sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Capítulo 5


Parecia um sonho. Daniela estava meio acordada, ainda debaixo dos lençóis, e a pensar sobre a manhã que tinha passado no dia anterior com Susana. Entretanto a vibração do telemóvel interrompeu os pensamentos da morena, que arrastou pesadamente o braço até à mesa-de-cabeceira. Quando viu quem era a remetente da mensagem esboçou um longo e agradável sorriso. Levantou-se e rapidamente se despachou, sem se atrapalhar como no dia anterior, devido ao nervosismo.
Desta vez a sorte parecia estar do seu lado, o autocarro não empanou e conseguiu ludibriar o motorista de modo a pagar metade do que pagaria se tivesse sido honesta quanto ao seu destino. Não demorou muito até que chegasse ao café do dia anterior. Pontual como sempre, Susana já lá estava, encostada a uma parede com os braços cruzados sobre o peito. Quando esta avistou a rapariga, um sorriso iluminou-lhe o rosto. Desencostou-se e dirigiu-se à morena, cumprimentando-a com um abraço e beijando-lhe a testa.
“Alguém se está a tornar pontual”, brincou ela, ainda com os braços em torno da cintura da rapariga.
“Oh, tenho que me redimir depois de ontem”, respondeu a morena ainda com a cara no pescoço da outra.
Não perderam tempo desta vez e dirigiram-se à pequena praia. As únicas diferenças residiam no facto de Daniela não ir vendada desta vez e de ter, casualmente, entrelaçado os dedos com os de Susana. Assim, pôde verificar que o caminho não era muito íngreme, tendo apenas umas pedras, poeira e vegetação seca. A rapariga fez questão de o memorizar, só pelo sim pelo não, ser cuidadosa e prevenida estava na sua natureza. Rapidamente lá chegaram, ainda apanhando alguma da frescura matinal, que em breve seria substituída pelo calor tórrido tão próprio do Verão.
A loura retirou uma toalha da mala, toalha essa que estendeu sobre o areal, convidando a morena a sentar-se. Esta assim o fez, aconchegando-se ao lado da outra. Sem constrangimentos nem silêncios desconfortáveis, iniciaram uma conversa sobre interesses, a partir da qual descobriram que, apesar de terem passatempos e experiencias passadas muito diferentes, tinham diversos interesses em comum. Por um lado, Daniela preferia programas mais caseiros e tranquilos, por outro, Susana gostava de sair. A morena gostava de música mais pesada e de um bom concerto, a loura inclinava-se mais para ambientes mais leves e descontraídos, sendo o segundo passatempo preferido desta, logo a seguir a Bodyboard, tocar viola.
No que dizia respeito a acontecimentos pelos quais tivessem passado, a rapariga não era muito “experiente”, tendo tido pouquíssimas relações, todas elas breves. Desde que Andreia a rejeitara que criar laços se tinha tornado difícil, quase impossível, embora tivesse feito esforços para contrariar esta situação. Já a outra, apenas tinha tido uma relação de três anos com outra rapariga que a traiu, o que fez com que nunca mais quisesse assumir relações, desde então que praticamente que a sua vida amorosa se resumia a “uma nova (ou duas) todas as noites”.
Foi quando falaram sobre os ambientes familiares que Daniela agradeceu nem ela sabia a quem, por ter sido criada numa boa família (embora os pais fossem rigorosos e exigentes, desde sempre tinham tido grandes expectativas em relação a ela) com posses e vida confortável. Já Susana tinha poucas recordações dos pais, pois tinham emigrado quando esta ainda era muito nova e vivia com a avó que já tinha uma idade avançada e saúde fraca. Não tinha mais que uma vida modesta, embora estivesse habituada, desde sempre, a trabalhar e poupar, tendo sido, assim, que conseguiu a sua mota, que era a “luz dos seus olhos”.
Durante a conversa, a morena mantivera o olhar fixado s olhos da loura, que nunca o desviara, mantendo-se sempre segura de si e confiante, embora ao mesmo tempo terno e encorajante. A outra tinha colocado uma mão sobre a cintura da rapariga, brincando-lhe com a camisola, tal como fizera na noite em que se tinham conhecido. À medida que a conversa progredia, também a mão de Susana, que ora escorregava pela anca de Daniela, ora desenhava círculos e curvas imaginários na barriga desta.
Tinham estado lado a lado deitadas na toalha, embora viradas uma para a outra. Agora a morena tinha-se aproximado e colocado a mão no pescoço da outra, sentindo a pele suave e brincando-lhe com o colar. Deixou a mão descer, com um dedo a contornar o peito da loura, que se riu devido às cócegas que sentiu. A partir desse momento, a conversa cessou. Susana puxou Daniela para cima de si e, sem hesitar, beijou-a. Primeiro devagar e com ternura. Depois, já com mais intensidade, embora sempre fosse gentil. A morena pôs-se confortável e à vontade com as pernas uma de cada lado do corpo da loura.
A rapariga segurou o cabelo enquanto se baixou para voltar a beijar a outra, dando, desta vez, mordidelas brincalhonas no lábio inferior desta, de modo a picá-la. A outra colocou ambas as mãos na cintura de Daniela, enquanto correspondia aos beijos. De repente o telemóvel da morena tocou, interrompendo as raparigas. Daniela dirigiu-se à mala para ver quem lhe estava a ligar, mas Susana impediu-a, antes que tivesse tempo sequer de ver quem era.
“Oh vá lá, estamos tão bem”, suplicou com o seu melhor beicinho. Mesmo que se tivesse sentido um tanto culpada por ter encorajado a rapariga a não atender uma chamada que podia muito bem ser importante, estava a adorar cada segundo que passava com a morena. Contrário ao que era comum em si, deixou o seu lado mais egoísta dominar o seu lado protector e preocupado.
“Pronto, seja lá quem for, pode esperar”, sorriu ela, voltando a atirar com o telemóvel para dentro da mala. Beijou novamente a loura, desta vez brincando-lhe com a língua, apesar de preferir lábios. Se havia algo que adorasse nestes momentos, era o facto de a outra ser sempre muito querida e de a fazer sentir-se especial, nunca a deixando sentir-se pouco à vontade ou forçada a fazer qualquer coisa que não gostasse. Sabia que nunca viria a ter oportunidade para experimentar o mesmo com Andreia, mas de momento não tinha razões de queixa. Desta vez foi Susana quem as separou, parando apenas por um momento para olhar para Daniela com a expressão de maior adoração até agora.
“Sabes uma coisa?”, perguntou com o ar mais enternecido, “Eu…”. O telemóvel da morena voltou a tocar, para irritação de ambas. A rapariga considerou desligá-lo desta vez, mas parou gelada ao ver o visor. Era a sua mãe que estava a ligar e tinha o pressentimento que não era por nenhum bom motivo.
“Desculpa, é a minha mãe, vou ter mesmo que atender”, disse a rapariga, beijando rapidamente a loura, “Estou, mãe?”
“Não atendeste a primeira chamada porquê?”, respondeu-lhe a mãe, visivelmente chateada, do outro lado, “E estás aonde e com quem, posso saber?”
“Desculpa mas não ouvi isto tocar…vim à praia com uma amiga”, atrapalhou-se a morena, tinha saído de casa sem dar grandes justificações aos pais, visto que no dia anterior não tinham levantado objecções, “Mas não te preocupes que já vou para casa”
“Não é já vou, é vens já!”, gritou a sua mãe, com o seu temperamento impulsivo e já a perder a cabeça. E com isto desligou, deixando Daniela a tremer, pois já sabia o quão rígida a mãe podia ser.
“Está tudo bem?”, perguntou Susana, preocupada.
“Não, não está”, suspirou a rapariga, “Tenho que ir já para casa, desculpa”
“Não faz mal”, disse a outra, “Se quiseres dou-te boleia”
Recolheram as coisas e fizeram o percurso em passos rápidos, se a morena já estava com o coração nas mãos, pior ficou quando viu que iriam de mota. Como se não bastasse ter receio daquele tipo de transporte, era a sua única opção, porque o autocarro ainda demorava.
“Não pensaste que eu tinha uma daquelas scooters ridículas, pois não?”, brincou a loura, exibindo a sua todo-o-terreno preta orgulhosamente.
“É hoje que morro”, disse Daniela em tom amargo, sentando-se atrás de Susana, “Como é que é suposto agarrar-me?”
“Mete os braços à volta da minha cintura”, explicou a outra, enquanto ajeitava o capacete. De repente pareceu ficar a ponderar algo. Resolveu tirar o capacete e colocá-lo antes na cabeça da rapariga, que olhou para esta como se lhe estivesse a perguntar se tinha a certeza. Susana acenou que não fazia mal e arrancou com força, o que deu voltas ao estômago de Daniela, que se agarrou ainda com mais força ao corpo de Susana. Quanto mais curvas apertadas tinham que dar, mais a rapariga se comprimia e jurava a si mesma que para a próxima ia de carro.
O certo é que meia hora depois estavam em frente à casa da morena. Esta levantou-se da mota com as pernas um tanto trémulas, mas nada que se comparasse à forma como ficaria depois do sermão que se adivinhava. Despediu-se da loura com um beijo simples nos lábios e dirigiu-se à porta, olhando por cima do ombro a tempo de ver Susana sorrir-lhe antes de voltar a pôr o capacete e arrancar.

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