sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Capítulo 78

Os últimos meses haviam sido agitados ao máximo para Susana. Com o lançamento do seu segundo CD, toda a divulgação e publicidade que conseguisse fazer seria pouca. Sessões de autógrafos, entrevistas e concertos seriam imperativos. Desta forma, aquele mês havia sido passado fora de casa, com diversos concertos espalhados por várias cidades do país agendados e aparições em programas televisivos. Por muito que todo aquele mundo lhe agradasse, nem tanto pelo dinheiro, mais por poder tocar, o facto de ter vindo a passar cada vez menos tempo com Daniela preocupava-a.
A rapariga submergida em trabalho e a loura na mesma situação, constantemente a chegar a casa de madrugada e a sair com as galinhas começava a afastá-las um pouco. Se antes, mesmo não se vendo, conseguiam despender de uma hora para falarem ao telefone e matar saudades, agora já não podiam afirmar o mesmo. As conversas começaram a ser menos e menos frequentes, até que os períodos que passavam sem notícias uma da outra, em bom rigor, eram de mais de duas semanas. Portanto, a vontade que Susana tinha de terminar o último concerto daquela digressão e regressar para junto da morena atingira proporções megalómanas, ainda para mais dado que a loura, como forma de eliminar a distância que se havia imposto entre ambas, tinha uma surpresa para Daniela.
Foi com recurso às suas últimas reservas de energia e grande satisfação que deu por terminado aquele concerto. Ofegante mas com um sorriso nos lábios, despediu-se do público, agradecendo-lhes por comparecerem e por a terem ajudado a chegar até onde estava. Ela era, realmente, muito abençoada por ter tido a sorte que tivera e estava disposta a retribuir a tudo e todos os que lhe deram a hipótese de estar onde estava a fazer o que fazia. Porém, só desejava que toda aquela dedicação não lhe acabasse por sair mais caro do que julgara. Caindo sobre o colchão do seu quarto de hotel, pouco ou nada tardou até que adormecesse.
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Os primeiros raios da manhã incidiram sobre a face de Daniela, despertando-a mais cedo do que gostaria. Resmungando, virou-se para o outro lado, apenas para se deparar com um espaço vazio e lençóis frios. Já haviam passado alguns meses, mas nem por isso se conseguira habituar à ausência de Susana, fosse quando regressava a casa para junto de ninguém, fosse quando acordava sozinha, fosse quando se sentia necessitada. Sentia falta da loura, ponto. Enquanto a outra vinha e não vinha, preparara uma surpresa para ela, só esperava que fosse gostar.
Aproveitando o facto de ser fim-de-semana para poder dormir mais um pouco, puxou o ursinho para si, já conseguindo calar a vozinha dentro da sua cabeça que troçava, “Vinte e quatro anos e a dormir com peluches, quando é que viraste tão gay?”. Quando voltou a acordar, o relógio que tinha na mesa-de-cabeceira indicava que já passava das onze, o que traduzia para horas de rastejar para fora da cama e iniciar um novo dia. Foi o que fez, arrastando-se, ensonada, até ao duche, totalmente absorta do som de uma chave a ser introduzida na fechadura.
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Ao ouvir o som da água a correr, um sorriso matreiro apareceu nas feições de Susana. Num instante, pondo-se tal como veio ao mundo, avançou em pezinhos de lã para a banheira, para onde saltou. Para não assustar a rapariga, que ainda assim deu um salto, a loura sussurrou-lhe ao ouvido, “Ssh, sou eu”
A morena, mal acalmou, voltou-se para trás e beijou a outra, “Tive saudades”
Susana retribuiu, encostando Daniela à parede, todos os seus receios que o reencontro pudesse ser constrangedor dissolveram-se como se nunca estivessem lá estado. Nos próximos momentos nada foi dito, limitaram-se, apenas, a eliminar todas e quaisquer saudades que sentissem. Cansada mas satisfeita, a loura puxou a rapariga para si, envolvendo-a num abraço terno, fazendo com que esta sentisse as gotas de água que lhe escorriam sob o seu corpo quente, “Não volto a ir para fora tão cedo…”
Percorrendo os contornos das costas da outra com as mãos, a morena, ainda com a cara no pescoço desta, suspirou, “Espero que não…é verdade, olha…”
Afastando-se de Susana, apontou para o cimo do braço, junto ao ombro, onde se encontrava a sua mais recente aquisição, uma tatuagem que consistia no desenho de uma capelo, a cobra começava enrolada no braço, onde subia até ao ombro e terminava um pouco abaixo da clavícula. Perante o olhar abismado da loura, Daniela clarificou, “Como eu sei que tu não querias uma cobra como animal de estimação, arranjei maneira de ter uma, gostas?”
Mesmo não gostando de répteis, a outra tinha que admitir que gostava do padrão do animal tatuado na pele da rapariga e combinava bem com o padrão tribal que já tinha na anca. Passando a mão pela tatuagem, Susana disse, “Adoro e queria que visses uma coisa”
Virando-se de costas, exibiu um “D” e um “S” entrelaçados, sob a omoplata, numa caligrafia elaborada. Na verdade ambas as suas tatuagens eram tão simples, constituindo mais um tributo que um desenho complexo.
“Oh…”, manifestou-se, apenas, a morena, enternecida até mais não. Com um sorriso panhonha e o olhar vidrado, passou a mão pela tatuagem nas costas da loura, sentindo a pele ligeiramente irregular naquela zona. Aproximando-se, deu um beijo leve onde outrora estivera a mão, “Adorei”
“Já tenho a tatuagem da minha avó, agora queria uma tua”, explicou Susana, sorrindo, um tanto corada, o que não era nada habitual, tendo em conta que as palavras constrangimento, vergonha e embaraço não figuravam no seu dicionário, para o bem e para o mal, “Agora tenho duas tatuagens das duas mulheres da minha vida”
Daniela só não sorriu mais porque tal não era fisicamente possível, tendo, portanto, que se limitar a beijar a loura, que a puxou tanto para si quanto conseguiu. A troca de caricas foi interrompida pelo telemóvel da rapariga, que lá acabou por se enrolar numa toalha e ir atender, reticente. Uns minutos mais tarde, a outra foi ao seu encontro, vendo-a com um ar tão atordoado como nunca antes vira, “O que é que aconteceu?”
“Os filhos do Pedro acabaram de nascer”

1 comentário:

  1. Pergunto-me se aquela saudade toda já terá sido morta, não em termos sexuais, mas sim em termos da ausência que tiveram uma da outra este tempo todo.
    E é claro que só me apetece bater-te por causa da tatuagem da cobra. A Susana toda romântica e a Daniela tatua uma cobra xD
    Quanto ao nascimento dos miúdos... Eu quero ver agora, quero quero.
    A próxima atitude da Susana acho que vai ser andar aos pulos dentro de casa e a querer ir a correr invadir o hospital para vê-los.
    E por fim, sabes bem que anseio pelo próximo :)
    Uma viajante dos blogues :) *

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