domingo, 11 de setembro de 2011

Capítulo 57

Daniela acordou tal como adormeceu, em posição fetal. Sempre que buscava conforto, deitar-se assim ajudava, mas só um bocadinho. Os acontecimentos do dia anterior teriam sido um pesadelo? É que pareciam tão distantes…A dor que sentiu no braço quando se tentou virar fora tão intensa que não havia grande margem para dúvidas. Não…por favor que não tenha passado de um sonho cruel. Ainda assim, acendeu o candeeiro que tinha a seu lado e observou. No antebraço encontravam-se marcados a negro, com bastante nitidez, os dedos de Susana.
Sentindo um calafrio a percorrer-lhe a coluna, a morena voltou a apagar a luz e a deitar-se, agora de costas. Parece que, ao invés de se tratar de um sonho, era tudo bem real. Fixou o olhar no tecto, enquanto lutava por assentar todos os acontecimentos. Tentou mover o braço, o que resultou numa nova erupção de dor, de certeza que devia ir ao médico ver aquilo. Aconchegando o braço contra a barriga, relembrou o sucedido no dia anterior. A traição quase que se tornava mínima quando comparada com o estado em que Susana se pusera quando discutiram. No entanto, enquanto a primeira tornava voltar a confiar na loura uma tarefa complicada, a violência que esta usara fazia com que a rapariga tivesse ganho um novo medo dela. A culpa também fora sua, provocara a outra, mas já não fora a primeira vez que esta lhe batia. E pensar que tudo estivera tão bem até há dois dias atrás…
A dor no braço estava a incomodá-la demasiado para continuar a ignorar. Levantou-se, fazendo tenções de tomar um duche, talvez a água fosse fazer bem, quando não resistiu a dar uma vista de olhos pelo telemóvel. Tinha três mensagens novas e cinco chamadas, todas elas de Susana, duas do dia anterior e uma daquela manhã:
Desculpa, não sei o que é que me passou pela cabeça, não te queria aleijar.
Desculpa…não estava mesmo em mim.
Por favor atende…
Sentindo o nó a começar a apertar na garganta, Daniela voltou a colocar o telemóvel em cima da mesa. Uma náusea de tal maneira forte que sentiu tonturas tomou conta de si, obrigando-a a encostar-se à mesa, não fosse cair. Naquele momento, o telemóvel voltou a tocar e “Susana <3” apareceu no visor. Num impulso, a rapariga desligou a chamada e apagou o número, dessa forma não teria a tentação de lhe tentar falar. Pousou o telemóvel de vez e foi para o duche, sabendo a priori que a deixaria mais calma. Uma vez debaixo de água, ponderou o que devia fazer.
Engolindo o choro, afinal já tinha chorado mais do que gostaria, decidiu-se. Se fosse outra pessoa qualquer iria pagá-las à grande, Daniela Sousa era uma grande inimiga para se ter. Mas tratava-se de Susana e, por muito que lhe custasse admitir, não era capaz de se vingar dela. Só daquela vez iria abrir uma excepção e afastar-se-ia, era melhor assim.
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“Atende, vá lá…”, murmurou Susana, apertando o telemóvel com tanta força entre os dedos que o sentia ameaçar estalar. O número que marcou não se encontra disponível…Num acesso de raiva, bateu com o aparelho na mesa, não se importando minimamente com os estragos que pudesse causar. Sentou-se na cama, apoiando a cabeça nas mãos, enquanto tentava acalmar. Mesmo quando pensava que as coisas não podiam ficar piores, tinha que perder a cabeça e tornar uma situação caótica numa irrecuperável. Daniela tinha que ter posto o dedo numa ferida permanentemente aberta e Susana tinha que ter reagido da pior maneira imaginável.
Implorar pelo perdão da, agora ex, namorada de nada ia servir, bem que a podia esquecer. Juntando a promessa de controlar a raiva à de não voltar a beber, a loura ponderou se conseguiria mudar. Mantivera-se fiel durante dois anos, depois de arranjar sempre raparigas novas todas as noites e pensava que tinha perdido aquele hábito de vez. Afinal enganara-se, agora que via a facilidade com que não resistira a Guida. Não podia culpar o álcool na totalidade, o impulso e a vontade estiveram lá. Ou seja, somava três coisas que precisaria de mudar antes de ter próxima namorada.
Próxima namorada? Só a ideia deixava-a indisposta. Depois de Mónica e agora de Daniela, a última coisa que queria era meter-se noutra. Nem tinha vontade sequer. Talvez um dia as coisas voltassem a resultar com a última, mas esse dia não estava para breve. Porém, a esperança era a última a morrer. Estava ainda a matutar o assunto, quando sentiu a mão da mãe afagar-lhe o cabelo, “Estás bem, querida?”
“Não…”, admitiu Susana, abraçando a mãe. Agora eu não tinha a avó, aquela pessoa a quem sempre confiara tudo, a mãe era quem mais se assemelhava. Talvez por isso, a facilidade com que depositara carinho nesta não fosse de estranhar. O certo é que talvez desabafar com ela fosse fazer-lhe bem, “A Daniela acabou comigo e com razão, agora não sei o que fazer”
“Não te preocupes, há muitas mais de onde quer que aquela tenha vindo”, replicou a mãe, mesmo sem querer, aquela tirada saíra-lhe um pouco mais fria do que o que queria e teve o efeito de um estalo na loura, ao ver a pouca importância que a mãe lhe dera. Mesmo assim, a mãe continuou, “Olha…vim aqui porque preciso mesmo da tua ajuda…eu e o teu pai…o senhorio lá da casa aumentou a renda e não temos como a pagar…”
Nessa altura, o pai entrou no quarto, embora se tivesse mantido de pé, em vez de se sentar ao lado da filha, como a mulher. Susana olhou para ambos, tinham mesmo que estar a pedir-lhe aquilo naquele momento? Já ajudara bastante, nem sabia ao certo quanto dinheiro tinha dado sem esperar que lho devolvessem, também tinha as suas contas para pagar, “E o que é que posso fazer?”
“Sei que é pedir demais, mas nós pagamos-te mal possamos”, insistiu a mãe, ganhando um brilho no olhar que a loura não soube identificar.
“Eu dei-vos tanto e também tenho que sustentar a casa”, tentou Susana, “E se o meu CD acabar por não vender bem?”
“Emprestas ou não?”, interveio o pai, enfastiado. Pelo menos assim a loura sabia de quem tinha herdado o temperamento volátil.
“Calma, João”, apressou-se a mãe a dizer, “Pensa no que te dissemos, sim linda?”
E com isto, abandonou o quarto, puxando o marido consigo, por um braço, levando-o para a cozinha, trancando a porta atrás de si. Se nem em casa podia estar sossegada, o melhor que Susana tinha a fazer era sair durante umas horas. Pegou na chave e no capacete e fez tenções de sair de casa. Ao passar pela cozinha, ouviu a mãe dizer, “Ias estragando tudo, a partir de agora deixa comigo”
Não estava para se preocupar com o que quer que fosse que aquilo significasse. Encolheu os ombros e saiu.

1 comentário:

  1. Quanto à situação da Daniela e da Susana é esperar ...
    Mas aqueles pais da Susana, que nervos! Eles são traidores. E andam a querer engana-la! E ela com os problemas que tem ... nem se apercebe disso.
    Uma viajante dos blogues :) *

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