sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Capítulo 51

Lamechice em todo o seu explendor, mesmo ao gosto da viajante :D

Era o tão aguardado dia. Daniela esperava ardentemente não ter feito uma escolha errada no que dizia respeito à prenda. Assim que acordou, tomou um duche refrescante e vestiu a roupa que tinha escolhido tão cuidadosamente na noite anterior. Antes de sair de casa para a faculdade observou-se no espelho, ficando satisfeita com o resultado. A viola estava na bagageira e em segurança, portanto só tinha era que enfrentar uma manhã de aulas excruciantemente lento, visto que Susana só iria ter consigo mais tarde.
As aulas passavam a um ritmo ainda mais rastejante do que esperava. Foi com grande alívio que ouviu o toque de saída, após quatro horas a bufar de impaciência e a desenhar nas margens da folha. A seu pedido, Susana não se encontraria consigo perto do recinto, pois quanto mais pudesse evitar os olhares incomodativos dos colegas, melhor. Foi caminhando para o carro, que estacionara próximo da estação, sem grande ansiedade, afinal a outra quase de certeza que iria demorar.
Quando avistou o carro, notou, igualmente, uma cabeça loura, se bem que a uma certa distância, que se destacava num pequeno grupo. Ao avistar a rapariga, Susana despediu-se do grupo e aproximou-se desta. Com o sucesso sempre a crescer da outra, encontros com fãs como aqueles eram mais e mais frequentes. Nem chegou a encurtar a distância até metade sem que a morena, com uma corrida, lhe atirasse os braços ao pescoço, quase a deitando ao chão.
“Hm…calma que não fujo, princesa”, murmurou a loura, embora não se tivesse coibido de apertar a namorada contra si, visto que não estava com ela há demasiado tempo para o seu gosto. Nem teve tempo para apreciar o abraço, sem que Daniela lhe desse um soco na barriga, “Foda-se…ai”
“Princesa?! Isso ainda é pior que amor”, resmungou a morena, enquanto atacava Susana com cócegas, nas axilas.
“Pára quieta, Danielaaa!”, barafustou a loura, agarrando as mãos da rapariga e empurrando-a contra o carro. Assim que esta estava presa entre o veículo e ela, beijou-a num ápice e disse, de modo sugestivo, “Ainda temos que fazer e eu tenho uma surpresa”
Incapaz de reagir quando via o habitual sorriso da outra, Daniela limitou-se a acenar afirmativamente, com um ar parvo. Entraram no carro, onde se instalou o silêncio nos primeiros minutos. Tanto a curiosidade em relação às surpresas, tanto de uma como a da outra estava aguçada, embora a rapariga tivesse óptima poker face. A morena guiava, sem rumo estabelecido, enquanto trauteava uma música que passava no rádio e a loura encontrava-se irrequieta, roía as unhas e cruzava e descruzava as pernas. Uns instantes mais e esta quebrou o silêncio, incapaz de se conter, “Mooor, diz lá, não aguento!”
“Hm…acho que acertei na prenda e mais não digo”, respondeu a morena, arqueando as sobrancelhas.
A sua resposta vaga de nada serviu para sossegar Susana, que, a partir de então é que não parou quieta, nunca cessando de falar e de manifestar o seu agrado por aquele dia. E não era para menos, uma vez que costumava ter boas recordações daquele dia, ainda que com a ex. Daniela, por seu lado, abominava o dia de S. Valentim, não era uma pessoa dada a muitas manifestações afectivas, o que, juntando ao facto de ter tido um historial amoroso pouco invejável até ter encontrado Susana, lhe causara um profundo desagrado em relação àquele dia.
Absorta nos seus pensamentos, Daniela ia respondendo ao que a loura dizia, de forma evasiva. No entanto, no momento em que olhou para esta, lembrou-se de um sítio para onde podiam ir, com privacidade e ambiente propício. Fez inversão de marcha e guiou, com alguma urgência, rumo ao destino que tinha em mente, o que deixou a outra perplexa, tanto que se calou e se limitou a franzir o sobrolho. As suas questões tiveram resposta assim que avistou, no horizonte do seu campo de visão, o sol a reflectir, tanto quanto possível num dia de Inverno, na superfície do mar.
A rapariga estacionou o carro no parque do costume, constatando que naquela altura a zona se encontrava significativamente mais vazia, mais até do que esperava. A partir desse momento, deixou que o resto do dia decorresse conforme a vontade da outra. De mãos dadas, percorreram o caminho de terra batida, um tanto enlameado devido à chuva que houvera nos dias anteriores, e, algum tempo depois, estavam na praia. Era sempre um regozijo para ambas, verificar que esta permanecia sempre tão intocada, tão natural, tão…delas.
Reproduzindo na perfeição os trejeitos feitos há bastante tempo atrás, nas primeiras vezes que haviam ido para aquele local, estenderam uma toalha e sentaram-se, sem emitir uma única palavra. O silêncio e a expectativa tornaram-se demais para Susana, colocou a mão por baixo do queixo de Daniela, fazendo com que a encarasse directamente e levou a outra mão ao bolso do casaco, de onde tirou uma pequena caixa. Esta era azul escura e tinha uma sensação muito suave ao toque.
Ao sentir a caixa na sua mão, a rapariga revirou os olhos. A julgar tanto pelo aspecto como pela qualidade dos materiais, o que quer que estivesse no interior seria, sem margem para dúvida, imensamente mais caro que a viola. Mesmo com as novas posses económicas da outra, a morena continuava a não achar graça a que a presenteasse com coisas excessivamente caras. Mas o olhar de criança que esperava pela chegada do natal que a loura ostentava impediu-a de mandar vir. Abriu a caixa, onde, sob um estofo também azul, reluzia um fio de prata com um pendente oval, ambos muito simples. Já com o fio na mão, observou uma pequena inscrição: “S&D 15-06-2009”
Foi então que Daniela ficou incapaz de fazer ou dizer algo mais que murmurou um “Oh…” e de sorrir, pela enésima vez naquele dia. Abraçou Susana e assim continuou, até que esta as separou, pedindo-lhe para a deixar pôr-lhe o colar. Virou-se e segurou o cabelo, estremecendo quando sentiu o metal frio em contacto com o pescoço. Antes de soltar novamente o cabelo, a loura beijou-lhe o pescoço. A morena virou-se e beijou-a, colocando-lhe as mãos em torno do pescoço, o que fez com que se deixasse de amparar e, consequentemente, caíssem ambas.
“Estragas sempre o romantismo todo”, sussurrou Susana, ajeitando-se em cima da namorada, de modo a não lhe colocar demasiado peso em cima. Beijou-a de novo e disse, “Amo-te”
A aragem fria não foi impedimento para que o apogeu da noite sucedesse. O clima entre ambas foi mais que suficiente para manter tanto uma, como outra quentes. Não tardou muito até que Daniela pudesse sentir o corpo suado de Susana, muito junto ao seu. Foi a partir desse momento que ambas perderam a noção do tempo. Daniela optou por assumir alguma passividade, deixando que Susana fizesse como bem desejasse e esta soube, também, adaptar-se à ocasião, demorando o seu tempo e dando atenção a todos os pormenores para que o acto estivesse à altura desta. Com um último suspiro, deixou-se cair sobre a rapariga, ofegante.
“Suse…”, disse a morena, por entre beijos, ainda apertando fortemente o corpo da outra contra si, procurando aquecer-se, “Ainda não te dei a tua surpresa”
“Já deste, basta estares sempre aqui comigo”, respondeu a loura, com um olhar enternecido, esquecendo-se das alergias que aquelas falas causavam à rapariga. Não se lembrou desse aspecto, mas Daniela não teve coragem de pôr fim ao ambiente em que se encontravam.
“A sério, veste-te”, pediu a rapariga, docilmente, mas não sem antes beijar Susana. Empurrou-a de cima de si em gesto de brincadeira e atirou-lhe com a roupa que fora esquecida no areal. A ausência do contacto com a pele sempre quente da outra, por muito breve que fosse, foi o suficiente para a arrepiar com frio. Não perdeu tempo a vestir o casaco quente por cima da roupa e a dar a mão à loura, guiando-a na direcção do carro. À medida que se aproximavam, a ansiedade ia tomando conta de si, fazendo com que mordesse o lábio ao de leve, em antecipação.
Foi então que chegaram ao carro. A expressão de confusão na cara de Susana permaneceu, embora ostentasse um sorriso feliz, quase infantil, tão próprio dela. Daniela recuou uns passos e pediu à loura que abrisse a bagageira. Esta fez como lhe foi pedido, escondendo mal a sua ansiedade. Ao ver o conteúdo desta, arregalou os olhos sem puder acreditar. Ainda abismada, retirou de lá uma viola nova em folha, um tanto diferente da sua. Passou a mão ao longo do pescoço desta, até chegar à caixa de som. O material era de boa qualidade e as cordas resistentes. Uma melhoria da sua antiga, que lhe fora deixada pelos pais.
“É para mim?”, inquiriu, de modo apreensivo. Não era mesmo hábito da morena presenteá-la com o que quer que fosse, quanto mais algo daquele preço.
“Sim…gostas?”, questionou Daniela, fitando a ponta dos sapatos, aflita com a possibilidade de que a loura pudesse não gostar da surpresa.
“Adoro!”, respondeu Susana, entusiasmada. Correu a abraçar a rapariga, mas não sem pousar o novo instrumento com cuidado, como se fosse de vidro. Agarrou a morena pela cintura e aproximou-a tanto de si quanto fisicamente permissível, beijando-a de seguida. Era provável que aquele dia de S. Valentim tivesse batido, em termos de satisfação, todos os outros, tanto por parte de uma como de outra. Mas a noite ainda não tinha atingido a recta final, após o serão passado na praia, dirigiram-se para casa da loura, livre da presença dos pais.
A última recordação que Daniela conservou daquele dia foi a sensação da respiração regular de Susana no seu pescoço, bem como o calor do corpo desta contra si, enquanto ambas se preparavam para, finalmente, colocar um ponto final naquele dia, que se revelara tão do agrado das duas.

1 comentário:

  1. Gostei muitooooooooooooooooooooooooooooooo. Ahah :)
    Mas agora a sério , lamechisses à parte ... Acho que foi um momento bom na relação delas :)
    ( E nem toda a gente precisava saber que eu gosto deste romance todo :c )

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