segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Capítulo 53

Para Susana aquela semana seria o catalisador da sua nova vida. Depois do sucesso dos singles que tinha vindo a lançar desde o Outono passado, chegara à altura de lançar o CD definitivo, CD esse em que havia trabalhado diariamente e do qual se orgulhava. Seria no maior centro comercial das redondezas e, francamente, sentia-se um tanto nervosa. Era caso para tanto, afinal contavam com mais cem pessoas do que as que estiveram presentes no seu último concerto que fora bastante bem sucedido e elevara bastante a fasquia. Fora tudo minuciosamente preparado, o que ia dizer, como o ia dizer e o que esperar. Agora era rezar para que tudo corresse consoante o previsto.
A loura consultou o relógio e verificou que faltava apenas meia hora…e Daniela nada de aparecer. A multidão já se começava a aglomerar e os olhares direccionavam-se para a sua pessoa. Voltou a espreitar as horas…faltavam cinco minutos. Respirou fundo e mentalizou-se “Tu lidas bem com atenção, isto não é diferente”. Tentando abstrair-se, pensou no que faria depois daquela sessão. Para comemorar, ela, Daniela, Guida, Marta, Pedro e Rodrigo, alguém que já era um velho conhecido seu desde os tempos de adolescente e que se tinha vindo a aproximar ultimamente, mais o namorado deste, aproveitariam o tempo quente de inícios de Verão para fazerem um acampamento num pinhal perto da praia. Mal podia esperar, mas, até lá, ainda tinha aquele CD para apresentar.
O agente deu-lhe um toque nas costas, incentivando-a a avançar. Aproximou-se da plateia, que observou de uma ponta a outra, conseguindo avistar uma cabeça de cabelo preto aparecer junto ao seu grupo, “Caralho da gaja…sempre atrasada”. Ao lado desta estava Pedro, que devia ter vindo com ela. Marta e Guida, juntamente com Rodrigo já lá estavam pontualmente. Mais descansada, deu finalmente início à sessão.
“Bom dia, obrigado por comparecerem”, saudou, agora totalmente à vontade, sempre fora extrovertida e desenvolta. Voltou a observar o seu grupo e a namorada pareceu notar, pois levantou-lhe o dedo do meio. Sorrindo, prosseguiu.
Meia hora depois, quando acabou de espremer o discurso ensaiado até às últimas, foi a vez de assinar cópias do CD. Apareceu de tudo, desde crianças a pessoas de meia-idade. Era-lhe gratificante saber que apelava a uma variedade tão grande de pessoas. Uma a uma foi despachando-as, sempre sorridente e de boa vontade. Até que uma se destacou.
“Quero um autógrafo nas boobies!”, gozou Daniela, na sua voz mais aguda e olhinhos de Bamby.
“É para já!”, Susana, sorrindo como uma criança prestes a pregar uma partida. Aproximou a caneta da rapariga e assinou-lhe mesmo o nome no peito, muito para espanto desta. Daniela, demasiado chocada para ripostar, olhava para a assinatura preta, reluzente na sua pele clara. Empurrando-a, a loura chamou, ainda perdida de riso, “Próximo!”. Uns minutos depois, volta a sobressair-se outra pessoa.
“Também autografas mamas?”, perguntou Guida, completamente séria, “Também quero”
E, juntando o gesto à palavra, Guida acenou com as suas, bastante generosas, mesmo na cara de Susana, que engoliu em seco, enquanto empalidecia. Notando a hesitação da loura, que apenas olhava para o que tinha diante dos olhos, desconfortável, a amiga provocou, “Vá lá, eu sei que queres, andas para lhes tocar desde que me conheces”
E Susana lá assinou, já a suar. No final, Guida virou costas, mas sem antes dizer, “Diz lá que não gostaste”. A loura apenas murmurou uma série de insultos, antes de engolir toda uma garrafa de água e de continuar com os autógrafos. Uma hora depois estava despachada e pôde dirigir-se ao grupo.
“Como é que foi?”, perguntou, puxando Daniela pela cintura para perto de si.
“Aposto que não conhecias metade das palavras que estavas a dizer”, gozou Guida, perfeitamente ciente de que o discurso não havia sido preparado na íntegra pela outra, dado o vocabulário limitado desta.
“Portaste-te bem”, disse a morena, antes que Susana tivesse tempo para ripostar. Abraçou-a e aproveitou para lhe dizer ao ouvido, “Logo à noite levas biscoito”
“Suse!”, chamou Rodrigo, puxando pela mão um rapaz baixo e magro, de ar tímido, “Este é que é o Tiago, já andava há tempos para vos apresentar”
Quando o rapaz se aproximou, a loura pôde verificar que este era precisamente o contrário do género do amigo, que normalmente iria para o típico “pretty boy” aficionado por ginásio. Porém, de uma mudança podia advir algo de muito bom, tal como acontecera no seu caso, ao dispensar, também, uma “mamalhuda” de bronzeado falso. Portanto seria interessante ver o que resultaria do novo namoro de Rodrigo. O rapaz aparentava estar pouco à vontade com a sua presença, embora avançasse para a cumprimentar, “Hm…olá”
“Olá, tudo bem?”, retribuiu a outra, dando-lhe dois beijinhos, muito para desconforto do rapaz, “Eu só mordo aquela ali, está descansado”
Tiago riu-se, sobretudo depois de olhar para Daniela a lamber os lábios para Susana, antes de, ela própria, rir também. Almoçaram qualquer coisa rápida nas lojas de fast-food do centro comercial e dirigiram-se para casa da loura, para que esta pudesse tomar banho e mudar para algo mais confortável. Na verdade, esta apenas usara a desculpa do acampamento como um pretexto para estar com amigos, verdadeiros, diga-se, e com a namorada, com quem já não estava há algum tempo, devido ao trabalho que o CD lhe dera.
Ao chegarem a casa, Susana contou os pormenores do lançamento aos pais, que não haviam podido ir por terem uns assuntos a tratar e deixou os convidados à vontade para fazerem umas bebidas. Tomou um duche, procurando demorar o menos possível e escolheu roupa cómoda, pondo a um canto, por fim, as que Guida lhe havia escolhido para a apresentação do CD. Ainda com o cabelo húmido, encontrou-se com os convidados, que entretanto se tinham instalado na sala, cada um com a sua bebida, menos Daniela. A loura não se questionou sobre o porquê, já sabia que a rapariga era um peso leve e ao menor álcool…
Após colocar o que iria levar no porta-bagagens do carro da morena, a outra ocupou o lugar do pendura, mal escondendo o seu entusiasmo perante a ideia. A viagem decorreu dentro do tempo previsto, melhor do que esperavam, uma vez que o local era um pinhal não cuidado e dar com este podia ser complicado. Carregados se sacos, começaram por escolher um local que fosse de acordo com as preferências de todos. Não houve discórdias quanto ao sítio, rapidamente encontraram uma clareira perto de um pequeno rio que parecia perfeito. A tarefa mais melindrosa seria montar as tendas, até porque Susana trouxera uma pré-histórica de montagem difícil.
Não querendo dar o braço a torcer, a loura começou a tentar montar a sua, recusando a ajuda de Daniela, que ficou na sua periferia, enternecida ao ver todas as dificuldades porque Susana passava para montar a tenda. Ora fazia a expressão de concentração mais enternecedora, ora coçava a cabeça, deixando os cabelos num desalinho. Quando julgava já ter armado a tenda, fica presa, nem a própria soube como, lá dentro e desequilibra-se, caindo e arrastando uma hora de esforço consigo. A risada foi geral.
“É tão ursa esta gaja!”, gozou Guida, mal acalmou o riso. Estendeu a mão à loura para a ajudar a levantar-se, só não contou que esta puxasse tão depressa e acabou por lhe aterrar em cima.
“Eh láaa!”, picou a outra, satisfeita por ter a sua oportunidade para se vingar. Aproveitando a posição em que estavam agarrou o rabo da amiga à mão cheia, o que fez com que esta corasse até à raiz dos cabelos e começasse a esbracejar e espernear a tentar soltar-se, “Gosto delas é assanhadas!”
“Tu não abuses!”, rosnou Guida, levantando-se abruptamente de cima da loura, “Porca da gaja…”
O riso do grupo duplicou-se, muito para irritação de Guida, que cruzou os braços e amuou, até Marta a consolar. Com o esforço conjunto de todos, a tenda finalmente ficou armada em pouco tempo. O tempo quente que se fazia sentir naquela tarde era convidativo a um mergulho e foi Rodrigo quem tomou a iniciativa para tal. A tarefa de vestir algo apropriado para a água revelou-se mais demorada do que Daniela previra a início, Susana, como era característico da sua pessoa, era incapaz de desaproveitar uma oportunidade para passar “tempo de qualidade” com a rapariga.
A demora de ambas dentro da tenda adicionada às diversas marcas duvidosas que surgiram tanto no pescoço de uma como de outra, não passaram despercebidas ao grupo, que não se coibiu de fazer troça, muito para divertimento das raparigas. Assim que os risos acalmaram, fizeram-se ao caminho e, cinco minutos depois, encontravam-se na margem do pequeno riacho. Vingativa, Guida, com o auxílio de Marta e Rodrigo, pegou em Susana e atirou com esta para dentro de água, entrando mesmo de chapa. Uns segundos depois, emergiu um emaranhado monte de cabelo louro encharcado, emoldurando a expressão de maior amuo já vista.
“Que má onda”, resmungou a loura, enquanto retirava o cabelo da cara. A namorada correu a consolá-la, embora o esforço que esta fazia para não rir fosse notório. Aceitando os mimos, a outra tomou nota mental de mais tarde se vingar de quem a atirou para a água.
Eram precisamente aquelas situações que a morena detestava. Não passava desde há umas semanas, tempo com o melhor amigo, se bem que essa situação havia vindo a melhorar desde que estava na faculdade, mas também não via a outra desde há algum tempo. Não querendo ter que escolher entre os dois, decidiu que iria dedicar naquele momento algum tempo a Pedro e, mais tarde, estaria com Susana, afinal tinha a noite toda. Perante o olhar de cachorrinho da loura, Daniela pediu desculpa, antes de a beijar ao de leve e de lhe garantir que mais tarde lhe daria toda a atenção.
Enquanto a outra se juntava ao resto do grupo para um jogo de pólo, não deixando escapar a ocasião para se exibir um pouco para a namorada, a rapariga ficou na margem com o amigo, apenas para trocarem as últimas novidades que, por sinal, não eram assim tantas nem tão significativas, eram, acima de tudo, trivialidades, mas que ambos gostavam de estar a par. Quando esgotaram todos os temas, desde as aulas, o curso de Pedro e as famílias de ambos, às malas da Louis Vuitton, muito do agrado do rapaz, menos do agrado da morena, que preferia Prada, deixaram-se ficar a observar o grupo.
“Ela é linda…”, suspirou Daniela, ao olhar para Susana, no momento em que esta rematava a bola com precisão para a baliza improvisada da outra equipa, “Olha só como ela põe as mãos…que perfeição”
“Eu sei onde é que tu querias que ela pusesse as mãos!”, brincou Pedro, aproveitando para picar a bochecha da rapariga com o dedo, tal como fazia nos tempos de criança. Em resposta ao gesto, a morena virou-se para ele e rosnou, fingindo que lhe mordia o dedo, o que lhe valeu um susto por parte do amigo, “Oh cabra!”
Daniela nem teve tempo de reagir, já Pedro a puxara para dentro de água, fazendo-a engolir alguma. Quando finalmente voltou à tona, a tossir, retaliou, puxando-lhe um pêlo do peito. E assim ficaram mais um pouco, exactamente como nos tempos em que iam à praia com o ATL da escola. Algum tempo mais tarde, quando fizeram tréguas, já cansados e ofegantes, o grupo juntou-se a eles, também um tanto esgotado depois do jogo.
“Gostaste?”, perguntou a loura, enquanto envolvia a rapariga num abraço terno, já na toalha, perto da margem.
“Tenho mais que fazer do que ficar a olhar para ti, oh”, gozou a morena, fazendo o seu melhor ar snob fingido, que lhe valeu uma dentada no pescoço por parte da outra, “AH! Porra essa vai deixar marca”
Decididamente que aquele acampamento estava a ser muito do agrado de todos. E ainda acabara de começar.

1 comentário:

  1. É de mim, ou este acampamento vai dar "coisa" ? Continua a não me "cheirar bem" esta história da Guida se andar a fazer à Susana de um modo estranho -.-
    Espero para ver o desenvolver disto!
    Uma viajante dos blogues :) *

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