muito parecido, os mesmos olhos azuis e,
principalmente, as mesmas covinhas que se tornaram evidentes quando encontrou
coragem para sorrir.
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Quando os convidados foram
embora, algum tempo mais tarde, Afonso, rejubilante de alegria, ainda a tocar
na bochecha, onde Leonor lhe dera um beijo, confessou a Susana, “A Leonor é a
rapariga mais bonita que já vi! Quando for grande vou casar com ela!”
Susana riu, enternecida pelo
que deveria ser a enésima vez naquele dia, e afagou-lhe o cabelo, muito para
contentamento da criança, que fechou os olhos, “Tenho a certeza que sim”
Subitamente, dando um toque no
braço da loura, Afonso exclamou, antes de disparar a correr pela casa, animado,
“És tu a apanhar!”
Os melhores esforços da
criança que, apesar de tudo, até era bastante rápida e incansável, revelaram-se
infrutíferos contra Susana, que era maior e nunca descurara a boa forma física.
Ainda assim, a loura deixou-o ganhar algum avanço e não correu tão depressa
quanto conseguia. Depois de circundarem a mesa diversas vezes e de passarem por
cima de uns quantos móveis, a loura conseguiu passar-lhe o braço em torno da
cintura, pegando-lhe ao colo, “Apanhei-te!”
Seguiram-se mais umas
tentativas de Afonso escapar, mas Susana manteve-o bem seguro, até que lhe fez
um ataque de cócegas que o deixou a contorcer-se, por entre gritinhos. Apenas
teve piedade quando a criança já nem conseguia respirar, no preciso momento em
que Daniela deu, finalmente, sinal de si. Trazendo consigo a prenda de Afonso,
Daniela apareceu à entrada da divisão com algo muito pequeno no colo,
embrulhado numa manta. Ajudando o rapaz a pôr-se de pé, a loura mal cabia em si
de entusiasmo, decerto que o filho iria adorar. Só mais uma pequena coisa e o
dia seria perfeito, foi o que pensou ao observar o seu bongo em cima da mesa.
Colocando-se de modo a que
Afonso conseguisse ver o que estava na mantinha, a morena aguardou, curiosa,
por ver qual seria a reacção. Adormecido, estava um cachorro rottweiller com
apenas duas semanas de idade. A loura inclinara-se mais para um labrador
afável, mas quando os olhos do filho pousaram naquele, fora amor à primeira
vista e quem era ela para o contrariar. Quase a perder os sentidos de
felicidade, o rapaz esticou os braços para lhe puder pegar. Vendo o entusiasmo
do filho, Daniela perguntou, “Já pensaste como é que lhe vais chamar?”
“Hm…”, ponderou a criança,
enquanto ajeitava o cachorro no colo, para que não acordasse. O pêlo preto
escuro era suave e a cabecinha escondida entre as patas dianteiras faziam dele
a visão mais adorável. Mal podia esperar para lhe ensinar a dar a pata e a
apanhar um frisbee.
“Que tal Mocas?”, sugeriu
Susana, cujo olhar se desviara por um bocadinho da cena que se desenrolava
diante de si e voltara para o bongo. A sugestão valera-lhe um revirar de olhos
por parte da morena, a quem o foco da sua atenção não passou despercebido.
“Gosto!”, disse Afonso. Ficou
a mimar o seu novo animal de estimação, sendo óbvia que a adoração que a
criança nutria por ele era recíproca, até que o sono tomou conta de si e acabou
por adormecer. Pegando-lhe ao colo, a loura levou-o até ao quarto,
certificando-se que não o acordava.
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“Não acordou?”, perguntou
Daniela. Desde que Afonso nascera que tivera que passar a fumar fora de casa e
a varanda era o seu local preferido para o fazer, uma vez que o condomínio em
que viviam proporcionava uma vista fenomenal para o mar. Ao ver o olhar de
reprovação de Susana, apagou logo o cigarro que acabara de acender, “Tens
razão, devia largar isto por uns tempos”
“Também não fumo ao pé de ti”,
disse a loura, pondo-lhe uma mão sobre a barriga e descansando o queixo sobre o
ombro dela, “Respondendo à tua pergunta, não acordou e mesmo que lhe atirasse
granadas para cima, não acordava”
“Parece alguém que eu cá sei”,
brincou a morena, encostando a cabeça à de Susana. Ficaram assim durante um
período de tempo indefinido, sem que nenhuma falasse, até que a morena quebrou
o silêncio, “És feliz?”
“Tenho a minha família,
finalmente, e não há nada mais importante para mim”, respondeu a loura,
beijando Daniela, “E tu?”
“Hm, hm”, concluiu a morena.
Talvez não fosse a vida que muitos teriam idealizado, talvez todos aqueles
“ses” a início poderiam ter resultado em algo muito diferente, mas não o
trocava por nada deste mundo.
"A vida não passa de uma
oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas
têm o abraço, as almas têm o enlace."
- Victor Hugo
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