segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Capítulo 89

Short but sweet
Decididamente que dormir sozinha não era para Susana. Estava tão habituada a partilhar a cama com Daniela que, a ausência desta a seu lado, dificultava-lhe toda e qualquer paz que fosse bem-vinda no seu sono diário. Fazia parte das regras que ambas tinham estipulado para poderem levar uma coexistência pacífica: não dormiam no mesmo quarto nem passavam mais tempo juntas do que o estritamente necessário e inevitável, como às refeições, junto à família da rapariga e quando a loura tinha alguma aparição pública para fazer importante. Caso contrário, se estivessem ambas em casa na mesma altura, limitar-se-iam a falar o mínimo, o que, tendo em conta a personalidade da outra, era complicado, pois relatava à morena todo o seu dia e recebia, como resposta, monossílabos.
A fachada que ambas mantinham não constituía, para Susana, representação. Afinal, se dependesse de si nunca teriam rompido. Limitava-se apenas a ignorar o facto de já não serem um casal e agia como o faria em condições normais. Dava a mão a Daniela, sorria, posava para fotos e, sobretudo, não ultrapassava os limites que sabia que iriam deixar a morena constrangida. Apenas fazia, com muito esforço seu, o suficiente para não despertar suspeitas. Se pudesse, faria bem mais, mas mais do que as fronteiras que não iria atravessar, a culpa que sentia inibia-a de ir mais longe. Junto à família da rapariga, trocavam as carícias mais discretas para que não parecesse estranho. A loura sabia que teria que poupar Daniela o mais possível à inevitável fúria de sua mãe se descobrisse.
Susana, quando as tentativas de pregar olho acabaram por ser infrutíferas, levantou-se. Ao consultar o relógio constatou que ainda tinha umas horas até que fosse madrugada, o que não a consolou. Sabia que não conseguiria descansar, não dentro daquelas quatro paredes que a cada instante a sufocavam ainda mais. Quem havia de dizer que regressar aos velhos hábitos seria tão difícil? Só de pensar que toda aquela situação podia ter sido evitada…Porém, o que estava feito, estava feito e não valia a pena chorar sobre leite derramado. Indo até à cozinha para beber um pouco de água, não resistiu a fazer um pequeno desvio.
Na sala, enrolada num cobertor no sofá, encontrava-se a morena. Ao observar como esta colocava o braço por baixo da almofada e ao ouvir a sua respiração leve, a loura não conteve um sorriso. Estava tão torta…não podia estar confortável. Se Daniela não fosse tão teimosa, poderia ter ficado com a cama que ela, Susana não se importaria de dormir no sofá. Mas não, tinha que ser orgulhosa. Ainda argumentara que a casa era da loura e, como tal, deveria ficar com a cama. Como se a outra não a conhecesse…Abanando a cabeça, Susana esqueceu-se do que tencionava fazer antes de interromper a sua rota. Sentou-se ao lado da rapariga, com cuidado para não a acordar e afagou-lhe a mão.
“Hm…”, sussurrou a morena, adormecida. Tinha o sono leve e não seria complicado despertar, caso a outra fizesse um movimento menos gentil. Ainda assim, agarrou na mão da loura, apertando-a na sua, sempre inconsciente do que estava a fazer.
Nunca descaindo o sorriso, a outra retirou um pouco do cabelo de Daniela que lhe pendia na face. Brincando com essa mesma madeixa, fez cócegas no nariz da morena, fazendo com que esta emitisse o que se encontrava algures entre um gemido e um resmungo. Pronto, já chegava. Susana fez para se levantar, quando se deparou com a mão ainda envolta na da rapariga. Entre uma onda de ternura e outra de pânico, perante a eventualidade de Daniela acordar, a loura abriu-lhe a mão, devagar. Com calma conseguira, a rapariga nem se movera. Antes de ir embora, a outra deu-lhe um beijo na testa, carinhosamente.

1 comentário:

  1. Posso dizer que amei o capítulo?
    Não aconteceu nada de extraordinário, não houve desenvolvimentos de maior nem recuos.
    Deste a conhecer a situação em que estavam.
    Mas, foi simplesmente ternurento. E eu adorei. :)
    Gostei imenso do carinho da Susana, apesar da consciência de culpa. O amor está presente. :)
    Uma viajante dos blogues :)*

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