sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Capítulo 85


Feliz Ano Novo!

“Calma, se não há notícias é porque está tudo bem”, tentou Marta, fazendo os seus melhores esforços para apaziguar Daniela, que continuava uma pilha de nervos por Susana já ter, havia muito tempo, dado por terminado o concerto e não aparecer em casa, nem dar sinal de vida. Normalmente, não se teria importado, porém, dado o estado da loura nos últimos tempos, já temia que tivesse acontecido alguma coisa. Ao ver que de nada servia continuar de pé à espera de notícias, achou por bem desistir. Fazendo das tripas coração, agradeceu à amiga pela ajuda e desligou a chamada, decidindo ir descansar e não se preocupar mais com a outra. Quando quisesse aparecer ou dizer algo, que o fizesse.

Na manhã seguinte, depois de uma noite um tanto mal passada, decidiu pôr essa mesma noite por trás das costas. Para alegria sua, o dia estava fantástico, solarengo e com aquele aroma a calor que sempre gostara, era realmente a terapia ideal. Munida de óculos de sol, bikini, iPod e um livro do seu agrado, deitou-se numa esteira no jardim, onde podia estimular a produção de vitamina D. Assim que aplicou protector solar em toda a extensão da sua claríssima pele e colocou os fones nos ouvidos, continuou a leitura onde a tinha deixado previamente, esquecendo a sua preocupação por uns tempos, alheada de tudo e todos.

Cerca de uma hora, alguns capítulos e os primeiros indícios de um escaldão depois, uma sombra intrometeu-se entre ela e a sua leitura, obrigando-a a tirar os fones e a olhar para cima. De pé e com a expressão mais esgotada, encontrava-se Susana, com o cabelo num emaranhado ninho de cegonhas e ar de quem dormira com aquela mesma roupa, roupa essa que usara no concerto. Com um sorriso genuíno, a loura, por muito estafada que estivesse, conseguiu dizer, “Bom dia, amor”
“Bom dia”, retribuiu a morena, levantando-se para cumprimentar a outra numa maneira mais carinhosa. Quando a abraçou, sentiu-a letárgica contra si, como se necessitasse que a mantivesse segura em cima das pernas ou caso contrário cairia. Preocupada, Daniela interrogou, “O que é que se passou? Estive tão preocupada”

“Mh…preciso de descansar um ‘cadinho”, disse Susana, em voz baixa, quase a sucumbir ao cansaço, ali mesmo nos braços de Daniela.

“Vai tomar banho enquanto eu te preparo qualquer coisa para comer, pareces tão mal”, sugeriu a rapariga, auxiliando a loura até à casa de banho. Apenas quando se certificou que esta ficaria bem, é que foi até à cozinha para lhe preparar qualquer coisa rápida, depois recambiá-la-ia para a cama e só quando a visse a chateá-la para fazerem bodyboard de novo é que iria sossegar. Enquanto ouvia a água correr, fez uma sandes e um sumo, antes de se dirigir ao quarto e fazer a cama, para que a outra se pudesse deitar.

Ao deixar de ouvir o som da água a correr, dirigiu-se à casa de banho com roupa lavada. Lá, deparou-se com Susana, desta vez com melhor aspecto, ainda que as olheiras e a palidez persistissem. Ajudando-a a vestir-se, a morena propôs, “Deita-te que eu levo-te a comida”

A loura concordou, estendendo-se na cama, demasiado esfomeada para adormecer imediatamente. Ao ver toda a atenção que a mulher lhe dava e o quão preocupada esta tinha ficado, a outra voltou a sentir uma culpa insuportável por não a ter tratado tão bem como esta merecia nos últimos tempos e por ter ponderado traí-la com a entrevistadora. Engolindo a culpa, sorriu esplendorosamente quando Daniela voltou trazendo a comida. Quando a rapariga pousou a travessa na mesa-de-cabeceira e o risco de entornar a refeição deixou de ser um problema, a outra puxou a morena para si, beijando-a calorosamente, tentando mostrar-lhe por carícias o quanto ela significava para si, já que as palavras e os actos não tinham resultado tão bem como pretendido.

“Hm…calma, Susana”, disse Daniela, admirada com o gesto. Já tinha saudades das demonstrações afectivas espontâneas tão características de Susana. Afagando as costas da loura, sentiu-as ainda quentes do duche, o que a tornava ainda mais agradável de se abraçar. Olhando para esta, em vez da raiva e da frustração que outrora contaminavam aqueles olhos azuis límpidos, o que viu foi adoração e carinho. Passando a mão na face da outra, a rapariga sorriu, antes de a voltar a beijar.

Quando o ambiente ameaçava aquecer, o telemóvel de Susana tocou, muito para irritação de ambas, a rapariga foi ver de quem se tratava, preferindo deixar a loura comer o que lhe preparara em paz. A pessoa que se encontrava do outro lado da linha era Guida. Com a boca cheia de comida, a outra implorou, “Atende tu e diz que estou a dormir ou qualquer coisa, ela faz tanto barulho!”

A medo, a morena acabou por anuir, tendo o cuidado de afastar o aparelho uns centímetros do ouvido, “Estou?”

“Puta! Ah, desculpa, és tu pussy, quer dizer, Daniela!”, fingiu corrigir, Guida, rindo-se. Aquela era a nova alcunha de Daniela, por a amiga de Susana a achar uma “coninhas”. A rapariga, consciente de que de nada servia mandar Guida para todos os sítios possíveis e imaginários, apenas podia esperar que a alcunha não pegasse. Com a voz elevada demasiados decibéis para os tímpanos da morena, continuou, “A Susy que tire o dedo da rata e que atenda aí”

A última parte fora dita com audibilidade suficiente para que a loura ouvisse e, ainda com a sandes toda enfiada na boca, gesticulasse para que Daniela fizesse alguma coisa para impedir a destruição dos seus ouvidos. Afastando ainda mais o telemóvel, a rapariga disse, “Ela teve uma noite difícil e está a descansar, coitada”

“Coitada de ti se não lhe passares já o telemóvel”, rosnou Guida, prestes a bombardear a morena com tudo quanto fosse insultos e, verdade seja dita, a maior parte deles Daniela nem conhecia. Não sabendo o que mais dizer, a rapariga desligou a chamada e o aparelho, antes de respirar fundo. E fora assim que assinara a sua sentença de morte.

Agradecendo várias vezes, Susana abraçou a morena, antes de fazer mais um pedido, “Podias fazer-me companhia, enquanto eu não adormeço?”

Aceitando, Daniela acomodou a loura de modo a que pudesse afagar-lhe os cabelos, sabendo que esse gesto sempre a ajudara a dormir. Ouvindo o ronronar da outra, a rapariga sorriu para si, enternecida, como é que seria possível não a adorar?

1 comentário:

  1. Hum... As coisas melhoraram (e muito). Mas, na minha opinião, ainda tens aí pontos a resolver. Os problemas e dias difíceis acham que não vão ser ignorados sem, pelo menos, uma conversa.
    Foi bom ver a Susana tentar redimir-se. E foi bom ver que a Daniela ainda dá atenção e importância aos pequenos esforços que a outra vai fazendo. É bom ver que não estás a deixar cair pequenos pormenores por terra. O que não me espanta.
    Nunca foste de deixar pontas soltas na história. E confio em ti para que mantenhas o bom nível daquilo que tens aqui em mãos.
    Uma viajante dos blogues :) *

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