quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Capítulo 61

Aquele beijo reavivara todas as esperanças de Susana de se reconciliar com Daniela, assim ficou a saber que não lhe era indiferente. Se dependesse apenas da sua vontade, teria voltado a insistir no dia seguinte mas, conhecendo a rapariga como conhecia, esta estaria a espumar de raiva. Por isso, a loura teria que conter o seu entusiasmo e esperar que a morena acalmasse e, sendo esta teimosa e de ideias fixas, a espera seria longa, para mal dos seus pecados. À partida, Susana sabia que quaisquer flores, chocolates e peluches seriam mandados à sua cabeça, logo essas opções foram imediatamente excluídas.
Porém, não viu mal em mandar uma mensagem a desejar um feliz Natal e uma almofada com “You’re Special” e um ursinho a abraçar um coração gravados. Claro que tivera que enviar a prenda por intermédio de Marta…sem dúvida que Daniela regurgitara o peru mal vira a prenda, mas pelo menos não a devolvera. E mais que isso, a rapariga respondera à mensagem de Bom Ano Novo, até porque “Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura”, como dizia a sua defunta avó. No entanto, Susana também não era de ferro, mais cedo ou mais tarde sucumbiria à tentação de voltar à carga.
Esse dia chegou em finais de Fevereiro. A loura sabia que a hipótese de fazer uma emboscada à rapariga assim que esta terminasse as aulas, e a outra sabia o horário desta, cortesia de Marta, estava fora de questão, o mais provável seria a morena dar-lhe uma tampa pública e, de seguida, persegui-la com o carro até a colar ao asfalto. Portanto, ir até casa de Daniela de tarde, pois sabia que os pais não estariam lá, era a alternativa mais viável. O que faria assim que lá chegasse não sabia mas iria ter alguma ideia entretanto.
Foi assim que deu consigo a estacionar a mota no cimo da rua, para que o barulho não a denunciasse e a estudar a melhor maneira de entrar em casa da morena. Se batesse à porta o mais provável é que nem a abrisse, de que servia tentar? O que lhe valia era que conhecia os cantos todos à casa. Saltando o muro, não perdeu tempo a colocar-se por baixo da janela da rapariga. Os cães nem deram sinal, eram ambos muito velhos para tal, além de que a conheciam. Sim, a sorte estava do seu lado. Usando toda a sua destreza para se empoleirar e trepar até à janela, foi com uma gota de suor a escorrer-lhe pela testa que Susana se conseguiu içar para o quarto de Daniela.
Estava a recuperar do esforço, quando sentiu algo cortar o ar e espetar-se na estante atrás de si. Olhando para o lado, viu uma tesoura metálica reluzir, cravada funda na madeira, o que a fez ver tudo andar à roda.
“Mas tu estás parva?!”, gritou-lhe uma Daniela enraivecida, “Apareces aqui assim, podia ter-te aleijado a sério! E o que é que estás a fazer aqui?!”
“Mas…mas…”, balbuciou Susana, cujo olhar saltava entre a rapariga furiosa e a tesoura ao seu lado, “Tu não me ias abrir a porta de outra maneira!”
“Podes ter a certeza que não!”, rosnou a morena, apontando a saída, “Agora põe-te a andar”
“Espera! Podes só dar-me um minuto para dizer o que tenho a dizer?”, pediu a loura, mesmo que, pelo sim pelo não, tivesse tirado a tesoura do alcance da rapariga, “Depois vou embora”
“Está a contar, já só tens cinquenta e cinco segundos”, gozou Daniela, batucando com o pé no chão.
“Eu sei que ainda mexo contigo, estarmos separadas é ridículo”, começou Susana, dando um par de passos na direcção da rapariga, “Gostamos uma da outra, não devíamos estar a desperdiçar o que poderíamos voltar a ter…”
“Nem sempre o gostar é suficiente”, replicou a morena, recuando, à medida que a outra se aproximava. A respiração irregular denunciou o seu nervosismo, o que fez a loura sorrir, enternecida, embora o sorriso tivesse desaparecido quando se lembrou do motivo.
“Não precisas de ter medo”, assegurou Susana, voltando a sorrir, antes de esticar a mão para Daniela, “Não sou assim, sabes isso…perdi a cabeça e queria pedir-te desculpa”
Hesitante, a morena foi olhando para a mão da outra, ocasionalmente desviando o olhar, incerta. Durante todo esse tempo, a loura nunca recuou nem desistiu, mantendo sempre o sorriso, como que se a encorajasse. O receio da rapariga era o facto de, a qualquer momento aquela mão poder esbofeteá-la de novo. No entanto, tratava-se de Susana, a pessoa com quem passara momentos que não trocaria nem por nada. Respirando fundo, Daniela deu um passo em frente. Pouco a pouco, já tocava com a ponta dos dedos nos da loura, podendo saborear de novo aquela sensação quente e reconfortante tão familiar. Ousando avançar um pouco, a outra tomara a mão da morena na sua, sentindo a pele macia, à medida que a acariciava.
Levando a mão aos lábios, muito para surpresa da rapariga, Susana beijou-lhe as costas da mão, ternamente, antes de puxar a morena para si. Ainda com uma mão envolta na da loura, a rapariga foi contornando as feições de Susana com a outra, descendo pela bochecha, passando pelo pescoço, até lhe parar no peito. O ritmo do coração desta continuava acelerado, como sempre estivera. Daniela olhou para Susana, vendo-a através de olhos semicerrados. Foram-se aproximando, até que encostaram as testas, agora de olhos fechados. Colocando a mão livre por baixo do queixo da morena, a outra tomou a iniciativa de a beijar, encostando-a a si tanto quanto possível.
Daniela correspondeu, satisfazendo as saudades sofregamente. Com alguma pena sua, a loura interrompeu-as, colocando um dedo nos lábios da rapariga, antes de sussurrar, de olhos fechados e sorriso característico das covinhas presente, “Amo-te”
“Também…hm”, respondeu a morena, antes de voltar a beijar Susana. A partir daquele momento todas as inibições que sentia dissiparam-se, já só desejava matar todas as saudades que sentia. Deixou que a outra as encaminhasse para a cama, sem nunca se separarem. Como Daniela sentira falta da forma como Susana conseguia ser tão delicada, ainda que nada hesitasse, do peso desta sobre o seu, a sua pele em contacto com a sua.
“Espera…”, pediu a loura, levantando-se um pouco, “Tens a certeza?”
“Hm hm”, anuiu a rapariga, abraçando-a, aproximando-a de si. O cheiro a baunilha e coco da outra nunca cessava de fazer a morena perder a força nas pernas, esse e o aroma a tabaco nas mãos dela, para muitas pessoas poderia ser desagradável, mas era-lhe tão familiar que Susana sem ele não seria Susana.
“Amo-te”, disse a outra, sorrindo de modo meigo. A partir desse momento, nada mais foi dito, não era preciso, ambas sabiam que não havia margem para duvidas e que era ali que ambas queriam estar.

2 comentários:

  1. A-D-O-R-E-I .
    Esmeraste-te mesmo. Cada vez mais sei que vale a pena a espera do próximo capítulo.
    Agora é que eu quero ver todos os passinhos destas duas e o que tens preparado para elas daqui para a frente. Quero ver a reacção das duas, perante isto. (Até porque aposto que a Daniela ainda vai ser casmurra.)
    Espero por mais!
    Uma viajante dos blogues :) *

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  2. posso dizer que gostei?
    Q

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