terça-feira, 16 de agosto de 2011

Capítulo 41

Ah já tinha saudades viajante dos blogs :3 espero que estejas melhor agora


Passaram três dias, mas pareciam três anos na perspectiva de Susana. Três dias do mais fechado isolamento, sem nada para além dos seus pensamentos e do conteúdo da caixa. Nesse tempo esgotara o seu stock quase na totalidade. A erva havia sido a primeira e conseguiu acabá-la num dia e numa noite. Quando esta já não fazia o efeito pretendido, passou para a coca, que lhe proporcionou os momentos de maior alegria desde que tudo aquilo acontecera. Poupou os ácidos e as pastilhas, estas últimas guardava-as para as noites em que se sentisse esgotada.
Estava estendida no sofá quando o telemóvel tocou, fazendo-a voltar-se. Era o patrão. Suspirando ponderou se deveria atender desta vez, tinha ignorado todas as outras tentativas de comunicação por parte do dono do bar. Convinha não evitar mais. Franzindo o sobrolho, atendeu, emitindo um, “Hm?”
“É “Hm?” o melhor que me sabes dizer?”, rosnou a voz efeminada do patrão. Sempre que se irritava tendia a fazer uma voz ainda mais fina do que o habitual. “Não metes cá os pés há dias e é assim que me falas?!”
“Sim está bem, vá lá directo ao assunto”, respondeu a loura, visivelmente chateada. Acrescentou num murmúrio quase inaudível, “Cabrão do paneleiro…”
“Fechei os olhos a muita asneira que fizeste e aos problemas que já me causaste”, continuou o outro, elevando a voz progressivamente, “Mas a partir do momento em que desapareces e nem dizes nada e deixas tudo pendurado na altura do ano mais lucrativa, não posso deixar passar”
“Tive uns problemas, desculpe, devia ter avisado”, disse Susana, lembrando-se que faltara a uma festa que prometia ter sido lucrativa, “Não volta a acontecer”
Mal acabara a frase, o patrão riu-se, sem qualquer vestígio de boa-disposição, “Pois não volta a acontecer, garanto-te, sabes porquê?”
“Ahm?”, perguntou a loura, que não tinha percebido a última parte.
“Porque não precisas de vir trabalhar nem hoje nem nunca mais”, respondeu o outro, numa voz cantada, como se troçasse dela, “Arranjei um bom substituto para ti, depois passas por cá e fazemos contas, boa tarde”
Desligou, deixando Susana boquiaberta. Ficou a processar a informação durante um instante. Primeiro ficara sem a única família que lhe restava, depois sem trabalho. Provavelmente o substituto era André, que trabalhava como porteiro mas sempre quisera ficar-lhe com o lugar. A loura nem se admirava se este tivesse andado a mamar o patrão para ficar com o trabalho dela. Agora estava preocupada, ela e a avó só conseguiram manter a casa e pagar despesas através da reforma de uma e do salário de outra juntos e mesmo assim ficava à conta. Se bem que já não ia haver as despesas dos medicamentos, mas mesmo assim não sabia como ia fazer. Sentiu-se mais sozinha do que em qualquer outro momento que se lembrasse.
Talvez fosse altura de pôr termo ao seu isolamento…Quais eram as hipóteses? Guida, apesar de óptima amiga, era muito barulhenta e Susana não estava para ter que ouvir a raiva desta mal soubesse que tinha conseguido ser despedida. Daniela devia estar na praia, mas naquele momento a loura não se importava muito se arrancava a morena de lá. Ligou-lhe, esperando ardentemente que atendesse. Chamava e chamava, com os nervos de Susana sempre a aumentar. Já estava para desistir, quando a rapariga finalmente atendeu, sem dizer fosse o que fosse.
“Dani?”, sussurrou Susana, num tom de voz tão frágil que era quase infantil, “Podias vir…por favor?”
“Sim…claro”, respondeu Daniela, num tom hesitante. Desligando de seguida, mas não antes de se ter despedido.
Susana voltou a pousar o telemóvel, agora sentindo-se mais aliviada. Podia não se ter livrado de todos os seus transtornos, mas pelo menos podia encontrar algum conforto na namorada.

1 comentário:

  1. Não entendo o porquê de Susana não ter "lutado" pelo emprego. Entendo que ela não estivesse totalmente lúcida quando lhe ligaram. Mas, talvez se tivesse contado o que se tinha passado, não tivesse sido despedida. :x
    Quanto ao facto de apenas após ter ou quatro dias ter aceitado o apoio da Daniela, é algo "mau". Pois deviam estar mais juntas que nunca! No entanto, é compreensível também o isolamento.
    Conclusão : Deixas-me num dilema de opiniões !
    Mas gosto disto :)
    Uma viajante dos blogues :) *

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