sábado, 8 de janeiro de 2011

Capítulo 2


Daniela parou de correr apenas quando ficou sem fôlego e sentiu as pernas a fraquejar. Olhou à sua volta e reparou que já se encontrava razoavelmente longe do bar e perto de um parque. Precisava mesmo de se sentar e recuperar a compostura, bem como a dignidade, aqueles bancos de madeira vieram mesmo em bom momento. Começou, antes de mais, por disfarçar os vestígios do que quase fez, compôs a roupa e alisou os cabelos. A rapariga sentou-se com a cabeça apoiada nas mãos, o desenrolar dos acontecimentos não eram de todo o que tinha previsto inicialmente…
De repente lembrou-se, o seu melhor amigo tinha ficado lá, com certeza que a esta hora estaria preocupado! O seu primeiro impulso foi ligar-lhe mas, para sua frustração, apercebeu-se que se esqueceu da mala com os seus pertences. Respirou fundo e tentou controlar-se…ponderou as opções: podia voltar ao bar e, quase de certeza, dar de caras com a Susana, ou podia ficar sozinha e vulnerável longe de casa. Apesar de tudo, a primeira hipótese era mais agradável do que ser assaltada ou raptada.
Demorou uns instantes a recompor-se. Partilhar “momentos de intimidade” com alguém que tinha apenas conhecido há minutos, não era de todo seu hábito, muito menos imaginar outra pessoa durante o dito acto…quer dizer, já tinha imaginado aquela mesma pessoa noutra ocasião, embora não tão “extrema”mas isso fora há anos atrás, quando ainda a rejeição era fresca. Tinha coisas para fazer e não podia demorar mais, levantou-se do banco. Mesmo sentindo a cabeça pesada, caminhou a passo rápido para lá, enquanto pedia por tudo que não se fosse dar de caras com a loura. Ao chegar ao bar avançou aos encontrões por entre a multidão até que, muitos “Desculpe” depois, pareceu avistar o seu amigo. “Que sorte!”, pensou já mais tranquila. Subitamente sentiu alguém a apertar-lhe a cintura e, virou-se para trás enquanto implorava que não fosse quem ela tão desesperadamente queria evitar…
“Não te esqueceste de nada?”, perguntou precisamente a pessoa cuja presença não era bem-vinda naquelas circunstancias, com um sorriso brincalhão. Fez agitar no seu braço a mala de Daniela de forma provocadora.
“Foda-se caralho, que puta de sorte”, pensou a morena, embora as palavras que lhe tivessem saído dos lábios fossem, “Sim, obrigada. Dá cá, se faz favor”. E com isto esticou o braço, sentindo a face ruborizar com embaraço.
“Ai tão querida que ela é”, a loura riu-se da rapariga e afastou a mala do braço dela, “Não te preocupes, não roubei nada e sim, tenciono dar-te a mala, em troca de uma coisa, claro”
“Por favor, Susana, deixa-me em paz”, implorou a morena já exasperada, só queria estar longe da presença da outra e rápido. Deitou um olhar por cima do ombro em direcção ao amigo, que se encontrava com a atenção fixada noutra coisa, não lhe podendo servir de auxílio.
A loura revirou os olhos e disse desdenhosamente, à medida que se irritava cada vez mais, perante o ar de arrependimento e receio da rapariga, “Tu gostaste que eu vi…para que é que agora estás assim?”
“Dá-me só o que é meu e vou-me embora”, limitou-se a dizer a rapariga, já bastava estar envergonhada, não tinha que ouvir aquilo, “Vamos esquecer que aquilo aconteceu”
Ao ouvir estas palavras, Susana soltou um suspiro de derrota e devolveu a mala a Daniela, dizendo apenas “Não te incomodo mais, adeus”. E com isto virou as costas. A morena podia jurar que lhe viu uma expressão magoada no rosto perfeito. A rapariga sentiu-se culpada por um momento e pergunta-se se terá feito bem, ao vê-la desaparecer no meio da multidão. Suspira e dirige-se ao amigo, que decerto lhe vai pedir inúmeras justificações…pelo menos vai puder descansar depois de uma noite daquelas.
O seu último pensamento coerente naquela noite foi o facto de não se sentir em paz depois do que se passou e desejar puder refazer determinadas partes daquela saída. E com isto adormeceu.

Sem comentários:

Enviar um comentário