sábado, 8 de outubro de 2011

Capítulo 65

Susana acordou com o som de passos no corredor, porém, encontrava-se demasiado ensonada para se preocupar com o que quer que fosse. Suspirando, virou-se para o lado, procurando voltar a adormecer, junto a Daniela. Quando deu pela falta de um outro corpo a seu lado, sentou-se subitamente na cama, “Para onde é que ela teria ido…”
A resposta não se fez esperar, já a rapariga surgira à entrada do quarto, segurando um tabuleiro com o pequeno-almoço e ostentando uma expressão divertida, “Desculpa Suse, acordei-te?”
“Não vás embora sem avisar…”, respondeu a loura, indecisa entre manter o beicinho ou atirar-se de cabeça à salada de fruta que olhava de volta para si no tabuleiro.
Muito para sua admiração, a morena sentou-se a seu lado na cama, sem sequer a cumprimentar devidamente, com o tabuleiro no colo, de onde tirou um pedaço de pêssego, que comeu, olhando para a outra, “Quê? Pensavas que era para ti?”
Foi então que Susana se decidiu pelo beicinho, tão intenso que até fez doer o coração de Daniela, o que só foi agravado pelo sonoro ruído do estômago da loura. Aí a rapariga não conseguiu manter a fachada, riu-se e, por fim, lá disse, “Estava a brincar, é para ti sim”
“Ah! Bom!”, regozijou-se a outra, atirando-se primeiro à morena, que quase sufocou com o seu entusiasmo. Deixando Daniela respirar, Susana voltou a sua atenção para a comida, inalando-a sofregamente, enquanto a morena passava a mão pela cara, arrepiada, “Lambuzaste-me toda!”
“Até parece que é a primeira vez que tocas em fluidos meus”, gozou a loura, levando a tigela à boca, para beber o que restava do sumo.
A rapariga ia-lhe a responder à letra, mas fora interrompida pelo som do telemóvel antes que pudesse sequer abrir a boca. Pegou no aparelho e atendeu, “Bom dia, mãe!”
“Olá sogrinha!”, gritou a outra, fazendo questão que fosse bem ouvida pela senhora. Valeu-lhe um caldo por parte de Daniela e um “não a provoques” baixinho. Foi então que teve uma ideia.
“Sim…sim está tudo…bem”, respondeu a rapariga, hesitante, ao ver Susana começar a morder-lhe o pescoço e a apalpar tudo o que conseguisse agarrar. Quando a mão da loura lhe desapareceu por dentro dos calções, não conseguiu conter-se mais, “Hmm!”
“Agora não me parece que seja boa altura para ligar”, apressou-se a mãe a dizer, do outro lado do mundo, visivelmente incomodada, “Até logo!”
“Não se passa…hm…nada”, tentou a morena, embora nada tivesse feito para tirar a mão da outra.
“Adeus sogrinha!”, gritou Susana, apoderando-se do telemóvel, “Eu disse que tomava bem conta da sua filha”
Usando o que restava da sua força de vontade, Daniela tirou-lhe o telemóvel, desligando-o. Mais tarde vingar-se-ia, mais cedo do que a outra esperava. Deixou que a loura acabasse o que estava a fazer, eficaz como sempre e, no final virou-se para esta e sorriu, a tempo de a ver pôr-se a jeito para que lhe retribuísse o favor, “Depois disto nem penses!”
“Mas…mas…”, insistiu Susana, angustiada, “Não me podes deixar assim!”
“Tanto posso como é o que vou fazer”, replicou a morena, deitando-lhe a língua de fora e ignorando as pragas que a outra lhe rogava, “Estou lá fora, despacha-te”
------------------------------------------------------------oOo------------------------------------------------------------
“Não acredito que tu fizeste mesmo isso”, rosnou Susana pela milésima vez naquela manhã.
Estavam a dar um passeio pela cidade, a pedido de Daniela, que já nem se lembrava do que acontecera antes, embora tivesse a sensação que a mãe nunca esqueceria. Revirando os olhos, a morena tentou entrelaçar os dedos na mão da outra, que pendia do seu ombro, sem reparar no cigarro que já lá estava…resultando num grito e numa queimadura circular na palma da mão, “Aiiii!!”
“Desculpa!”, pediu a loura, deitando a beata fora, para ver melhor os danos. Não tinha muito bom aspecto, a ferida estava cada vez mais avermelhada. Numa tentativa de acalmar um pouco a queimadura, Susana deitou-lhe um pouco de água em cima, antes de olhar para a expressão de dor na cara da rapariga. Pedindo desculpa mais uma vez, a loura deu um beijo terno na ferida, antes de lhe afagar a mão.
“Obrigada Susana, já está melhor, não te preocupes”, agradeceu a morena, abraçando a outra.
A outra puxou Daniela para si, encostando-lhe a cabeça ao peito, antes de prosseguirem o passeio. A cidade apresentava-se animada, com a população sempre activa e impecável para com os turistas. Perto delas, estava a decorrer uma feira com peças de artesanato típicas da região, o que suscitou o interesse da rapariga, “Podemos ir ver?”
“Claro”, anuiu Susana. Passando por entre o aglomerado de multidão, conseguiram aproximar-se das bancas. Estendidas sobre toalhas de algodão estavam pequenas esculturas tribais em madeira, ao lado de peças de adorno, desde colares, pulseiras e brincos a tecidos. A loura rapidamente viu uma peça que, na sua opinião, ficaria bem à sua “sogrinha”, podia ser que amolecesse o coração desta, nem que fosse um pouquinho. Deu uma nota de dólar em troca de um colar metálico que terminava num pendente em madre pérola e rezou para que a senhora não a enforcasse com ele. Enquanto a morena observava as esculturas, a outra escolheu uma pulseira em couro que achou que fosse muito do agrado de Daniela.
Aproveitando o facto de Daniela se ter afastado para ver algo noutra banca, a loura comprou mais duas peças, que guardou rapidamente no bolso, antes que a rapariga voltasse, com o coração a galopar-lhe do peito. A hipótese de que alguma coisa pudesse correr mal não era nada em que já não tivesse pensado, mas, no fundo, sabia que estava a tomar a decisão certa.
Com um sorriso rasgado, voltou para junto da rapariga, quando esta a chamou. Em frente a ela, estavam diversas guitarras havaianas, “Consegues tocar?”
“Já sabes que estes dedos fazem arte onde quer que toquem”, respondeu a outra, sorrindo de modo presunçoso. Juntando o gesto à palavra, estudou o instrumento por uns instantes. Tanto quanto entendeu, teria que ser tocado na horizontal, com uma palheta que o homem lhe emprestou. “Hm 6 cordas? Não há-de ser muito difícil”
Os primeiros acordes saíram-lhe um pouco toscos, o que provocou um risinho por parte do vendedor, “Aí é? Espera só…”. Continuou, por tentativa e erro, até que apanhara a lógica daquela guitarra. Numa questão de minutos, o homem parara de rir, “Hey…not bad at all”
“Yes…the guitarra is…very good”, tentou Susana, num esforço para tentar comunicar, o que valeu risos, desta vez por parte de Daniela. Deitando-lhe a língua de fora, continuou a tocar. Estava a gostar do som do instrumento, talvez o pudesse incluir numas músicas novas…
Adquiriu a guitarra, garantindo a si própria que até ao próximo mês a estaria a tocar na perfeição. Estava ainda a ponderar como a iria utilizar, quando Daniela a fez voltar à realidade, “E se me tocasses mas é na guitarra cá de baixo? Também dá música”
Susana não conseguiu evitar rir. Porém, se não conseguiu evitar rir, ainda menos conseguiu evitar aceitar o convite, quando deu por si, já estava de volta à cabana, com a rapariga a compensar o que não fizera antes naquele dia. O que tencionava fazer teria que esperar por um momento mais propício, mas seria feito, disso tinha a certeza.

1 comentário:

  1. Adorei a parte do telefonema! E, muito sinceramente, imagino o fumo que já deveria sair das orelhas da "sogrinha" depois daquilo.
    Quanto à surpresa de Susana para Daniela, já sabes que não dou palpites. Espero pela continuação para ser surpreendida!
    E, por fim, sabes que adoro a tua escrita.
    Uma viajante dos blogues :) *

    ResponderEliminar