quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Capítulo 54

Depois de secarem, foi decisão unânime aproveitar, enquanto não escurecia demasiado, para fazerem uma fogueira para o jantar. Dessa maneira, separaram-se em pares: Daniela e Susana ficaram a tratar da comida, Rodrigo e Tiago foram em busca de madeira para a fogueira, Pedro ficou como multi-funções, ajudando no que era necessário e Guida e Marta…era preferível não saber. Em pouco tempo, haviam reunido um pequeno monte de gravetos, que rodearam com pedras e, com mais dificuldade, acenderam a fogueira. O jantar decorreu sem contratempos, apesar do tempo que demorou até estar cozinhado, mais que não fosse porque a fogueira era um tanto mais ineficaz que um fogareiro. Porém, ninguém se queixou e, no final, todos ajudaram a arrumar os vestígios do jantar.
Mesmo sendo já noite cerrada, ainda ninguém queria ir dormir. Assim, Marta pediu a Susana que lhe emprestasse a viola por um bocadinho e esta, após muita ponderação e alguma insistência de Daniela, acabou por ceder o instrumento, mas não sem que lhe implorasse que tivesse cuidado. Revirando os olhos, a ruiva sentou-se, começando a dedilhar uma música relativamente simples e bem conhecida de todos, menos da morena que se mantinha absorta de tudo o que passasse na rádio ou na MTV, a bem dos seus tímpanos.
“Oh Dani que é isso aí?”, questionou Pedro, ao ver a rapariga lutar para enrolar algo. Esta não lhe respondeu até que, com um suspiro de vitória, levantou a cabeça e exibiu um sorriso rasgado, depois de um trabalho bem feito.
“Algo que me vai pôr muito feliz, como é óbvio”, respondeu a morena, como quem responde a uma pergunta colocada por um professor.
“Daniela!”, gritou Susana, como se o mundo estivesse a ruir a seus pés, “Opa!”
“Que foi?”, perguntou Daniela, finalmente queimando a ponta do seu “bebé”. Sem perder tempo puxou quantos bafos conseguiu.
“Há dois anos que nos conhecemos e só agora é que sei que fumas disso!”, replicou a loura, ainda não refeita do choque. A seu ver, a namorada era a perfeita imagem do bom comportamento, olhar para ela de ganza na boca era a visão mais contraditória, “Fumei tantas vezes à tua frente, porque é que nunca me disseste?”
“Desde o secundário que não fumava, mas não resisti”, disse a morena, com toda a honestidade. Assim que acabara o 12º quisera poupar os neurónios para a faculdade, mas como ia para o último ano desta, suponha que não fosse fazer muito mal. Isso e queria dar a imagem mais “limpa” possível à outra, sobretudo depois dos incidentes que esta tivera com drogas pesadas. Paranóia sua ou não, não queria fazer nada que pudesse incentivá-la a retomar aqueles hábitos, “E queria dar-te o exemplo”
“Agradeço a preocupação”, respondeu a outra, preferindo não mencionar acontecimentos tristes. Uma olhadela ao que se encontrava na mão da morena e já sentia água a crescer na boca., “Ao menos partilha”
“Pronto, se quiseres…”, acedeu a rapariga, passando o que tinha na mão para a da loura, mas não sem levar aos lábios. Já tinha saudades daquele sabor tão característico. Susana, por sua vez, deu também um bafo no canhão, sofregamente, antes de o devolver à namorada. Uns instantes mais tarde, já esta sentia a habitual pressão nos ouvidos e a cabeça pesada, o suficiente para que lhe soubesse bem sentar-se entre as pernas abertas da outra, encostando-se a ela. Visivelmente sentindo os mesmos efeitos que Daniela, a loura deitou a cabeça no ombro desta, pondo-lhe os braços em redor do pescoço.
Entretanto já o grupo formara um círculo em torno da fogueira, ao mesmo tempo que Marta se começara a entender com a viola, tendo já começado os primeiros acordes de uma música com um ritmo mais aconchegante, que fez tanto a rapariga acomodar-se melhor no aperto da outra, como esta roçar ao de leva a face na da morena, antes de lhe dar um beijo ao de leve na têmpora. Quando a morena se virou para encarar a loura, esta sorriu, sussurrando, depois, “Amo-te”
Depressa se adivinhou que aquela noite seria muito diferente do que qualquer um previra a priori. Por cortesia comum, o álcool que começou a ser rodado, decerto que seria um dos principais catalisadores, no entanto, não o principal, esse papel caberia aos protagonistas. Gole após gole, toda e cada uma das bebidas trazidas foi terminada, não demorando muito até que os efeitos fossem sentidos. O certo foi que, uma hora depois todos acharam por bem dar a noite como terminada. Daniela e Susana, as primeiras a partir, foram para a tenda, tendo dificuldade em dar com a abertura desta até que, por fim, conseguiram. Já o resto do grupo aguardou mais um pouco até se deslocarem para as respectivas tendas.
Como habitual, a loura não perdeu tempo e deitou a rapariga, beijando-a, muito mais bruscamente e com mais necessidade do que aconteceria caso estivesse sóbria. Apanhada de surpresa e mais lenta que o seu eu normal, a morena demorou a reagir, mal refeita da surpresa, correspondeu, apenas para, pouco depois, tirar a t-shirt à loura. Vendo-se livre da peça de roupa, a outra encarregou-se de rasgar o top que Daniela tinha. Esta, consideravelmente mais sóbria que Susana, recebeu a sua segunda surpresa da noite duma maneira que se encontrava na fronteira do agrado e da irritação, gostava daquele top…
Parecendo muito distantes, pareceu-lhes ouvir alguns barulhos vindos de fora da tenda, nada com que se importassem, mérito do álcool consumido. No momento em que o fecho da tenda foi aberto de rompante, as raparigas deixaram o que estavam a fazer por um breve instante, sobressaltadas. Em tão mau estado como as pessoas dentro da tenda, Guida e Marta, convencidas de estarem na tenda certa, entraram, apenas para tropeçarem e caírem em cima dos dois corpos que lá se encontravam previamente.
Foi então que as duas intrusas se aperceberam que aquela tenda era a errada e que não estavam, nem por sombras na sua. Ao tropeçaram caíram sobre os corpos de Susana e Daniela, ambos seminus, sendo o momento de constrangimento abafado por acção de todo o álcool consumido. Após uma troca de olhares breve com a Marta, como se pedisse permissão, permissão essa que fora concedida, Guida puxou Susana para si, montando-a, apesar de um olhar estupefacto tanto da rapariga como da loura. Porém, a outra recuperou depressa, substituído a surpresa por delícia. Se Guida apenas teve que a beijar para desencadear toda uma sucessão de acontecimentos, Susana fez o resto.
O sucedido teve reacções muito diferentes por parte das espectadoras, por um lado, Marta estava a adorar observar a acção, por outro, Daniela estava mortificada. Ao ver a loura beijar o pescoço a Guida, com a expressão de maior satisfação, passou de mortificada a enojada. Se tivesse bebido mais teria certamente despejado ali mesmo o jantar. E daí talvez tivesse levado tudo muito melhor, mas isso nunca iria saber, afinal a erva deixava-a hiper-consciente. Pelo menos acabara de ter as suas suspeitas confirmadas, a namorada andara a fazer um esforço herculeano para se manter fiel aquele tempo todo. E a rapariga, na sua inocência que pensara que conseguia mudar uma player.
A mão de Marta no seu braço interrompeu-lhe o monólogo interior, “Não vamos ficar a olhar, pois não?”
Olhando uma outra vez para Susana, agora ofegante e, visivelmente, satisfeita, em cima de Guida, cuja expressão era idêntica à da outra, Daniela decidiu-se. “Pó caralho”, pensou antes de torcer o nariz à namorada, podia gostar muito dela mas gostava ainda mais de si própria e ia sair dali com o orgulho intacto, “Não vamos ficar a ver, anda cá”

2 comentários:

  1. Wow :o Mas ... Mas ... Mas ... :o
    ( Curando-me do choque inicial. )
    O capítulo está excelente. Adorei a reviravolta na história! Veio dar "vida" à história. Algo inesperado.
    Agora estou ainda mais curiosa por mais!
    Espero ansiosamente pelo próximo.
    Uma viajante dos blogues :) *

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  2. Ohhh... Estúpida da Guida, porcaria do álcool :( mas enfim, nada é perfeito, e também o relacionamento das protagonistas o não pode ser...vamos a ver no que isto dá...
    (está muito bem escrito o capitulo, tal como os anteriores, e a história mantém-se muito interessante, então neste, wow lol)

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