terça-feira, 19 de abril de 2011

Capítulo 19

Depois de terem estado no café decidiram ir à praia, tendo em conta que Susana já conseguia andar sem grandes problemas e que um dos seus maiores prazeres era ir à praia. Tinha sido uma tarde aprazível, tendo ambas acabado por ficar uma boa parte do tempo na toalha. Daniela trouxera máquina fotográfica e, como ainda não tinha fotos com a outra, aproveitou. Pessoalmente, a sua preferida desse dia era aquela em que a loura estava de barriga para cima a puxar a rapariga para cima de si e esta a beijá-la. Foi agradável terem podido estar juntas como um “casal convencional”, sobretudo depois da peripécia no café. Durante essa tarde Pedro não cessara de lhe mandar mensagens sempre com o mesmo discurso “despacha-te que temos que ter uma conversa séria”. Daniela já sabia sobre o que era e sinceramente não estava ansiosa por o ouvir maldizer Susana a torto e a direito, mas não tinha alternativa. Quando chegassem ao apartamento, a rapariga ligaria a Pedro, se iam te aquela conversa mais valia que ficasse despachada.
Pena que mal tivesse sentido a loura a colocar os braços em torno da sua cintura, se tivesse sentido tentada a acompanhá-la para o duche. Lá encontrou presença de espírito para se soltar e lhe explicar que tinha uma chamada para fazer. A outra ainda a tentou dissuadir com um beicinho mas sem sucesso, a morena limitou-se a dar-lhe um beijo rápido e a ir para o quarto. Sentou-se na borda da cama e ligou ao rapaz.
“Halloooo, como estás meu bebé?”, cumprimentou ele, eternamente feliz.
“Passemos já ao assunto vá”, interrompeu ela, quanto menos adiassem melhor. Era bom que a conversa tivesse lugar enquanto Susana estava no duche.
“Pronto está bem…”, disse o rapaz, contrafeito, “Bem, queres que comece pelos aspectos positivos ou negativos? Ah é melhor os positivos, que são poucos”
“Sim…diz lá”, murmurou a morena, mordendo o lábio inferior.
“Ora bem, é simpática e sabe lidar bem com provocações”, enumerou Pedro, como se estivesse a contar pelos dedos, “E é boa”
“É, não é?”, entusiasmou-se Daniela, “Ela é tão mas tão querida e carinhosa, ainda outro dia…”
“Ainda não acabei!”, interrompeu ele, num tom um tanto seco, “Mas fica-se por aí, por amor de Deus, ela parece ser completamente oca, estou certo? Sê lá sincera”
“Oh…bem, ela é perspicaz e ponderada, sim, é esperta…não a subestimes”, hesitou a rapariga, “Mas se estás a falar em inteligência, pode ser um tanto lenta às vezes…quanto a isso a Andreia era mais”
A partir deste momento, Daniela começou a chatear-se, tendo levantado a voz um pouco mais do que gostaria. Nem sequer reparou no facto de já não ouvir a água a correr na casa de banho ao lado.
“Ai a Andreia perfeita”, gozou Pedro, “Mas nem falemos nessa! Onde é que eu ia…ah sim, já viste bem como é que ela ganha a vida?”
“Sim já e até foi assim que a conheci”, disse ela, já massajando as têmporas para se manter calma, o que não estava a ser fácil, estava a ter uma tendência para elevar a voz, “Antes que digas o que quer que seja, ela não teve oportunidade de continuar depois do 12º, teve que trabalhar para se sustentar a ela e à avó, que estava e está doente”
“Oh por favor, há imensa gente que trabalha e estuda ao mesmo tempo”, insistiu ele, teimosamente, “Se a essa parasita lhe deu para a preguiça…”
“Oh essa é boa vinda da pessoa que menos fez a vida toda”, retaliou a morena. O que restava da sua calma, tinha-se dissipado, “Claro que eu preferia e muito que ela fosse ou médica ou uma merda qualquer, mas se não é, paciência”
“É assim, eu acho que se deve sempre tentar arranjar superior a nós, no mínimo, ao nosso nível…”, continuou Pedro, a tentar manter um discurso coerente, “Mas pior que essa só uma preta que lavasse escadas”
“Ela trata-me bem, é carinhosa, gosta de mim, é altruísta, dedicada…”, disse a rapariga, como se lhe faltasse o fôlego, “Porra, o Tomás e a Sofia juntos não fazem metade dela! Não importa se a achas uma imitação rasca da Andreia, para mim é perfeita”
“O Tomás é militar e a Sofia estuda medicina”, respondeu ele, “Tens que admitir que sempre preferiste alguém que te levasse a um restaurante cinco estrelas a alguém que te levasse a comer a roulottes”
 “Olha, dou-te razão aí, ela não tem nada para me oferecer”, concluiu a morena, enterrando a cara na mão livre, “Não tem onde cai morta, como tu dizes, e os outros dois eram melhor partido, mas agora estou feliz e é quanto me basta. Ficamos por aqui, adeus”
Desligou o aparelho e atirou com este para o canto oposto da sala, ouvindo-o fazer um barulho desagradável quando embateu no chão. Só então deixou que a testa repousasse sobre o polegar e o indicador, tentando acalmar. Sentiu o olhar de alguém fixo em si e, com um esgar angustiado viu que Susana estava encostada à parede a olhar para si, com uma expressão que não soube identificar. Mesmo o que lhe faltava…
“Suponho que ouviste”, suspirou Daniela, voltando a segurar a cabeça.
“Desculpa não ter respeitado a tua privacidade…”, disse Susana em voz baixa, com um sorriso leve, “Não sabes como fico feliz por saber que enfrentaste o teu melhor amigo por mim e que te faço feliz…”
A morena limitou-se a levantar o olhar e a sorrir para esta de forma cansada, a última coisa que desejava era discutir desta vez com a outra. Mas se esta ouvira realmente a conversa, então decerto que levara com uns quantos baldes de água gélida.
“Apesar de ser pobre e não ter onde cair morta…ou talvez de ser burra ou uma imitação rasca da Andreia”, continuou ela, agora num tom sombrio, “Ou por puderes arranjar melhor partido, tipo um militar ou uma médica, sim vocês falaram alto o suficiente para eu ouvir”
A rapariga não pôde fazer mais do que acenar negativamente com a cabeça, estava exausta. Não havia muito pior para si que discutir com Pedro, não conseguia arranjar estofo para outra discussão. Nem sentia que tivesse que dar justificações à loura, afinal ela não era bem o que idealizara mas ainda assim aceitava-a.
“Susana…agora não, por favor”, sussurrou Daniela, olhando Susana como se lhe implorasse para não gerar confusão. Vendo que esta não parecia estar a acalmar, considerou outra abordagem. Não lhe agradava naquelas condições, mas sabia que a loura dificilmente resistiria. Levantou-se da borda da cama e caminhou até Susana, que parecia baralhada.
“Dani…”, disse a outra, enquanto a rapariga encurtava a distância entre ambas e se inclinava para si, “Que estás a fazer?”
“És como és, aceito-te seja como for”, murmurou a morena ao ouvido da loura. Começou-lhe a mordiscar a parte de baixo da orelha, “Esquece o que ouviste, não me interessa o que ele acha”
Susana fechou os olhos e pareceu sucumbir um pouco, ainda assim conseguiu dizer, “Não é assim que me seduzes, Daniela Sousa”
“Não?”, perguntou Daniela, afastando-se para olhar a outra nos olhos e lhe sorrir um sorriso cúmplice, antes de lhe beijar o pescoço.
A loura já nem parecia estar a tentar retaliar, virou-as e empurrou a rapariga contra a parede, beijando-a, “Não resisto muito tempo”, disse, por entre beijos. A morena nada disse, limitando-se a corresponder aos beijos, colocando a mão no peito da outra, empurrando-a para a cama. Susana conhecia a situação demasiado bem para o seu gosto, mas preferiu sacudir os pensamentos incómodos, deixando-se levar.

3 comentários:

  1. Férias no Algarve, muito tempo passado juntas..é um bom teste à relação. Então havendo um melhor amigo que não aprova a outra pessoa...fica complicado.
    Tem a Daniela que ir ganhando confiança para assumir a sua relação, e a Susana que ultrapassar os fantasmas do passado.. Está interessante :)

    ps: a descrição do "borbulha" no capitulo anterior meteu mesmo nojo, muito bem xD

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  2. Finalmente vim ao teu blog para comentar a tua história. Tenho acompanhado o desenrolar da mesma, e vejo-a como se fosse um diário.

    Uma relação com percalços pelo meio. Um amigo que não ajuda. Ambas feridas com antigas relações. O esperar ser feliz na relação actual. Os caminhos fáceis e difíceis que se avizinham. O ser teimoso para seguir caminho.

    Esperemos pelos próximos capítulos. : ))

    Estou a gostar da história. Escreve e lê muito. Observa ao teu redor e vê o que os outros não vêem. Lê nas entrelinhas e imagina e sonha. Cria histórias, rabisca, enfim, deixa-te levar pela inspiração.

    Bjs!

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  3. É óptimo perceber que, finalmente a nossa história está a ser conhecida. E o melhor é que as pessoas estão a gostar.
    São horas, dias de trabalho e várias noites às claras que trazem todos estes episódios, são dias a ''discuti'' ideias e momentos de puro bloqueio em que tentamos de tudo, para sair algo. Para os leitores.
    Esta história tem que ser dada a conhecer, porque para além de estar bem conseguida, em termos de ideias, personagens e enredo em si, tem muito trabalho de pessoas dedicadas, que somos nós, :p
    Que é o nosso trabalho arduo comparado com o retorno de um simples comentário que nos diz tanto? Não custa nada, e preenche-nos um pouco mais para continuarmos o nosso trabalho.
    Senti-mos que ele é valorizado e, isso para nós é muito importante e gratificante.

    Obrigado a todos os que, mesmo por uma única vez, comentaram a nossa história.
    E espero, sinceramente, que continue a ter retorno positivo.

    pequenina nota para ti agora:
    sabes que às vezes não sou a melhor pessoa, mas todos nós temos os nossos defeitos e peço desculpa por isso. vamos ultrapassar tudo.
    tu sabes o quanto isto nos juntou, <3
    amo-te estúpida,
    o teu abutre, *.*

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