domingo, 20 de fevereiro de 2011

Capítulo 9


Tanto Daniela como Susana repararam na ausência das raparigas, embora nenhuma tivesse tido a menor ponta de preocupação, visto que era óbvio o que tinha acontecido. Como Guida tinha ficado com a responsabilidade de substituir a DJ no seu trabalho enquanto esta estava ausente, a loura teve que voltar à mesa. Mas não sem levar a morena consigo. De mãos dadas abandonaram o recinto cheio e Susana passou rapidamente a próxima musica.
Passaram o resto da noite assim, a loura colocou os braços em torno da cintura da morena e descansou a cabeça no pescoço desta. Por sua vez, a rapariga deixou-se encostar à outra enquanto a abraçava. De vez em quando havia um beijo um uma carícia, mas permaneceram o tempo todo em silencio, afinal não era necessário falar, o que era preciso dizer já havia sido dito. Quando o final da festa chegou, Susana finalmente falou:
“Queres que te leve a casa?”, perguntou ela.
“Eu não queria dar-te muito trabalho”, respondeu Daniela, desde sempre que não gostava de andar à boleia, pois achava que acabava por ser um fardo para os outros, ainda assim só tinha maneira de ir para casa dali a umas horas, “Mas só tenho como ir embora daqui por um bom bocado”
“Nem penses que ficas aqui sozinha!”, alarmou-se a loura, desde sempre que era extremamente protectora em relação aos demais, “Vou pôr-te a casa e tu não respingas”
A morena viu-se sem alternativa, embora tivesse que admitir que era preferível assim do que esperar duas horas sozinha por um comboio. Para seu horror viu-se novamente em cima da tão temida mota, tanto que por instinto apertou o corpo da outra como se não houvesse amanha, de modo a não se arriscar a desequilibrar-se. Uma hora depois já avistava a casa e sentiu uma onda de pânico, nunca mais se tinha lembrado dos pais! E se tivessem dado pela sua falta ou se tivessem acordado por qualquer motivo?
Despediu-se de Susana com um demorado beijo e dirigiu-se à entrada de casa, rezando para que o barulho da mota não tivesse acordado a mãe. Esperou um pouco para se certificar que a mãe tinha tempo de voltar a adormecer, caso fosse necessário e abriu muito lentamente a porta, tendo o cuidado de a fechar sem o menor barulho. Descalçou-se e dirigiu-se ao quarto, podendo verificar que estava tudo como tinha deixado, mas só ficaria completamente descansada quando enfrentasse os pais na manhã seguinte.
Daniela acordou na manha seguinte e a primeira coisa que fez foi tomar banho para evitar encarar os pais com aquele cheiro a tabaco próprio do bar. Não se demorou muito pois já tinha ouvido os pais na cozinha e queria ficar completamente descansada. Saiu do duche e vestiu uma roupa prática, visto que tencionava passar o resto do dia em casa, e desceu as escadas em direcção à cozinha. Foi imediatamente cumprimentada pela sua mãe com um sorriso, o que fez a rapariga estranhar, embora por um lado tivesse retirado um peso enorme de cima. Pelo menos não tinha sido apanhada.
“Dani, senta-te que gostava de ter uma conversa séria contigo, se faz favor”, disse a mãe embora com alguma hesitação, como se estivesse a preparar um discurso ou a organizar uma linha de pensamentos lógicos. Isto não deixou a morena muito descansada, talvez tivesse festejado antes de tempo.
Daniela assim o fez, apenas com um acenar afirmativo de cabeça, puxando uma cadeira para si e sentando-se nela. Esperou que a mãe prosseguisse, sem a apressar, sempre com o coração nas mãos.
“Queria…queria pedir-te desculpa, o castigo acabou por ser exagerado”, desculpou-se ela. A rapariga sabia que a mãe devia estar mesmo arrependida, visto que sabia melhor que ninguém o quão custava fazê-la admitir que errou.
“Não faz mal, eu compreendo que devia ter dado justificações…”, respondeu Daniela, “Apenas gostava que me desses mais liberdade, sou adulta e nunca te dei razões para não confiares em mim”
“Agora percebo isso, mas sabes que és a minha única filha, não ia aguentar se te acontecesse alguma coisa”, disse a mãe, com um nó na garganta.
“A sério, eu não torno a sair de casa sem dizer nada, mas não tens que te preocupar”, retaliou a morena, “Sei o que faço”
“Tem cuidado, filha”, concluiu ela, num tom que Daniela não sabia identificar, tampouco compreendeu o significado daquelas palavras naquele contexto. Fosse como fosse não matutou sobre o assunto.
Acabou o pequeno-almoço em silêncio e beijou a bochecha da mãe, antes de voltar para o quarto. Pegou no telemóvel e viu que tinha uma mensagem de bons dias de Pedro, no seu habitual tom estridente, mensagem essa à qual respondeu no mesmo tom, visto que sabia como ele ficava caso não recebesse os bons dias de forma animada. Tinha, também, uma mensagem de Susana:
“Consegues ser a primeira pessoa em quem penso quando acordo, como é que o fazes?”
Ao ler aquilo Daniela sorriu de orelha a orelha. Apressou-se a responder-lhe:
“Se me acordasses todos os dias assim eu era uma miúda feliz :) Tiraram-me o castigo finalmente e concordaram em dar-me mais liberdade”
No fundo a rapariga sentiu-se um pouco culpada por não ter dado uma resposta à altura da mensagem da outra, mas expressar sentimentos nunca tinha sido o seu forte, muito menos por palavras. A resposta não se fez demorar:
“Hu, então temos que comemorar isso! Hoje queres vir ter à praia?”
A morena não viu mal nem achou que seria um pouco “abuso” de liberdade aproveitar já, portanto assim concordou. Depois de almoço iria ter ao café do costume, depois iriam à praia. Até lá a rapariga tinha duas horas, embora não tivesse planos. Ajudou a mãe com as compras, arrumou o quarto e ajudou a preparar o almoço. Tudo para dar a melhor impressão possível. Mal acabou de almoçar consultou o relógio, para sua frustração não tinha tempo de chegar à paragem. Muito para seu constrangimento não teve opção senão pedir o carro aos pais.
Tendo em conta que o trânsito até não estava muito engarrafado, conseguiu chegar ao local combinado apenas com uns dez minutos de atraso. Às tantas já nem se importava, simplesmente ser pontual não era algo que conseguisse. Estacionou o carro e dirigiu-se para o café. Tal como no primeiro dia, Susana estava encostada à parede de braços cruzados. Esta, mal avistou a rapariga não perdeu tempo e foi cumprimentá-la. Daniela tencionou fazê-lo com dois beijinhos, mas a loura tinha outra ideia e tentou dar nos lábios da morena. Ainda assim, esta teve presença de espírito suficiente para desviar a cara, para desilusão da outra.
“Oh, então?”, questionou a loura, com uma expressão magoada nos seus olhos azuis.
“Desculpa, mas em frente a esta população toda não, por favor”, murmurou a rapariga, sentindo-se tanto incomodada como culpada.
“Hás de te sentir mais à vontade com o tempo”, suspirou Susana, tentando manter-se paciente, “Ao menos posso dar-te a mão?”
Daniela ainda pensou em responder torto, mas a última coisa que desejava era arranjar problemas com a sua “namorada”, só a palavra custava a dizer. Portanto optou por um sorriso terno e um “Claro que sim”
A loura pegou-lhe na mão e encaminhou-as para o percurso que já era familiar a ambas, de tal modo que não tardou muito que chegassem à praia. De modo a redimir-se, a morena agarrou, embora de forma não bruta, a camisola da outra, apenas de modo a mantê-la perto e beijou-a. Talvez por ter sido apanhada de surpresa, Susana desequilibrou-se e caiu para trás, arrastando Daniela consigo.
“Estás bem?”, perguntou a rapariga, afinal tinha caído mesmo por cima da outra.
“Estou melhor agora”, respondeu a outra, rindo-se, “Olha, tenho uma surpresa para ti, aliás, para nós! Queres ver?”
A morena apressou-se a sair de cima da loura e a dizer “Ui, sinceramente gosto pouco de surpresas, mas diz lá”
“Não sei se faz bem o teu género, mas acredita que foi com a melhor das intenções”, continuou Susana enquanto tirava algo da mala. Daniela reparou que esta tinha qualquer coisa verde fluorescente na mão, embora não soubesse exactamente o quê.
“Pulseiras para o Sumol Summer Fest!”, concluiu a outra com um sorriso de orelha a orelha.
Mesmo que a rapariga não gostasse daquele tipo de música, teria fingido estar entusiasmada só para não ferir os sentimentos da loura pela segunda vez naquele dia, mas tendo em conta que adorava, atirou-se para cima de Susana, dando-lhe o maior abraço.
“Love you!”, disse a morena, ainda agarrada ao pescoço da loura, “Foi das melhores surpresas que podias ter feito”
“Não tenho direito a um beijinho?”, gracejou Susana, enquanto colocava os braços em torno da cintura de Daniela e a puxava para si.
“Com certeza!”, respondeu Daniela, colocando-se em bicos de pés para agradecer convenientemente à outra com um beijo.

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