sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Capítulo 50

O dia que se aproximava costumava ser, na opinião de Daniela, a maior parvoíce existente, materialista e consumista. Até há um ano atrás que nunca tivera de se preocupar com semelhante dia e, de certa forma, no ano passado também não, pois passara o dia a estudar. Desvantagens de estar comprometida: Tinha que comprar uma prenda para a namorada. Mas neste os planos eram outros. Teria que preparar um dia de S. Valentim em condições para Susana, mais que não fosse porque com a época de testes por que passara e a agenda ocupada da outra, não tinha sido possível verem-se durante aqueles tempos.
E quem melhor para a ajudar a escolher uma prenda que Marta? Uma vez que a palavra Romantismo não figurava no dicionário da rapariga, chegando ao ponto de um dia ter dito a Sofia: “és a minha droga, porque me deixas lá em cima, vicias e fodes-me a cabeça”, era muito preferível pedir ajuda antes de se espalhar ao comprido. Se a amiga não a tivesse impedido, o mais provável era ter comprado um vibrador como prenda. Para a morena seria uma prenda para ambas, mas para Marta era coisa de “hetero acabada”. Como forma de evitar uma tragédia, a amiga propôs que fossem ao centro comercial, de manhã.
Sonolenta e, consequentemente, rabugenta, Daniela cumprimentou Marta com um abraço pouco enérgico. O ambiente lá dentro era irrespirável para a morena, com balões em forma de coração, postais com dizeres como “Para o melhor namorado do mundo” e ursinhos de peluche com uma expressão excessivamente apaixonada. Sentindo a má disposição da rapariga, a ruiva propôs que fossem a uma loja de café, afinal acordar e raciocinar era uma tarefa cómica naquelas condições.
Após efectuarem, cada uma, o seu pedido, dirigiram-se para uns sofás enormes e aprazíveis que havia no estabelecimento. Brincando com o copo, Daniela finalmente colocou a questão que podia muito bem servir-lhe de ponto de partida para escolher uma prenda, “Vais dar o quê à Guida?”
Marta sorriu de orelha a orelha antes de responder, num tom derretido, “Um ramo de flores e um anel, afinal ainda não trocámos alianças”
A rapariga observou o simples anel prateado que reluzia na sua mão, a presença deste invalidava a imitação daquela ideia. Ideia essa que até que era enternecedora, mas nunca o admitiria, sob pena de arruinar a sua reputação de “Iceberg Humano/Grande Besta”, optando antes por uma resposta mais em conta com a sua pessoa, “Foda-se, és tão gay, caralho”
“Até parece”, replicou a amiga, por um momento, voltando aos tempos de adolescência de ambas, quando se conheceram, “Olha lá, e se pusesses essa cabeça a trabalhar? Ai de ti que lhe dês aquela porcaria…”
“Porcaria nada, eu tinha umas ideias giras para aquele brinquedo”, disse a morena, que ainda não engolira a ideia de que a prenda ideal não se encontrava entre as algemas com pelinho e os dildos. Ainda assim, acatou a ordem de Marta e ponderou as escolhas. Podia dar algo prático, afinal Susana vira uma camisola que gostara, mas não era apropriado. “Se der um daqueles postais que dizem “Meu Amorzinho” e despachar logo isto é mau?”
“Credo, nem eu dava uma pieguice dessas”, respondeu a ruiva, sorrindo daquele modo que sabia que ia irritar profundamente Daniela, “Invertemos papéis agora?”
A rapariga murmurou uma série de insultos incompreensíveis como resposta, enquanto lançava um olhar furioso à franja da amiga. Esta era bastante tentadora, sobretudo quando se lembrava que tinha um isqueiro no bolso a implorar para ser usado. Como que adivinhando o que ia na mente da morena, Marta apressou-se a dizer, “Já sei o que vai nessa cabeça e ou tu paras com isso ou não te ajudo!”
Com um suspiro, a Daniela pediu para irem dar uma volta, a ver se via algo, certa que a ruiva iria aceder, coisa que fez. Uma hora depois e a maioria do shopping percorrido e ainda não encontraram nada que não fosse enjoativamente doce. Num canto mais recatado, encontraram uma loja de música. A morena nem teria dado por esta se a amiga não tivesse chamado à sua atenção para tal. Fê-la entrar e encaminhou-as para a parte das violas, apenas para que a rapariga recuasse vários passos com uma expressão de horror, “Nem penses…”
“É já! Oh chefe, queremos esta”, disse Marta, indicando uma com uma tonalidade alaranjada e preta.
“Não! Ando a poupar desde que tirei a carta para um carro novo decente…”, queixou-se Daniela, a perder cada vez mais a cor que tinha, à medida que esticava o braço para o preço. Assim que o verificou ficou branca como cal. Era ainda mais cara do que o que imaginara.
“Ela está-te sempre a dar coisas e tu nunca lhe dás nada, ela ia gostar tanto”, tentou a ruiva, pacientemente. E era verdade, mesmo quando os seus rendimentos eram poucos, Susana oferecia regularmente prendas à rapariga, fosse uma flor ou uma pulseira, então nos últimos tempos quase que a morena tivera que arranjar uma casa nova para guardar tudo o que a loura lhe dava. E a guitarra dela estava uma lástima, ao menos assim tinha a garantia que aquela nova era boa.
Por fim, relutantemente, Daniela lá estendeu o cartão de crédito para o homem, dizendo entre dentes, “Está aí meio ano de poupanças”
“Vais ver que valeu a pena”, assegurou a amiga, sorrindo tão abertamente que, quem a visse diria que a prenda era para si.

31 comentários:

  1. Mais um ! :D
    Adorei! Acho muito bem que ela lhe ofereça algo em grande! Aquele coraçãozinho de manteiga, merece :')
    Apanhei-te, ahah. Vês ? Eu disse que ia ter saudades da "tua personagem". :)

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  2. Se adoraste este tens que ver o próximo, pieeeeegas para xuxu.
    Opa! Tinha que basear a Daniela em alguém que conhecesse muito bem! Não goza, não.

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  3. Eu vou-me babar *-*
    Claro, foi o que eu pensei. E não gozei :c

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  4. A pieguice é para ti a melhor parte disto? :)
    Não não, que ideia :C

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  5. Não. A melhor parte é toda a história em si. Mesmo os capítulos mais "sérios" eu adoro ler. :)
    E não, seria incapaz de tal coisa :c

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  6. És só leitora ou alguma vez tentaste escrever tu alguma coisa?

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  7. Destas histórias assim ? Não. Mas vou escrevendo, coisas minhas. :)

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  8. Nice :) Não és mais uma wannabe escritora então

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  9. Wannabe ? (Momento Susana :x)

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  10. (Ah apanhaste essa)
    Wannabe - Aspirante a

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  11. Bem me parecia que era isso! Mas não queria responder algo totalmente diferente. -.-
    Eu já escrevi foi shot's. Não sei se sabes o que é :)

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  12. Para a próxima arrisca, eu não gozo (muito) :P
    Sim sim, sei o que é. Correram bem?

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  13. Eras capaz de gozar comigo ? :o
    Correram. Tenho que ver se me inspiro para mais.

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  14. Sou naturalmente gozona, de um modo inofensivo claro :) a não ser que não goste da pessoa, aí uso o material hardcore (por isso poe-te a pau)
    Tens que me mostrar um dia *.*

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  15. Fogo, já a ameaçar-me :x
    Mostro sim ! :D

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  16. Não é uma ameaça, é um aviso ^^
    Depois da "prenda"?

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  17. Sim!
    Esta deve ser a página que faço mais vezes "refresh" :o

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  18. Espero ansiosamente então *.*
    Isso explica as 85 visitas que tive num só dia o.o

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  19. Eu até podia dar agora ... Mas tal como disseste ontem : ia ser-te demasiado fácil :c (ou algo assim).
    Porque eu faço refresh a ver se já respondeste :o

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  20. Txe, és bem mázinha tu...acabei de provar do meu remédio -.-
    Bem me parecia que não podia estar tão popular, ahah

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  21. Mázinha ? Queres que te prove o contrário ?
    Podias sim! Isto bem que merecia!

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  22. Sim prova-me o contrário, só acredito no que vejo :D
    É melhor não ser tão conhecido assim afinal, se por acaso alguém conhecido lê isto e descobre que sou eu, acho que corto os pulsos :X

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  23. Provo-te , mas terei que apagar.
    Então porquê ?

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  24. Claro não seja por isso!
    Era um bocadinho humilhante, tendo em conta o tipo de relação que há nesta história.

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  25. E agora para apagar ? Apagas tu. Eu não consigo.

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  26. E pronto, já se foi. Posso adicionar-te no msn?

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  27. A ideia era essa. A não ser que prefiras trocar "correspondência".

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