domingo, 1 de maio de 2011

Capítulo 21

Os dias que se seguiram passaram depressa demais para o gosto de ambas. Não houve quaisquer complicações nem Susana voltou a insistir com Daniela para assumir a relação perante os pais, estava suficientemente feliz por ver esta perder lentamente o receio de se comportarem como namoradas em público. Passavam o tempo ora indo à praia ou à piscina, ou simplesmente ficando por casa. A loura não podia ainda andar muito, apesar de a água lhe ter feito bem.
Era já a véspera do regresso a casa e a morena teve uma ideia para um jantar diferente. Aliás, seria, mais propriamente, a sobremesa. Nem seria difícil arranjar o que precisava. Nessa manhã, libertou-se dos braços da outra que a abraçavam sempre noite após noite, com cuidado para não a acordar e dirigiu-se ao supermercado. Trouxe e guardou o que precisava, nunca acordando a outra. Dirigiu-se à varanda e sentou-se numa cadeira, recostando-se confortavelmente enquanto tirava um cigarro. Era um ritual que não dispensava, sempre a descontraíra, mas desta vez nem mesmo este lhe eliminava as dúvidas. O Verão estava a acabar e em breve estaria de volta na faculdade, o que lhe ocuparia grande parte do tempo. Como faria para consolidar estudos com Susana?
Estava ainda a matutar o assunto quando uma mão pousada sobre o seu ombro a arranca dos seus pensamentos. Olhou para cima e viu a outra acabada de sair da cama, ainda com o cabelo desgrenhado e ar ensonado a sorrir-lhe. A rapariga sorriu de volta, afagando a mão que a loura lhe colocara no ombro.
“Alguém decidiu acordar cedo”, brincou Susana, sentando-se na cadeira ao lado da morena.
“Olá bom dia”, cumprimentou Daniela, ainda imersa nos seus pensamentos.
“Em que é que estás a pensar?”, perguntou a loura, ainda de mão dada com a namorada.
“Daqui por duas semanas vou para a faculdade…e tu tens as noites ocupadas”, disse a rapariga, recostando a cabeça na cadeira.
“E então?”, questionou a outra, coçando a cabeça, o que resultou em cabelos ainda mais revoltos. “Para bom entendedor meia palavra basta”, obviamente que não se aplicava a esta.
“E então que no ano passado praticamente que não tinha nenhum tempo livre para mim, entre aulas e estudar”, clarificou Daniela, penosamente, “Não sei como vou puder ter tempo para estar contigo”
“Tem calma, amor”, assegurou Susana, apertando a mão da morena na sua, “A gente arranja maneira”
A rapariga tinha que admitir que, se havia alguém no mundo cuja falta de eloquência não a impedisse de se sentir amparada, esse alguém era a loura. Desta vez nem se importou que a namorada lhe tivesse chamado amor. Assim sendo, levantou-se da sua cadeira e sentou-se no colo da outra, aninhando-se nos braços desta, que prontamente a abraçou, enterrando a cara no pescoço da rapariga.
O resto do dia decorreu na maior das normalidades, passaram o tempo na piscina, sem nada que nada tivesse acontecido. Provavelmente teriam ficado mais tempo se Daniela não tivesse que pôr a sua ideia em prática. Sugeriu, com um piscar de olho, que tinha uma surpresa, mas que para isso tinham que tomar banho e vestirem-se. Facilmente manipulável, Susana apressou-se a sair da piscina e a arrastar a morena em direcção ao apartamento. Já no banho, acabaram por demorar mais tempo do que o necessário porque, apesar dos melhores esforços da rapariga, a loura não perdia uma oportunidade para a encostar à parede.
Quando finalmente estavam prontas, dirigiram-se para o carro. Desde que namorava com a loura, que o metal e rock que se fazia ouvir do rádio do carro da morena havia sido substituído por reggae. Escusado seria mencionar que a viagem desde o apartamento até à praia foi passada a ouvir Souls of Fire. Estacionaram e tiraram do banco de trás um cesto, cesto esse que a outra, sendo a eterna cavalheira que era, se ofereceu para carregar. Foram para o areal, tendo o cuidado de escolher um sítio mais ou menos resguardado e colocaram uma toalha. Sentaram-se e a rapariga retirou do cesto uma garrafa de champanhe, juntamente com dois copos altos, tirou também uma taça com morangos, o seu fruto preferido.
Daniela sentou-se com as pernas dobradas de lado, deixando Susana deitar a cabeça sobre estas. Colocou os braços em torno do pescoço da loura, deixando as mãos repousarem sobre o peito desta, que olhou para si durante um bom instante, até murmurar “amo-te”. A rapariga sorriu, antes de repetir aquelas palavras e de beijar a outra. Quando terminaram o beijo, mantiveram as testas encostadas, ainda de olhos fechados. Depois de mais um beijo, desta vez não tão demorado, a morena retira a garrafa e despeja parte do conteúdo nos copos, entregando um à loura.
Deram um gole e Daniela retirou um morango da taça, morango esse que levou à boca de Susana. Mas no momento em que esta ia para o trincar, afastou-o, rindo-se depois, levando o morango à própria boca e trincando. A outra fez o seu irresistível beicinho, para enternecimento da morena, que acabou por lhe dar a outra metade do fruto. Quando os lábios da loura lhe roçaram na ponta dos dedos, a rapariga arrepiou-se um pouco, embora não tivesse sido desagradável. Em vez de afastar a mão deixou que Susana lhe lambesse o que restava do suco do morango dos dedos.
Ambas sorriam, sendo a vez da outra de tirar um morango. Passou-o pelos lábios da morena suavemente, até permitir que esta trincasse o fruto. Deixou os dedos pousados sobre os lábios desta, que os mordiscou ao de leve, apenas o suficiente para fazer cócegas à loura. Daniela beijou Susana novamente, antes beber o que restava no copo. Depois pegou noutro morango que deu à loura, só que desta vez aproximou-se dela, que mantinha o fruto entre os dentes e trincou a outra metade. Foram repetindo o processo, até que a taça ficou vazia, bem como a garrafa de champanhe. Apesar do álcool, a brisa nocturna fazia-se sentir e Daniela estremeceu, o que não passou despercebido a Susana.
“Estás bem?”, perguntou, preocupada.
“Estou a ficar com frio”, respondeu a morena, esfregando as mãos nos braços descobertos, já arrepiados.
A outra levantou-se e colocou os braços em torno do corpo da rapariga, de modo a aquecê-la, visto que também não tinha casaco. Tendo em conta que a loura estava sempre quente, não demorou muito para que Daniela se sentisse melhor. Virou-se para Susana e deitou esta de costas na toalha, aconchegando-se nela. Olharam-se intensamente durante uns instantes, nenhuma soube dizer quanto tempo ao certo, observando a forma como a luz lunar lhes incidia na pele, até que se beijaram, por iniciativa de ambas. O beijo começou doce, terno e suave a início, mas à medida que se foi intensificando, também a necessidade com que as raparigas se agarravam.
Apesar da temperatura fresca da noite, o clima que se fazia sentir entre ambas facilmente a aquecia. Não demorou até que peças de roupa fossem removidas e postas de parte, pouco depois Susana estava por cima de Daniela, beijando-lhe o pescoço, ambas apenas cobertas pela toalha. Por muitos anos que viesse a viver, aquela seria uma noite que Daniela nunca esqueceria.

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