quinta-feira, 14 de abril de 2011

Capítulo 18

Daniela acordou, com os raios do sol a atravessarem os cortinados por uma pequena brecha. Ao seu lado estava Susana ainda adormecida, com a cara enterrada no seu pescoço e com um braço em torno da cintura da morena. Sinceramente estava a fazer-lhe imenso calor, tendo em conta a temperatura que se fazia sentir e o facto de a loura ser um forno em pessoa, mas não queria estragar o momento. Levou a mão ao telemóvel, tentando não acordar a outra para consultar as horas. Ao fazê-lo repara que tem uma mensagem de Pedro:
Oláaaaa amor! Então espero que tenhas dormido bem, é hoje que passo por aí e é bom que me apresentes essa pega! Olha, estou aí ao meio-dia e se te apanho ainda a dormir nem queiras saber o que te faço!
Sorriu e posicionou-se de modo a soltar o braço e puder responder, quando Susana acorda. Manteve o queixo no ombro da rapariga enquanto lhe espreitou a mensagem.
“Porque é que esse te pode chamar amor e eu não?”, perguntou ela, fazendo beicinho.
“Porque esse já o faz desde os meus oito anos”, respondeu Daniela, virando-se para beijar a outra, “Olha…ele vem cá hoje e gostava de te conhecer, o que achas?”
Susana sorriu de orelha a orelha feliz por a namorada parecer estar a levar a relação a sério ao ponto de a apresentar ao melhor amigo e beijou a rapariga, “Parece-me muito bem”
Ficaram na cama ainda mais um pouco, trocando mimos. A morena pensou que aquilo era algo a que se podia habituar, não se importava nada de acordar assim mais vezes. O que a frustrava era saber que esse sonho estava ao seu alcance, mas para tal teria que assumir a relação aos pais. Era preferível que soubessem por ela do que por terceiros e para tal teria que lhes contar depressa, já que se aquilo se espalhasse, seria como fogo numa floresta e chegar-lhes-ia aos ouvidos em menos de nada. Talvez no dia dos seus anos fosse uma boa ocasião.
Já não tinham muito tempo, resolveram levantar-se e ir tomar o pequeno-almoço rapidamente. Daniela preparou-lhes o pequeno-almoço enquanto Susana foi fumar um cigarro (“Não te faço companhia porque se o Pedro sabe dá-me um tiro”). Precisamente quando ambas acabaram e estavam despachadas, a campainha tocou. A morena engole a ansiedade e apressa-se a receber Pedro, que entra no apartamento com os seus característicos modos espalhafatosos.
“Oláaaaa meu bebé! Então como estás?”, cumprimentou-a ele, esborrachando-a com um abraço. Nem esperou pela resposta ao ter avistado a loura, que se mantivera encostada à parede. Largou a rapariga e dirigiu-se à outra, muito sério.
“Pedro Henriques, melhor amigo. Muito prazer”, apresentou-se o rapaz, estendendo a mão para a cumprimentar, “Tu deves ser a cabra que anda a comer a minha menina”
“Susana Marques, namorada. Muito prazer”, respondeu-lhe ela, apertando-lhe a mão, nunca deixando de sorrir, “Parece que sim”
Daniela ficou a ver a cena desenrolar-se diante de si com uma expressão de embaraço. Tão típico de ambos…Encaminharam-se todos para a sala, que era o único sitio fresco da casa. Pedro pegou na mão da rapariga e, raptando-a da loura, sentou-se no sofá, com a morena no colo.
“ Oh tu, larga a minha miúda!”, brincou Susana.
“Tua miúda?”, gozou Pedro, com uma careta, “Ainda tu andavas de fraldas e ela já era minha”
A morena deu um puxão ao de leve no piercing do nariz do rapaz, vendo-o gritar exageradamente. A outra sentou-se também no sofá junto aos dois e esperou que o interrogatório começasse, tal como a rapariga a tinha prevenido. Apesar de ter estado nervosa e cheia de vontade de causar boa impressão, não cabia em si de contente por a namorada estar finalmente a assumir a relação. Gostava de se sentir parte da vida de Daniela, algo que nunca pudera fazer quando estivera com Mónica.
Pedro, antes de se dirigir à loura, sussurrou ao ouvido de Daniela que ela era mesmo a cara chapada de Andreia. A rapariga concordou e deixou-o começar a falar.
“Então diz-me, estudas onde?”, começou Pedro, como se a estivesse a entrevistar para um emprego.
“Hm, não estudo…”, admitiu Susana subitamente menos à vontade, “Já trabalho”
O rapaz fez uma cara de desagrado, esconder emoções nunca tinha sido o seu forte, mas não queria fazer com que a outra se sentisse mal, por isso sorriu-lhe, “Fazes o quê?”
“Sou DJ”, disse ela, podia não ter começado da melhor maneira, mas ainda ia a tempo de resolver isso, “Até não ganho tão pouco assim, tendo em conta que não faço muito”
“Isso é temporário ou tencionas fazer disso a tua vida?”, perguntou ele, com o sobrolho franzido.
“Não sei, mas por enquanto é o que me paga as contas”, sorriu Susana, tentando manter-se paciente.
Daniela olhou para Pedro e foi quanto bastou para lhe perceber tudo o que ia na cabeça, “parasita, pobre, provavelmente passa os dias a fumar droga e as noites a comer gajas, por favor corre para o Tomás enquanto é tempo”. Revirou os olhos e decidiu poupar Susana ao interrogatório, afinal não era nada que ele não soubesse, a morena já lhe tinha falado imenso da outra. Soltou-se do abraço dele e puxou a loura pela camisola para cima de si, beijando-a.
“Hey! Não quero essas figuras nem à minha frente, quanto mais em cima de mim!”, resmungou Pedro, empurrando a rapariga de cima de si.
“Desculpa maninho, quando se tem uma namorada tão linda como a minha é difícil largá-la por um bocadinho que seja”, gozou Daniela, deitando-lhe a língua de fora.
“Não me mostres essa língua!”, horrorizou-se ele, “Sei lá por onde isso andou”
Ambas se riram, considerando os acontecimentos da noite anterior. Até que Susana voltou a beijar Daniela, pondo nesse beijo todo o sentimento que nutria pela rapariga. Pedro, que tinha onde estar dali a pouco tempo, despediu-se:
“Bem, estou aqui a mais”, replicou, fingindo indignação, “Tenho que ir mas Dani, mais tarde ligo-te”
“Até já lindo”, disse a morena, soltando-se da outra para se ir despedir do rapaz com um abraço. Por sua vez o rapaz, depois de abraçar a amiga, disse adeus à loura com um aperto de mão.
Assim que Pedro foi embora, Daniela foi preparar o almoço. Depois de cozinhado colocou-o na mesa e chamou Susana, que tinha ficado no sofá a ver uma coisa na televisão que lhe interessava. Esta não demorou a ir para a mesa, sentando-se em frente da rapariga. Enquanto esperava que o prato arrefecesse, apertou a mão da morena e agradeceu-lhe, tanto por ter cozinhado, como por a ter apresentado ao melhor amigo.
“Oh ele não parava de me chagar para te conhecer”, disse Daniela, “Sabes como é, é natural que ele quisesse conhecer a pessoa de quem eu tanto falava”
“Deu-me esperança que finalmente pudesse ter uma relação estável e duradoura”, confessou a outra, “Que não me viesses a fazer o que a Mónica me fez”
A rapariga abanou a cabeça e assegurou à loura que não lhe faria aquilo. Dito isto, começaram a almoçar, mantendo um diálogo simples e casual. Quando acabaram Daniela propôs que fossem a um café próximo, porque precisava de tomar um café decente. Esta foi a desculpa que deu à namorada, mas no fundo queria provar a si própria que conseguia estar com Susana em público tal como estaria com um rapaz.
Ao saírem de casa, Daniela tomou a iniciativa de dar a mão a Susana. Deu um discurso moralizante a si própria e foi repetindo “Faz isto por ela, se conseguiste com a Sofia consegues com a Suse” o caminho todo. Era mais fácil se se abstraísse da multidão, apesar de ser difícil ignorar um grupo de raparigas que não se coibiu de cochichar entre si. A loura não parecia minimamente incomodada, nem aparentava reparar. Por fim chegaram ao café, que estava mais cheio do que a rapariga pensou que estaria. “Oh que merda…”, pensou, enquanto procuravam uma mesa vazio. Encontraram uma que não estava num local propriamente discreto, mas era a única, por isso aproveitaram e sentaram-se.
Daniela colocou a mala numa mesa vazia e perguntou à outra se queria que lhe trouxesse alguma coisa.
“Pode ser um pastel de nata”, respondeu Susana. À experiencia puxou a rapariga para si e beijou-a, antes que esta se levantasse. A morena parecia apenas um pouco surpreendida mas não disse nem fez nada para impedir a outra. Correspondeu e piscou o olho à loura antes de se dirigir ao balcão.
Até chegar ao balcão teve que passar por diversas mesas e já não estava determinada em ignorar quem as tinha visto. Assim sendo, foi apanhada de surpresa ao ver tanto gente a olhar de lado como grupos a comentarem. Respirou fundo e fez o seu pedido no balcão, afinal não era que conhecesse aquela gente. De repente sentiu alguém afagar-lhe o braço. Pensou que fosse a outra, por isso virou-se com um sorriso. Sorriso esse que diminuiu até se transformar numa expressão de horror ao ver a criatura que se encontrava diante de si. O ser devia ter mais ou menos a sua altura e pesar o mesmo, com o cabelo oleoso e a cara rivalizava com os terrenos bombardeados do Iraque. A indumentária não o favorecia, com óculos à Harry Potter e calças puxadas até ao umbigo, deixando mostrar as canelas minúsculas peludas. Ao sorrir exibia os seus dentes amarelos de castor em toda a sua glória.
“Olá querida”, disse ele em voz alta de sopinha de massa, “Que dizes a largar a outra fufa e a juntares-te a mim hoje à noite?”
“Desculpa?”, escandalizou-se Daniela, que se apressou a pegar no café e no pastel de nata e a virar-lhe as costas.
“Oh não vás embora bebé”, continuou ele, seguindo a rapariga, até que lhe apalpou o rabo.
A morena vira-se nesse preciso momento, mesmo a tempo de o ver afagar o seu próprio “pacote” ao mesmo tempo que dizia, “Este brinquedo aqui vai converter-te”
Ao ouvir isto, Daniela limita-se a revirar os olhos e a afastar-se, tentando manter o almoço no estômago. Pousa as coisas e senta-se na mesa, perante o olhar irritado da outra. O rapaz dirigiu-se a elas e disse, “Oh fofinha, vais ver que sou melhor que essa, mas ela também se pode juntar a nós”. Ao ouvir isto Susana sussurra ao ouvido, “Eu resolvo”. Levantou-se da cadeira coma expressão mais sedutora que Daniela alguma vez vira. A rapariga pensou que, se ela própria já estava com os calores, nem queria imaginar o outro. Quando olhou para este ficou dividida entre partir-se a rir ou enojar-se.
O borbulhento já tinha saliva a escorrer pelo queixo e a expressão mais pervertida de sempre. Mas o que chamou mesmo à atenção da morena foi o “chumaço” que este tinha nas calças, enquanto a loura ia na sua direcção. Susana manteve sempre a mesma expressão até chegar ao pé dele, que começou a caminhar para trás indo ficar encostado a uma parede. Quando o alcançou, próxima o suficiente para quase o comprimir entre ela e a parede, deu-lhe uma joelhada. Os olhos do rapaz pareciam que lhe iam saltar das orbitas e ficou a morder o lábio de dor. Então a loura afastou-se, dizendo apenas “Para a próxima cuidado com os comentários, bebé”. Aí o borbulha caiu no chão, enrolado.
“Já está, amor”, disse Susana, voltando ao seu eu habitual, sorridente.
“Vais fazer aquele olhar só para mim”, disse Daniela, afagando o cabelo da outra.

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