terça-feira, 7 de junho de 2011

Capítulo 26

Passou uma semana. Durante essa semana o ambiente familiar em casa de Daniela melhorou um pouco. Esta já deveria ter previsto que, tendo em conta que a mãe a adorava e não era pessoa que aguentar chateada muito tempo, bastava ter explodido numa ocasião ou outra e a raiva passava-lhe. Era só esperar que o tempo fizesse o resto, era a estratégia da morena. Por sua vez, Susana sentia-se aliviada pela melhoria da situação da namorada. Só não se encontrava totalmente em paz porque o ataque de tosse da avó na semana passada não a deixava tranquila. Ainda por cima a idosa mostrava-se extremamente teimosa em relação a ir ao médico.
Faziam três meses, foi o pensamento que logo veio à mente da rapariga mal acordou. Ainda com o seu deslize do mês passado bem presente na memória, prometeu a si mesma que se redimiria. Felizmente para si, a avó da loura tinha combinado consigo que lhes deixaria a casa livre para o dia. À primeira vista os objectos que escolheu para presentear a outra podiam parecer aleatórios, mas Daniela tinha depositado imensa ponderação neles.
Fez o percurso até casa de Susana e à hora combinada estava lá. Serviu-se da sua cópia da chave para entrar sem que a loura desse por isso. Sem fazer barulho, dirigiu-se ao quarto da outra, onde presumiu que esta estivesse. Por acaso estava com sorte, Susana estava a tocar e estava de costas. Ainda pensou em cobrir-lhe os olhos, mas sabia que a loura gostava de tocar de olhos fechados, por isso decidiu-se por lhe dar uma dentadinha ligeira no ombro. O certo foi que Susana deu um salto, alarmada, o que fez com que a morena se risse.
“Porra! Oh amor, não me faças outra destas que não aguento”, disse a loura, ainda a tentar acalmar o ritmo cardíaco.
“És tão medricas, Susy”, brincou Daniela, enquanto abraçava a outra, mordiscando-lhe ao de leve o pescoço.
Susana apertou a namorada contra o seu corpo, mas ficou a olhá-la nos olhos à espera que esta dissesse aquilo que tão esperava ouvir. Ainda com os braços em torno do pescoço desta, Daniela fingiu-se desentendida perante o olhar de cachorrinho da outra, “O que foi?”
Era nessas alturas que a rapariga adorava a sua poker face, conseguiu disfarçar bem a expressão de gozo e o riso que lhe ameaçavam escapar a qualquer momento. Quase que teve pena de Susana quando esta, com o seu beicinho usual, lhe disse, “Esqueceste-te outra vez…”
A morena foi deixando o sorriso escapar-lhe progressivamente, até que não conseguiu conter-se mais e partiu-se a rir, para indignação da loura. Quando finalmente acalmou, com uma lágrima no canto do olho de se rir, falou, “Estava a brincar contigo”
“Ah bom! Estava mesmo a ver que te tinhas voltado a esquecer”, suspirou Susana, aliviada.
“Não mesmo, prometido é devido”, reconfortou Daniela, dando um beijo rápido à loura, “Aliás, espera um segundo”
Deixando Susana, dirigiu-se à mesa da entrada, onde tinha deixado as prendas. Voltou, rezando para que não parecessem estúpidas demais. Assim que voltou ao quarto, viu que a outra estava a tirar algo do armário. Mal esta se virou para si, correu a abraçá-la, simplesmente porque sentiu a necessidade de o fazer. A loura sorriu, apertando-a. Por fim separaram-se e Susana passou-lhe um ursinho de peluche para as mãos e uma rosa vermelha.
“Oh que coisa mais fofa”, exclamou a rapariga, abraçando o urso de pêlo creme felpudo, “E a rosa, opa!”
“Algo para abraçares…quando eu não estou por perto”, disse Susana, afagando a bochecha da namorada, “E a rosa é a minha preferida”
“O peluche não te substitui a ti mas obrigada”, disse Daniela, com um sorriso que ela própria teria achado parvo, mas estava comovida, tinha que dar o desconto a si própria. Beijou a loura novamente, antes de lhe dar o que tinha para dar. Colocou na mão da outra, um par de alargadores metálicos de cor escura e um lírio branco.
“Pode parecer parvo, mas como ambas gostamos de alargadores assim tínhamos uns a condizer”, esclareceu a rapariga, puxando o cabelo para trás para mostrar o seu túnel, consideravelmente mais pequeno que os da outra, “O lírio além de ser o meu preferido tem um silogismo especial para mim”
“Adoro estes!”, disse Susana, abraçando a morena, “Isso nunca me tinhas dito”
“Já reparaste que sempre que se vê lírios brancos à venda, costumam ter sempre as pontas manchadas ou vincadas?”, explicou a rapariga, “Matei-me para arranjar esse…continuando, o branco simboliza a inocência e pureza, mas o branco é facilmente manchável…vejo isso como uma metáfora para o facto de também ser difícil encontrar pessoas que tenham a pureza intocada. Decidi dar-te essa flor por isso, porque foste tu que me tiraste a pureza”
Quando acabou, olhou para Susana, mas a expressão baralhada na cara desta e o “Oi? Desculpa perdi-me” confirmaram-lhe as suas suspeitas. Tinha estado a falar para o boneco. Com um suspiro, disse-lhe para deixar estar. Na maior parte das vezes, a lentidão da outra era algo que, aos olhos da rapariga, era amoroso, noutras podia ser frustrante. Esta era uma dessas. Diante de si, estava a loura com um olhar suplicante que por si dizia “vá lá eu quero entender”, portanto a morena voltou a explicar, passo a passo. Quando se fez luz na cabeça de Susana, esta abraçou Daniela, ternamente.
Susana, que nunca tinha sido grande cozinheira, andava, ultimamente, a fazer um esforço para aprender com a avó. E, na sua opinião, estava a fazer progressos, pelo menos a comida já não ficava queimada por fora e crua por dentro. Como no Algarve tinha sido sempre a morena a cozinhar, a outra gostaria de a surpreender. Pediu-lhe para esperar na sala enquanto fazia o almoço.
Meia hora, muito esforço da parte da loura e muita espera da parte da rapariga, e o almoço estava feito. Daniela não soube identificar o que era pelo cheiro, mas quando pôde ver ficou surpreendida. Susana tinha acabado de preparar uma dose descomunal de esparguete com fiambre e natas. Mas o que mais surpreendeu foi o aspecto, que estava óptimo e perfeitamente posicionado no prato. A esparguete fumegava, com os pedaços de fiambre cuidadosamente misturados, envolvidos por um espesso molho de natas.
“Mesmo que não esteja bom diz que gostas só para não me sentir mal”, pediu a outra, com a testa brilhante do esforço, “Tenho andado a aprender”
Daniela sorriu antes de lhe dar um beijo na bochecha. Quando se ia a sentar, Susana puxou-lhe a cadeira, demonstrando mais uma vez o seu cavalheirismo. A rapariga sorriu, novamente, desta vez para si, num momento de “pita de doze anos com uma paixoneta”. Só o aspecto da comida foi suficiente para lhe fazer crescer água na boca, mas quando levou a primeira garfada à boca…o sabor era ainda melhor. A massa estava no ponto ideal! E ela era extremamente esquisita com a esparguete, mas a outra conseguira cozinhar na perfeição.
“Se eu soubesse dos teus dotes culinários, acredita que não te livravas de ter cozinhado lá no Algarve”, disse Daniela, entre garfadas.
“Curso intensivo com a minha avó”, clarificou a loura, mal cabendo em si de orgulho, “Ela faz isto melhor do que eu alguma vez fiz”
“Duvido…”, replicou a rapariga, ainda entre garfadas. Apesar de já ter o prato quase limpo, comia mais apenas porque estava delicioso, “Está perfeito”
Terminaram a refeição, muito a custo da morena, que apesar de se encontrar saciada, comia mais apenas porque adorou, mas tinha vergonha de mostrar a sua faceta mais alarve. O tempo ainda estava agradável, nem demasiado quente nem frio, ameno. Daí que a outra tivesse sugerido que fossem para o jardim. Quando, no percurso até à porta, passaram pelo quarto da loura, a rapariga viu a viola esquecida em cima da cama, lembrou-se de algo.
“Amor…tocas um bocadinho para mim, se faz favor?”, pediu Daniela, timidamente. Não sabia explicar porquê, mas sentira necessidade de chamar a loura por um nome dito querido.
O tratamento surpreendeu a outra de tal forma que não conseguiu dizer mais do que, “Sim claro…”
Foi rapidamente buscar a viola ao quarto e foram para o banco que estava no jardim, que por acaso era a parte da casa com melhor aspecto. Susana colocou o instrumento no colo, começando a dedilhar uma música que sabia ser uma das preferidas da morena. Daniela limitou-se a observá-la enquanto tocava. O ar da loura, a tocar de olhos fechados, enquanto cantava num tom de voz baixa, era algo que, além de transmitir paz a Daniela, ainda a enchia de orgulho. Quando deu por isso, a outra estava a tocar uma das partes que mais mexia com ela duma música.
“Adoro essa parte”, disse a rapariga, com um sorriso contente.
“Ai é?”, respondeu Susana, dando uma palmada na própria perna, “Senta aqui”
Daniela fez como lhe disse, pondo-se confortável no colo da loura. Susana colocou-lhe a viola no colo e, pegando-lhe nas mãos, explicou-lhe a maneira mais simples de tocar a tal música. A morena sentiu-se tocada com o gesto, apesar de ter tudo menos talento musical. Sentir a respiração quente da outra na parte de trás do seu pescoço causava-lhe arrepios. Virou-se para trás, fitando a loura e mantendo o olhar fixo. Susana estava adorável com o seu habitual sorriso feliz das covinhas. Acomodou-se no colo desta, pegou-lhe na cara e beijou-a. A outra não perdeu tempo a reagir, colocando as mãos na cintura da namorada.
A rapariga separou-as, apenas para reparar na cicatriz com que a loura ficara por causa da luta com a machona do bar. Olhou, enternecida, até que lhe deu um pequeno beijo. Susana sorriu, antes de lhe beijar o pescoço.
“Cuidado não me deixes chupões”, pediu Daniela, que não queria mesmo ter que voltar a ouvir a mãe.
“Se não for no pescoço posso fazer?”, perguntou Susana, olhando para o peito da morena, “Estás mesmo a jeito com esse top vermelho”
“Chama-se cai-cai e…AH!”, gritou a rapariga, quando a loura, puxando-lhe a peça de vestuário um pouco para baixo, lhe chupou com força no peito. A algum custo conseguiu tirar a outra do seu peito, mas não antes de esta lhe deixar uma marca vermelha. Voltou a beijá-la, sentindo-a levantar-se, arrastando-a consigo. Sem nunca se separarem, Susana encaminhou-as para dentro de casa, empurrando a morena, de costas, contra a parede. Daniela mal sentiu quando as costas embateram com alguma força na parede de pedra, colocou os braços em volta do pescoço da loura e deixou que esta lhe tirasse o top com um puxão.
Deixando o top algures pela casa, Susana seguiu com Daniela para a sala, a divisão mais próxima. Numa sequência de movimentos algo brusca, a loura pegou na rapariga e atirou com esta para cima do sofá, deitando-se por cima dela. Esta ficou surpreendida com a brutidão da outra, embora até preferisse assim.
“Foda-se, merda de calças”, resmungou a outra, esforçando-se por tirar as calças justas à pele da morena.
Rindo da expressão aborrecida da loura, a rapariga empurrou-a de cima de si, tirando ela própria as calças com toda a calma, só para chatear a outra. Apenas em roupa interior, montou Susana, beijando-a devagar e com calma. Impaciente, a loura agarrou Daniela, intensificando o beijo. Esta, perante a impaciência da outra, agarrou-lhe a camisola e puxou-a para si, obrigando-a a levantar-se. Ainda sentada em cima de Susana, tendo esta apenas as costas levantadas, tirou-lhe a camisola, dando-lhe uma trinca no pescoço com bastante força, o suficiente para sangrar um pouco.
“Agora deu-te para seres bruta?”, perguntou a loura, num tom bruto fingido. Agarrou numa mão cheia de cabelo da rapariga e afastou-a de si, pondo-a logo de seguida deitada no seu colo. Mal a teve onde queria, desferiu uma palmada na nádega desta com tanta força que lhe deixou uma marca vermelha, “’Tá bem”
Outra!...Outra!...Outra!... Daniela não soube ao certo quantas foram, saboreou bem a sensação de dor/prazer de cada uma, a diferença era mínima. Quando Susana a deixou ir, mal se pôde mexer pois toda ela tremia, mas não tinha importância. Não chegou a ter tempo para se recompor, a loura voltou a puxá-la para si e a beijá-la com tanta força que sentiu os dentes desta a ferirem-lhe os lábios. Instintivamente, cravou as unhas nos braços de Susana, sentindo-as quebrar a pele. Quanto mais a outra a beijava mais violentamente, mais esta lhe arrastava as unhas pelos braços, sentindo sangue.
Susana separou-as, puxando Daniela pelo cabelo. Olhou para esta e reparou que lhe tinha feito um pequeno corte no lábio. Apressou-se a dar-lhe um suave e carinhoso beijo, não a queria ter magoado àquele ponto. Por sua vez a rapariga revirou os olhos, não queria ternuras. Empurrou a outra para o sofá e voltou a montá-la. Esta pareceu perceber a ideia e arrancou o soutien da morena com um puxão, apertando-lhe o peito com força. Daniela voltou a beijá-la, puxando-lhe um pouco o lábio inferior, até que lho mordeu, sentindo o sabor a ferro tão característico do sangue.
A loura agarrou nas ancas da rapariga e puxou-a para si, com uma mão manteve-a bem firme no lugar, e com outra tirou-lhe o que restava da roupa interior. Daniela emitiu um ronronar impaciente e colocou as mãos nas costas de Susana, de modo a segurar-se. Quando sentiu dois dedos em si, sem aviso e com brutidão, inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos. Quando a dor escasseou, descobriu que sentia mais prazer assim do que de qualquer outra maneira. À medida que a sensação de prazer aumentava, mais deixava as unhas arrastarem-se, desta vez pelo peito da loura.
“Hm…Susana…”, sussurrou, mordendo o lábio já massacrado. A mão da outra que lhe segurava a anca cravava-lhe as unhas, sangrando um pouco. Não aguentou muito tempo, era demasiado. Deixou-se cair sobre o peito da outra, ainda a tentar recuperar o fôlego. Susana limitou-se a passar-lhe a mão nas costas, ela própria a olhar para o vazio com uma expressão de admiração, “Dani…”
Daniela ergueu-se, ainda atordoada. Sacudindo a cabeça, apressou-se a concentrar-se na tarefa em mãos. Era a vez da loura. Tirou-lhe as calças, tarefa que se revelou mais simples tendo em conta a indumentária típica da outra, fazendo o mesmo às cuecas. Numa versão mais experiente e aperfeiçoada, repetiu o que havia feito pela primeira vez no Algarve. Susana arqueou as costas, gemendo, de olhos fechados. Agarrou o cabelo da morena, mas desta vez não puxou, limitou-se a mantê-la no sítio. Durando menos do que o habitual, a loura deixou-se cair de costas, ofegante. Puxou Daniela para cima de si, colocando um braço em volta da cintura desta.
“Estás bem?”, perguntou Susana, ainda atordoada.
“Foi óptimo”, replicou Daniela, sorrindo como uma criança numa loja de doces, “Nem quero ver como é que tenho a cara…”
Foi interrompida pelo som da chave a ser introduzida no trinco da porta. A rapariga levantou-se de repente e começou a vestir as peças de roupa à pressa. A loura apenas lhe dizia, numa voz cansada para ter calma que não fazia mal. Já tinha as calças quase vestidas quando a cabeça da avó de Susana apareceu à entrada e lhe acenou com o top, “É disto que estás à procura?”
A morena foi tão apanhada de surpresa que deu um grito agudo, o que provocou o riso da parte de tanto da avó como da outra. A senhora, por entre risos, entregou o top à rapariga e foi embora. Daniela vestiu-se, enquanto Susana se deixou ficar deitada no sofá. Quando estava apresentável, a outra fez-lhe sinal para que se sentasse.
“Não estava mesmo em mim, desculpa”, disse, num tom de voz suplicante, “Espero não te ter magoado muito”
“Não fiques assim”, garantiu Daniela, afagando a face de Susana, “Adorei, apesar de mal me puder mexer”
“Nunca tinha feito assim com ninguém”, continuou a loura, enquanto se vestia, “Não sei como fui capaz de te tratar assim”
“Susana, se não tivesse gostado tinha dito”, consolou a rapariga, “Deixei que o fizesses porque sei que noutras condições nunca me levantarias a mão”
Mal concluiu a frase recordou-se do episódio do Sumol e a outra pareceu lembrar-se também, pois olhou para baixo corada. “Já passou”, sussurrou, encostando a cara da loura ao peito, enquanto lhe afagava o cabelo. Susana descontraiu um pouco, pedindo desculpa atabalhoadamente. Ficaram no sofá apenas a ver um filme, na companhia uma da outra. Daniela pensou para si que o televisor antiquíssimo com antena e imagem fraca eram um desconforto para a vista, portanto preferiu ficar apenas deitada sobre o peito da outra, que lhe ia roçando a mão nas costas.
A morena olhou para a janela, através do cortinado semi-desfeito e constatou que já era noite. Tinha combinado jantar em casa e não podia perder tempo. Com o peluche numa mão e a rosa na outra, a rapariga caminhou para o carro, acompanhada por Susana. Como era de noite e estava a cair imensa humidade, a morena estava a tremer um pouco, o que não passou despercebido à loura. Beijou rapidamente a namorada e foi num instante a casa, voltando com uma camisola com capuz preta.
“Podes levar”, disse, entregando à morena a peça de roupa, “Não quero que apanhes frio”
Daniela estava tão enregelada, apenas com o seu top vermelho que não pensou em recusar. Agradeceu e enfiou a camisola pela cabeça. Até não lhe ficava muito mal, só devia ser um ou dois tamanhos acima. E a melhor parte? A camisola cheirava a Susana. Despediu-se da loura com um beijo demorado e seguiu para casa.

Sem comentários:

Enviar um comentário