segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Capítulo 93


Susana aconchegou melhor Daniela debaixo do seu braço enquanto viam televisão. Já sentia falta daqueles momentos, momentos esses em que, apesar de não serem os mais entusiasmantes, podiam ficar somente na companhia uma da outra, mesmo que nada dissessem. Nem era preciso e ambas estavam gratas por esse silêncio apaziguador. No entanto, ainda havia algo que impedia a loura de se sentir na mais completa e plena paz. Os acontecimentos daquele dia com a jornalista. Era como que um espinho cravado na pele, incomodava-a e, se a rapariga conseguira pôr de lado a sua teimosia e perdoar-lhe, ela também teria que ser honesta.

Hesitante, despertou a morena que lhe estava a passar a mão pela barriga, perdida no que quer que estivesse a pensar, “Daniela?”

“Hm…adoro os teus abdominais”, murmurou Daniela, distraída, fazendo passar um dedo ao longo da barriga da outra, sentindo os altos e baixos dos músculos bem definidos.

Susana agradeceu o elogio, dando-se ao luxo de mostrar alguma vaidade pela forma em que se mantinha. Nem era por motivos de estética, era mesmo porque gostava de praticar desporto, os resultados eram só um bónus. Porém, por muito enternecida que tivesse ficado com o elogio, tinha algo para confessar à rapariga e convinha que não adiasse. Segurando-lhe a mão, conseguiu a sua atenção e, séria, disse, “Não sei como é que hei de dizer isto, mas…”

A morena ergueu o sobrolho, receosa pelo que viria ali. Nunca gostara quando a loura assumia uma atitude séria, em geral só o fazia quando o assunto era mesmo grave e, naquele momento, queria tudo menos lidar com assuntos graves. Mesmo assim, encorajou a outra a dizer, de uma vez por todas, o que é que tinha a dizer.

“Eu pensava que já não querias mesmo nada comigo…”, começou Susana, notoriamente embaraçada, tanto que corara, coisa que era raro acontecer, “Já não estava com ninguém desde…olha, desde a última vez que estivemos juntas”

De erguido, o sobrolho de Daniela passou a franzido. Já estava a ver onde ia dar a conversa e, se fosse o que estava a pensar, então as coisas também se iriam mostrar tremidas para o seu lado. Não poderia a outra ser honesta sem que ela também não o fosse. E como é que isso as deixaria? Mas porque é que mal podiam estar bem sem que houvesse sempre sinais de novos problemas?

Engolindo em seco, a loura continuou, incapaz de encarar a rapariga, tanto que se limitou a fitar os seus ténis pousados em cima da mesinha, “A jornalista, sabes, aquela…bem, essa começou a provocar-me e…eu não aguentei”

As suspeitas da morena confirmaram-se, sempre era o que estava a pensar que seria. Não tinha autoridade para descarregar a raiva que sentia e gritar com Susana, até porque nem esta tinha feito algo de errado, nem ela tinha feito senão o mesmo. Sentindo a garganta seca, respondeu, “Pronto, não tem importância”

A resposta apanhou a loura de surpresa, tanto que arregalou tanto os olhos que pareciam sair-lhe das órbitas. Balbuciando, inquiriu, “Como…como assim não tem importância?”

A hipótese mais viável era ser sincera. Daniela suspirou, constrangida e, olhando para a pulseira que tinha no tornozelo para evitar olhar a outra nos olhos, clarificou, “Não tem importância porque…fiz o mesmo”

“O quê?!”, gritou Susana, antes de se obrigar a acalmar, já que não se justificava o acesso de raiva que sentiu, só a fazia passar por hipócrita. Alguém iria lamentar e muito ter-se metido com a rapariga. Inspirando e expirando várias vezes, perguntou, “Quem?”

“A Sofia…sabes, aquela com quem eu…”, tentou justificar-se a morena, a quem os ciúmes por parte da loura souberam muitíssimo bem, mesmo que não pudesse mostrar o quão contente estava. E ficava tão querida quando estava zangada, com os olhinhos azuis a chisparam, desde que o objecto de dita raiva não fosse ela, Daniela, claro estava.

“Eu sei quem é, obrigada!”, rosnou a outra, rangendo os dentes. Com sorte, ainda naquele dia Sofia iria ouvir das boas e então, quando lhe pusesse as mãos em cima iria ficar em polpa, “Se a apanho está fodida”

Rindo, a rapariga lançou-se a Susana, abraçando-a. Não queria estragar o que conseguiram havia apenas momentos antes com aquelas duas. Na sua perspectiva, estavam quites e era um assunto a cair no esquecimento. Porém, imaginar o cabelo da repórter a arder causou-lhe uma certa satisfação. Ao ouvido da loura, sussurrou, “Esquece a Sofia, se eu pudesse também dizia das boas à jornalista mas se tu esqueceres, eu esqueço”

A outra relaxou um pouco, colocando a morena no seu colo. Ainda considerou a hipótese de fazer uma espera a casa de Sofia mas rapidamente tirou o cavalinho da chuva quando Daniela lhe começou a mordiscar o pescoço. Limitou-se a dizer, sorrindo em antecipação, “Parece-me bem”

1 comentário:

  1. Este capítulo foi só mesmo para me tirares do castigo de não ler nada em tanto tempo.
    Ainda assim, foi importante. Pôr os pontos nos i's. Assim está muito melhor. Tudo esclarecido. E, apesar da vontade de vingança, estão decididas a esquecer, o que me parece ser o melhor.
    Sabes bem que concordo com isto.
    Uma viajante dos blogues. :)*

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