sábado, 19 de fevereiro de 2011

Capítulo 7


“Suse, não me levantam o castigo nem por nada, desculpa a sério”, implorou Daniela.
Quando a loura ouviu estas palavras, apenas o tom triste e suplicante com que a rapariga tinha dito aquilo a impediu de se chatear a sério. Mesmo sabendo que ela não tinha culpa de nada, a DJ tinha perdido a sua atitude feliz característica. Só faziam festas daquelas uma vez em cada ano, no Verão. Era a oportunidade perfeita para o que tinha planeado e agora tinha ido por água abaixo. Como se isso já não bastasse tinha que ir sozinha, para o cúmulo da humilhação. Pronto, ia com Guida, mas essa era apenas amiga, não era a mesma coisa.
O dia da festa chegou por fim e Susana estava sem qualquer tipo de disposição para tal. Mas como ainda tinha os seus compromissos, cortar-se à última de hora estava fora de questão. Assim sendo, à hora combinada estava lá com Guida, que tinha passado a última hora a tentar moralizá-la:
“Esquece lá a miúda, se vires que estás muito mal vai lá abaixo enquanto eu trato disto e come uma gaja”
Em condições normais seria o que a loura faria, mas sentia uma espécie de fidelidade para com Daniela, e como tal, recorrer a outras raparigas estava fora de questão. Antes de ir para a mesa de mistura pediu qualquer coisa forte à barman, bebendo o que quer que aquilo fosse de um trago até sentir o líquido a queimar-lhe a garganta. Quase imediatamente sentiu a cabeça tipo carrossel, mas nada que a impedisse de fazer o seu dever.
A festa tinha acabado de começar, bem como a primeira música. A DJ pediu a Guida que tomasse conta daquilo enquanto ia buscar outra bebida. A amiga concordou e fez o que tinha a fazer, afinal também era DJ, só que só actuava em discos ditas normais, embora aquela fosse a única maneira de ficar a salvo das raparigas que se atiravam desavergonhadamente. Passou a mão pelos seus cabelos negros e pensou no quão afectada Susana tinha ficado apenas porque a outra miúda se tinha cortado. Desde a semana passada que não ouvia falar de outra coisa que não a “Dani”, sinceramente já estava arrependida de ter chamado a atenção da loura para a rapariga.
Entretanto Susana tinha pedido outra bebida igual e desta vez já teve que se segurar porque aquilo tinha-a deixado pouco segura das suas capacidades motoras. Só que ao tentar alcançar o balcão, caiu para cima de alguém que se encontrava ao pé deste.
“Desculpa!”, pediu ela, já com a cara perto do peito de uma rapariga. Foi então que reparou melhor na pessoa em quem estava apoiada. Era bastante bonita e “bem avantajada”, de pele bronzeada e ar provocante.
“Só te desculpo se me souberes compensar bem”, disse a desconhecida, num tom que não ostentava qualquer tipo de timidez, passando os dedos pelo peito da loura.
“Eu compenso, não te preocupes”, murmurou a DJ, talvez graças ao álcool, mas tinha decidido que, não era por Daniela se ter cortado que não podia deixar de se divertir. Ainda assim o álcool não a fez não ligar importância à sensação pesada de culpa que se fez sentir quando a estranha lhe começou a mordiscar a parte de baixo da orelha. Fechou os olhos por um momento e lembrou-se dos dias de praia da semana anterior e dos maneirismos tímidos de Daniela.
Quando os voltou a abrir, a primeira coisa que viu foi o ar arrasado de Daniela, em carne e osso, mesmo diante de si e, depois o corpo quente da desconhecida comprimido contra o seu. Corpo esse que afastou de si rapidamente com um encontrão, para ir abraçar a sua morena. A estranha foi-se embora com um ar indignado, não que Susana tivesse dado importância, pois sentiu-se subitamente sóbria, como se lhe tivesse sido despejado um balde de água fria em cima, ao ver o olhar a rapariga lhe dirigiu, antes de lhe virar as costas.
“Dani, desculpa a sério!”, suplicou ela, agarrando o braço desta, antes que tivesse oportunidade de escapar.
“Não peças, não estavas a fazer nada de mal”, disse-lhe a morena, num tom gélido, “Afinal não me deves nada”
“Eu queria dever…”, começou a DJ, “…se me deixares é claro”
“O quê?”, respondeu Daniela, rispidamente, sem ter percebido mesmo onde a outra queria chegar.
“Eu gosto mesmo muito de ti…”, continuou Susana enquanto ganhava tanto coragem como coerência, “…se alguma vez pudéssemos vir a ser algo mais…”
Apesar de ter ficado bastante sensibilizada pelas palavras da loura, a morena era demasiado orgulhosa para se deixar “levar por falinhas mansas”, optando antes por dizer friamente, “Não faças declarações, muito menos agora”
“Basta dizeres não e eu não te chateio mais”, prosseguiu a DJ, sem pensar duas vezes.
Justamente quando a rapariga ia abrir a boca para dizer algo do qual de certeza se viria a arrepender depois, Marta interveio, com a sua atitude directa:
“Epa, oh Daniela, tu por uma vez na vida larga-me essa atitude orgulhosa irritante, está ali a mulher a declarar-se e tu és assim, ainda por cima gostas dela”
Ao ouvir estas palavras, a rapariga parece pensar duas vezes, embora tenha sentido o seu orgulho a vir abaixo e não gostou da sensação. A loura soltou-lhe o braço e sorriu-lhe abertamente, com aquele seu sorriso feliz típico que lhe acentuava tanto os olhos como as covinhas.
“Por favor, dá-me uma oportunidade”, pediu, embora tenha soado a uma suplicia e não a pressão.
“Cala-te, estúpida”, disse a Daniela já a sorrir, antes de se atirar para os braços de Susana e de a beijar. O beijo foi um tanto demorado, até que a morena lhe pôs fim apenas para clarificar a loura, “Isto é um sim”
“Prometo que te vou tratar melhor do que alguém jamais o fez”, disse ela com uma lágrima no canto do olho, antes de abraçar a rapariga.
“Tu pára-me com essas pieguices”, brincou a morena, embora tivesse sussurrado ao ouvido da loura, quando a abraçou, “Adoro-te”
“Love you too”, respondeu a loura.

Sem comentários:

Enviar um comentário