sábado, 12 de novembro de 2011

Capítulo 73

O súbito desaparecimento de Pedro não era algo que Daniela estranhasse, afinal este havia arranjado, recentemente, uma nova namorada. Tanto quanto a rapariga sabia, talvez fosse desta que assentava, porém, dado o passado deste, essa hipótese seria melindrosa. E daí se Susana o conseguira, porque motivo havia o amigo de não conseguir? Só havia uma maneira de saber que era esperar para ver e era precisamente isso que a rapariga tencionava fazer. Claro que quando recebeu um convite de Pedro para irem jantar a um restaurante japonês do seu agrado, ainda que dispensável para a morena, esta nem pensou duas vezes em aceitar, decerto que o amigo teria novidades para lhe contar.
Mal estacionou no parque do restaurante, avistou Pedro, sentado na borda do canteiro à sua espera. No entanto este estava diferente. Desde as suas calças de marca, ou não fosse este o aficionado por moda, e acessórios impecáveis, não havia nada fora do comum. Mas parecia estar a emitir um brilho, uma espécie de uma aura…fosse o que fosse o rapaz, quer dizer, o homem, tendo em conta a diferença de idades entre ele e Daniela, estava radiante. Assim que avistou a morena, saltou, todo ele transbordando euforia, agarrou a rapariga, como se fosse uma boneca de trapos e rodopiou-a no ar, “Boa noite, coisa mais boa!”
“Aii…LARGA-ME!”, protestou Daniela, esperneando em vão, “Páraaa!”
Quando Pedro a pôs no chão, a rapariga apenas não caiu, completamente atarantada, porque o amigo a agarrou. Ao recompor-se, a morena não conseguiu conter mais a sua curiosidade insatisfeita, “É agora que me vais dizer porque é que pareces um palhaço feliz?”
“Calma, cada coisa a seu tempo”, replicou Pedro, sorrindo tanto que a cara parecia prestes a rasgar a qualquer momento, “Vamos comer primeiro”
Impaciente, Daniela resmungou, mas o seu estômago já se queixava, tão ruidosamente como uma avalanche, que nem ao rapaz passou despercebido. Se calhar estava a apanhar os hábitos de Susana…Porém, se a loura tinha a capacidade gástrica de uma larva, o mesmo não acontecia com a morena, cujo apetite esmoreceu ao ver sushi nos pratos dos restantes clientes. Já instalados, escolheram uma dose de sushi cada um. O que uma pessoa não tinha que fazer pelos amigos, pensou a rapariga, grunhindo à medida que sonhava com um caril de frango extra picante.
Assim que a empregada japonesa trajada a rigor se afastou com os pedidos de cada um, Pedro esticou as mãos sobre a mesa e pegou nas de Daniela, sempre a radiar felicidade, “Como é que conseguiste deixar a Susana em casa?”
“Tu pediste-me para vir sozinha e eu vim”, respondeu a morena, franzindo o sobrolho, se o rapaz achava que ela se ia esquecer, estava muito enganado, “De qualquer forma ela foi sair…mas não penses que me enganas, conta lá o que é que te está a deixar nesse estado”
Pedro riu-se, por entre dentes, o certo é que estava a adiar um pouco a bomba que tinha para contar pois queria dizê-la da melhor maneira, apenas não sabia como a contar de outra maneira, portanto disparou, “Eu…vou…ser…pai!”
Enquanto o ouvia falar, a rapariga estava a beber um pouco de água, água essa que com o susto conseguiu cuspir em cheio na cara do amigo, que de tão feliz que se encontrava nem se importou com o facto de estar a escorrer água e saliva. Por sua vez, Daniela batalhou com um violento ataque de tosse que se seguiu imediatamente, deixando-a roxa e às portas de umas asfixia. Apenas dez minutos e uma multidão assustada mais tarde, é que a rapariga acalmou o suficiente para dizer, “Tu o quê?”
“A Cláudia está grávida”, reformulou Pedro, enquanto limpava a cara a um guardanapo, sempre sem parar de rir.
“Oh meu Deus”, murmurou a morena. Só de pensar que aquela pessoa diante de si, a mesma com quem brincara ao Harry Potter e ajudara a copiar em muitos testes, ia ter um filho, era o suficiente para a abalar dos pés à cabeça.
“Não estás feliz?”, questionou ele, agradecendo à empregada pelo prato de comida que esta colocava diante deles.
“Estou muito, acredita que sim”, apressou-se Daniela a dizer, não fosse dar a ideia errada, “Mas parece tão assustador…ainda há me lembro de estarmos com as nossas lancheiras na primária…agora tu vais ser PAI!”
“Nem me digas nada, é mesmo estranho, mas ao mesmo tempo é maravilhoso”, regozijou-se Pedro, por entre dentadas no pedaço de sushi, “Sempre quis ser pai, só não estava à espera que fosse já”
“Ela está de quanto tempo?”, perguntou a rapariga, um tanto enjoada com o cheiro duvidoso do sushi, só esperava que aquele peixe não fosse a sua morte.
“Dois meses, em princípio nasce lá para Julho”, respondeu o amigo, enquanto enchia o copo com saqué a ambos, “Podemos fazer um brinde?”
“Claro, mas espera que eu acabe de comer, se beber com pouca comida no estômago já sabes que não me dou bem”, pediu a morena, engolindo pedaços enormes de peixe quase sem mastigar, para saborear o menos possível, “Acho-te uma piada, nem me apresentaste a Cláudia e agora dizes-me que vocês vão ter um filho”
“Tu estás sempre ocupada, ou com trabalho ou com a querida da Susaninha”, replicou o rapaz, revirando os olhos, “Mas fazemos assim, no Natal ou no Ano Novo fazemos qualquer coisa todos e assim já não vai haver desculpa”
“Boa ideia”, concordou Daniela, feliz por ver o sushi chegar ao fim, “Mas quando chegar à altura tu não fales em crianças em frente à Susana, peço-te por tudo”
“Porquê?”, interrogou Pedro, de olhos arregalados, “Ela não adora miúdos? Até vai todos os anos àqueles concertos para animar as crianças doentes!”
“Natais nos Hospitais e concertos de caridade, sim ela está sempre lá”, disse a rapariga, “Mas é mesmo por isso, ela adorava ter filhos, ainda outro dia se pôs a falar de possíveis nomes comigo, é a Sara e o Afonso”
“Eu adorava, mas adorava a sério, ver um bando de Danyzinhas a correr por aí”, derreteu-se o amigo com a ideia, “Imagina uma mini Dani lourinha, que coisa mais linda, o problema era se saía uma cabeça de vento, com os genes da Susana nunca se sabe…”
A morena limitou-se a torcer o nariz e a bater na mesa de madeira três vezes, antes de desviar o assunto, “Quem é que são os padrinhos do teu filho ou filha, do João Pedro e da Maria João?”
“O padrinho é o tio, o irmão da Cláudia”, respondeu ele, com a maior das naturalidades, “A madrinha és tu, nem te pergunto porque isso já está decidido, bem como os nomes das crianças, desde o nosso terceiro ano”
“Oh!”, enterneceu-se Daniela, voltando a agarrar as mãos de Pedro, “Não acredito que ainda te lembras disso!”
“Já que eu não pude ser o padrinho do teu casamento…”, negociou o rapaz, por entre risos, “…vou ser eu, também, o padrinho dos teus putos, aposto que a Susy está muito de acordo”
“Cala-te e não dês ideias à Susana”, apressou-se a morena a dizer, novamente indisposta, “Não íamos fazer um brinde?”
“Claro”, disse ele, pegando novamente na garrafa de saqué para voltar a encher o copo tanto à rapariga como a si próprio, “Ao meu João Pedro ou à minha Maria João”
Daniela pegou no seu copo e brindou, sorridente. Para sua irritação, Pedro voltou a bater com o seu no dela, proferindo, “E ao Afonso e à Sara também!”, antes de se desfazer em risos, perante a sua expressão enfastiada. No fundo, Daniela acabou por sorrir também.

2 comentários:

  1. Gostei ! E é claro que é sempre bom que as personagens começam a ganhar algum juízo, ahah. O Pedro por muito que reclame, no fundo, no fundo, ganhou juízo e vai assentar.
    Quanto às crianças, estou ansiosa por ver a reacção da Susana quando souber! E talvez a Daniela se sinta um pouco pressionada.
    Esperarei para ver.
    Uma viajante dos blogues :) *

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  2. consegui imaginar a cara da 'dani' ao pensar nas crianças.
    desculpa a cena de ontem.
    Q

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