sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Capítulo 60

Setembro foi-se, tão depressa como veio e, tanto Outubro como Novembro seguiram-lhe o exemplo. Para Daniela, voltar à sua rotina antiga, anterior a Susana mostrara-se excruciante. Era incrível como antes conseguia acabar as aulas e ir logo para casa. Agora, acabar as aulas e não ter a loura à sua espera encostada à parede da entrada para irem dar um passeio era-lhe penoso. Só ela e os seus livros. O anel que Susana lhe dera deixara-lhe uma marca no dedo, para mal dos seus pecados, nem podia olhar para a própria mão sem se lembrar da loura, de quem nunca mais soubera nada, nem como ia nem o que andava a fazer.
Mas naquele dia não. Daquela vez não iria ficar em casa a sentir pena de si própria. Combinou com Sofia irem tomar um café, por sinal no estabelecimento onde se encontrara pela primeira vez com Susana. Daniela assim o quis, queria provar a si mesma que a loura estava como que mais que superada para si e que iria conseguir seguir em frente. Felizmente para si, a outra aceitara a ideia e, foi assim que se viu numa fila de trânsito para chegar ao ponto de encontro. Havia coisas que nunca mudavam e a sua falta de pontualidade era uma delas, mas Sofia estava mais que prevenida, já esperara quarenta e cinco minutos por ela antes.
Já estava a fazer progressos, só se atrasara…dez minutos! Com calma e tal, o seu problema seria corrigido, um dia, mas não era aquele o dia. Ao chegar à entra, viu Sofia em toda a sua glória curvilínea a abanar a cabeça para si, em tom de desaprovação fingida, “Tu continuas a mesma…”
“Apanhei trânsito, a culpa não foi minha!”, apressou-se a rapariga a dizer, tendo um dejá vu ou outro com aquela conversa. Porém, uma coisa tinha que admitir, a idade fizera bem a Sofia. Aquela cintura que sempre a fascinara estava ainda mais pronunciada, acentuando-lhe tanto o peito como a parte de trás. E não estava a usar óculos, o que não escondia o seu olhar de “El Matador”. Mesmo assim não estava entusiasmada, o que a irritou, tinha à sua frente uma rapariga, pronto, mulher atraente e não se sentia com disposição para atacar.
“A Daniela Sousa a guiar…o que eu pagava para ver isso”, gozou a outra, a sua atitude trocista era outra característica que nunca mudaria, “Mas foda-se…eu não andava contigo no carro”
“Vai para o caralho, guio bem”, respondeu a rapariga, pondo em prática o seu beicinho, aquele que derretera em tempos Sofia. E funcionou, pois esta dera-lhe um abraço. Pelo menos como amigas continuavam a dar-se bem.
Rindo, bem-dispostas, entraram dentro do café. Felizmente para a rapariga, o aspecto deste durante o Inverno era muito diferente do que ostentava no Verão, até a atmosfera era diferente. Sentaram-se numa mesa junto à janela, embora a vista não passasse de um mar revolto e de um céu plúmbeo.
“Então, ser desaparecido, essa vidinha?”, perguntou Sofia, sorrindo de modo a exibir os seus dentes perfeitamente direitos.
“Oh tudo na mesma”, respondeu a morena, encolhendo os ombros, placidamente.
A conversa foi interrompida pela chegada do empregado, que trazia os pedidos de ambas. Sentindo a sua paranóia com germes começar a afectar, Daniela foi à casa de banho, antes que visse as bactérias rastejar nas suas mãos. Aquela era das suas preferidas, da primeira vez que lá fora, esperara encontrar um buraco infesto e malcheiroso vindo dos infernos, apenas para encontrar azulejos impecáveis, sabonete agradável e sanitas imaculadas. Claro que das outras vezes que lá estivera, as mãos de Susana desapareceram dentro da sua roupa, mas esses eram apenas momentos que recordaria mas que nunca voltariam. Abriu a porta e verificou que a qualidade higiénica mantinha-se.
Enquanto ensaboava as mãos, ia reparando nos pormenores, desde os padrões dos azulejos, ao acabamento dos rebordos. Ao levantar a cabeça, viu uma cabeça loura observá-la, com uma expressão de cachorrinho abandonado. Na parte que lhe tocava, o susto fora de tal ordem que ficou imóvel, nem se atreveu a virar-se, quedando-se por fitar Susana através do reflexo do espelho. Não mudou nada, continuava a mesma pessoa bronzeada e bem constituída. Tinha o cabelo molhado, deveria ter estado a fazer bodyboard. Esta estava com um ar tão desolado que, se agisse por sua vontade, Daniela abraçá-la-ia. Queria dizer-lhe algo que a consolasse, saber como é que ela tinha estado todo aquele tempo, mas tudo o que conseguiu dizer foi, “Desculpa…estou de saída”
Susana encurtou a distância entre ambas, antes que a rapariga tivesse tempo de dar meia volta. Quando a sua mão entrou em contacto com o braço desta, a morena estremeceu dos pés à cabeça, as recordações do último encontro de ambas ainda estavam demasiado frescas para o seu gosto. No entanto, o desconforto de Daniela não passou despercebido pela loura, que baixou o olhar. O toque era tão diferente do que da outra vez…tão suave. A rapariga poderia ter-se afastado se assim o quisesse. Ao notar que a morena não se mexeu, a outra arriscou levantar os olhos e murmurar, quase sem emitir som, “Não vás…”
Impulsivamente, sem pensar, Susana puxou, de modo terno, Daniela para si, ficando esta entre os seus braços. A única coisa que a impediu de ficar totalmente aninhada na loura foi a mão que colocou no peito desta, mas não a afastou. Sentiu-lhe o ritmo cardíaco acelerado, o que fez disparar o seu. Levantou o olhar, encarando o da loura e, durante um período de tempo indefinido, perdeu-se no azul deste. Quando deu por si, já a outra se aproximava. Mas não se conseguiu deter, nem tal coisa lhe passou pela cabeça. Beijaram-se. Apesar da necessidade com que o fizerem, o carinho não foi descurado. Daniela colocou uma mão no pescoço de Susana, enquanto esta lhe segurava a cintura.
Ao tomar consciência do que estava a fazer, a rapariga empurrou a outra, corando até à raiz dos cabelos. A loura, por seu lado, sorria de orelha a orelha, “É bom saber que ainda mexo contigo”
“Tu…não…me…voltes…a…aparecer…à…frente”, rosnou Daniela, assim que recuperou da emoção. Deu meia volta e saiu da casa de banho, ainda a sentir o trave salgado de Susana nos lábios, esta tinha mesmo estado no mar.
Voltou para junto de Sofia, que parecia entediada, “Já estava a criar raízes e cogumelos”
“Desculpa, estava lá gente”, inventou a rapariga, tocando nos lábios, para se certificar que aquilo acontecera mesmo.
“Estás bem?”, perguntou a outra, notando a diferença de comportamento súbita da morena.
“Sim…sim”, respondeu Daniela, reparando que, ela própria, estava afogueada. Engoliu de um trago o café morno, afinal não estava assim tanto frio, e mordiscou o seu bolo, ao mesmo tempo que Susana saia da casa de banho, bastante sorridente, como se tivesse ganho a lotaria.
“Olha! É aquela gaja que tem a mania que canta”, comentou Sofia, deixando a sua atitude gozona vir ao de cima mais uma vez. A sua ausência do país enquanto estava a estudar não lhe permitira saber de todo o historial amoroso da morena, só soubera que esta tivera uma namorada, “Mas porra, ela não vale um cu…não sei como é que toda a gente a adora”
“Não é assim tão má…eu gosto”, defendeu a rapariga, demasiado constrangida para dizer algo de mais significativo.
“Foda-se…ok que até é fofinha, mas não canta nada”, continuou a outra, manifestando todo o seu desagrado por qualquer cantor/a que estivesse popular no momento. Noutras condições, Daniela concordaria, mas era Susana, nunca diria mal dela.
Limitou-se a encolher os ombros e a mudar de assunto, certa mais do que nunca de que ela e Sofia de forma alguma recuperariam o que tiveram, esses tempos pertenciam aos seus dezasseis anos. Enquanto a outra relatava as novidades da sua vida, Daniela matutava o que sucedera naquela tarde.

2 comentários:

  1. estou a gostar sim..
    mas quero a marta no auge!
    Q

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  2. Eu quero é ver a partir de agora! A Daniela vai sonhar com aquele beijo :b
    Gostei sim senhora !
    Quero mais!
    Uma viajante dos blogues :) *

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