Depois de ver as
suas expectativas que, se haviam vindo a inflacionar, frustradas, Afonso teve
que se mentalizar que a realidade acabara por ser bem diferente, por muito que
isso lhe custasse. Ainda não se encontrava completamente convencido com a
justificação de Leonor, nem sabia ao certo porquê, mas tinha a sensação de que
ela não lhe contara toda a verdade. Podia dar-se o caso de ter sido uma
desculpa para lhe dizer que o sentimento não era recíproco sem o magoar muito,
como, também, podia ser a pura verdade, isso ele não sabia nem tinha como saber
sem que ela lhe dissesse. O que sabia era que a rapariga não queria nada com
ele que não fosse amizade e, portanto, orbitar em torno dela apenas o faria
parecer chato, além de que poderia fazer com que, possivelmente, estragasse o
que tinham e isso ele não desejava.
Desde aquele
episódio que havia decorrido algumas semanas, semanas essas em que Afonso
deixara de a convidar fosse para o que fosse, mantendo a interacção entre ambos
tão ligeira quanto conseguira. Em bom rigor, nada fizera para que a situação
fosse assim, e tal vez fora esse o problema, a sua inércia, bem como a de
Leonor, que causara que se fossem afastando um pouco. No entanto, admitia que
os momentos em que, por acaso, a via, o faziam feliz. Por vezes encontrava-a
quando ia ao ginásio, ou quando ia passear Mocas, além de uns vislumbres
rápidos pelos corredores da escola, mas a interacção entre ambos ficava-se por
uma conversa fugaz, um tanto toldada pelo constrangimento de ambas as partes, o
que custava profundamente ao rapaz.
Rúben, de vez em
quando, propunha apresentar-lhe uma rapariga nova, como se assim Afonso fosse
pôr o sucedido por de trás das costas e, embora este agradecesse os esforços do
amigo, não queria, pelo menos tão cedo, desistir. Conseguira aproximar-se de
Leonor, gostava genuinamente da companhia dela e achava que, se não conseguisse
vir a ter algo mais com ela, a sua amizade bastar-lhe-ia, com algum custo, mas
já se daria por muito grato. Assim, a última coisa que queria, era que se
afastassem, mas receava insistir, não fosse retraí-la. Havia tanta coisa que
gostava de lhe poder perguntar, como ia a vida desde a última vez que puderam
falar a sério, se já se habituara mais à nova rotina…no fundo, adoraria poder
passar algum tempo com ela, contudo, tinha medo de ouvir um grande e
incontornável não, por isso resignara-se a estar à mercê da sorte.
Claro que o
velho dito popular “Quem espera sempre alcança” mostrou-se verdadeiro e, numa
tarde fria de Outono que dava indícios de estar prestes a ser sucedida pelo
Inverno, quando levava Mocas a dar o seu passeio, viu o seu desejo concedido.
Visto estar desagradável longe do aconchego da sua casa, Afonso achou por bem
levar o cão a passear pela floresta, onde as árvores sempre serviriam de
resguardo às rajadas de vento frio. Verdadeiramente falando, nem o levaria a
passear se não sentisse que o seu animal de estimação, companheiro desde havia
bastante tempo, já idoso, não estaria por ali muito tempo e, assim, todo o
tempo que conseguisse passar com ele era precioso.
Trilhando os
altos e baixos do caminho por entre as árvores, ligou o piloto automático,
enquanto matutava sobre o que ainda tinha para fazer nos tempos mais próximos.
A temporada de rugby ia bem, decididamente melhor do que a do ano passado em
que sofreram muitas baixas por parte de vários colegas da equipa, e ele
encontrava-se na sua melhor forma, ao menos quanto a isso podia estar
descansado. Se a sorte estivesse do seu lado podia ser que para o ano o
convocassem para a selecção nacional, ainda que não se tivesse na conta de
assim tão bom, mas podia sonhar. Fora isso, as aulas corriam-lhe igualmente,
embora a Dona Adelaide lhe fosse, como à semelhança dos outros anos, estragar a
média, mas preferia manter o optimismo.
Tão distraído
estava, que não notou por onde ia, até que o relinchar de um cavalo o fez
acordar do seu torpor. Assustado com o cavalo, Mocas, no derradeiro esforço
para um animal cujos tempos de glória haviam sido há alguns anos, desatou a
ladrar, irado. Os latidos do cão acabaram a provocar o cavalo, que,
descontrolado, relinchava, apoiando-se nas patas traseiras. Afonso, temendo o
pior, puxou Mocas para trás, segurando-o pela coleira, de modo a impedir que
ele se aproximasse. Por sua vez, a pessoa que montava o cavalo conseguiu,
depois do que lhe pareceram horas a segurar-se para não cair do dorso do animal
espavorido, acalmá-lo, até que pudesse desmontar em segurança. Segurando o
cavalo pelas rédeas, Leonor, visivelmente agitada, disse, “Para a próxima
mantém o cão longe daqui, por pouco não caí”
A última vez que
vira a rapariga tinha sido havia algum tempo e, agora que, por fim, a via, era
numa situação que tivera tudo para correr mal e só não correra fosse-se lá
saber como. Afonso, se pudesse, cavaria um buraco para se enfiar e não mais
voltar. Tornando-se vermelho como um semáforo, ao ponto de sentir que poderia
entrar em combustão espontânea, balbuciou, embaraçado, qualquer coisa
imperceptível que, com alguma criatividade, Leonor poderia ter interpretado
como “desculpa não volta a acontecer, por favor não me crucifiques”. O que o
salvou foi o facto de a rapariga não conseguir ficar indiferente ao seu ar de
cachorrinho abandonado, tanto que, depois de atar as rédeas do cavalo a um
poste, foi ter com ele, “Desculpas aceites, não se fala mais nisso”
“Ele costuma
portar-se bem, mas deu-lhe para isto”, justificou o rapaz. Era o seu animal de
estimação e já estava habituado a que pensassem que fosse problemático por
causa da raça, mas escolhera uma péssima oportunidade para arranjar problemas.
Mas tinha que dar o desconto, já não ia para novo. Era melhor ir embora não
fosse enterrar-se ainda mais. Assim, decidiu-se a, tendo em conta que a
conversa não estava a ser, de todo, aprazível, bater em retirada enquanto podia.
Não deixando que o rubor, que havia vido para ficar, lhe dificultasse a vida,
continuou, “Acho que vou andando, desculpa mais uma vez e ver-te foi, ahm, bom”
Não via Afonso
havia algum tempo, não sabia como, mas ele arranjara maneira de desaparecer do
seu circuito, fora a ocasião esporádica em que se cruzavam no ginásio ou no
parque. Por um lado, ainda bem que a convivência entre ambos diminuíra e muito,
sempre a poupava a constrangimentos e, acima de tudo, invalidava a hipótese de
ele tentar insistir. Por outro, tinha, genuinamente, saudades dele, de quando
iam almoçar em dias de aulas, ou quando iam buscar os irmãos. Era uma companhia
de que gostava bastante, mas estava consciente que era melhor afastarem-se um
pouco, a bem de ambos. Ainda assim, quando o viu afastar-se, foi assomada por
uma sensação de saudade, tão forte que não se conteve, “Espera…”
Apanhado de
surpresa, Afonso fitou, ora Leonor, ora a mão desta no seu braço. Não era
preferível ele sair dali e deixá-la continuar o seu passeio a cavalo, do que
continuar a ocupar o tempo dela? Se dependesse de si, estariam a pôr a conversa
em dia e, de preferência a retomar onde ficaram naquela noite, mas sabia que
tal coisa não aconteceria de forma alguma. Não sabendo mesmo o que pensar,
esperou que ela dissesse ao certo o que se passava, mas, para grande frustração
sua, a rapariga limitou-se a largá-lo, “Nada…não é nada”
O rapaz não
ficou convencido. Se não fosse, de facto, nada, não o teria feito, a não ser
que estivesse a enxotar um insecto do braço dele, o que, dado o medo de Leonor
de tudo o que fosse rastejante e peludo, era improvável. Deixando o receio
assumir a posição passiva, algo que, ao contrário do que é habitual nele, tem
vindo a acontecer uma e outra vez sempre que se trata da rapariga, insistiu,
“De certeza que não é nada?”
“Desculpa, não é
mesmo nada”, disse Leonor, embora fosse aparente na sua voz um laivo de
hesitação. A situação conseguira deixá-la mais do que abalada, mas sabia que
era o melhor e, portanto, teria que aguentar, por muito que não lhe agradasse.
Ainda ponderou falar simplesmente com Afonso, como dois amigos, mas temia que
uma reaproximação fosse complicar o que era, afinal, uma situação mais
tranquila.
“Está bem
então…”, murmurou o rapaz, não só desencorajado, como abatido. Por muito que
gostasse de desenvolver a conversa, nada podia fazer de a rapariga não queria
falar, só lhe restava resignar-se. Estava prestes a despedir-se quando Mocas,
fosse-se lá saber porquê, aproximou-se de Leonor, afável, esquecido da sua
exaltação de havia uns minutos para lá. Sucumbido aos pedidos de festinhas de
Mocas, que se fizeram saber sob a forma de marradinhas na sua mão, a rapariga
afagou a cabeça possante do animal, deliciado. Gostava de animais, ou não
praticasse ela equitação de vez em quando. No que dizia respeito a animais de
estimação, tinha Rosa, a cadela Bulldog mais atarracada de todos os tempos.
Podia não causar guinchinhos derretidos por parte de quem a visse, mas era a
menina de Leonor.
Vendo o cão
deitar-se, para que Leonor lhe fizesse festinhas na barriga, Afonso, aliviado
por Mocas não ter, ao invés, decidido fazer algo embaraçoso como agarrar-se à
perna da rapariga, brincou, “Vês, ele está arrependido por ter ladrado!”
“ Ele é tão
fofo”, disse Leonor, sem nunca deixar de dar atenção ao cão insaciável. Não se
teria importado de dar o mesmo tratamento ao dono, não senhora. Abanando a
cabeça, afastou o pensamento estúpido, voltando a concentrar-se em Mocas que,
ao sentir que ela o ignorara, começou a agitar as patas no ar, em sinal de
protesto. Fazendo a vontade ao animal, comentou, “Que coisa mais adorável”
“Olha como é que
ele era”, respondeu o rapaz, que não pedia uma oportunidade para exibir Mocas,
o rottweiller, passando à rapariga o seu telemóvel. O seu cão era manso que nem
um cordeiro e tão medroso que se escondia atrás dos sofás quando ouvia um avião
passar, mas Afonso tinha uma certa satisfação em ter um cão de uma raça
conhecida por ser feroz, com a particularidade de ser manso.
Pegando no
aparelho, Leonor viu uma fotografia, como papel de parede, onde figurava
Afonso, quando tinha cerca de seis anos, a dar um abraço a Mocas. A imagem do
rapaz, quando ainda tinha o ar mais angelical imaginável, tão enternecedor que
parecia inacreditável, com o cão, consideravelmente maior que ele, quando ainda
tinha o pelo brilhante e era imponente, deu-lhe a conhecer um novo significado
de adorável.
A fotografia
trouxe-lhe à memória uma que tinha em que estava com o rapaz, ainda Tomás e
Sara não eram nascidos, tirada num parque, onde costumavam brincar. Uma
recordação que conservara desde então era aquela vez em que trepara a uma
árvore e, depois de se sentir muito realizada com o seu feito, quando viu a
altura a que estava, teve medo de descer. O rapaz, já na altura, muito
paciente, conseguiu sossegá-la ao ponto de ela arriscar descer. Claro que acabou
por escorregar e cair em cima dele, ficando Afonso com o braço esfolado e ela
sem mais do que um susto, mas ficou, desde então, tocada pelo gesto. Só não o
iria lembrar disso. Não se contendo, brincou, “Parecias um daqueles anjinhos
das fontes, aqueles que fazem xixi”
“Não parecia
nada!”, replicou o rapaz, corando até à raiz dos cabelos, indignado. Já lhe
haviam dito muita coisa, tendo tido a alcunha de “ovelha” no jardim de infância
devido aos caracóis, mas aquilo nunca. Entretanto, com o passar dos anos e a
sua inabilidade com membros do sexo oposto, evoluíra para, por cortesia de
Rúben e do resto da equipa, “ovelha negra”. Querendo retaliar, desafiou, “Então
mostra lá tu uma foto de como eras!”
“Pronto, está
bem”, cedeu Leonor, ainda a rir-se. Ao sentir o vento frio acrescentou, “Mas lá
dentro está mais agradável”
Não
necessitando de ouvir o convite de novo, Afonso seguiu-a até ao estábulo,
ansioso por prolongar a conversa, porém não pôde entrar porque ainda tinha
Mocas consigo, mas não se conteve de observar de longe todos e quaisquer gestos
que ela fazia, por mais pequenos que fossem. Sentindo um nó na garganta, tão
forte que era quase doloroso, perguntou-se como é que alguém podia ser tão
perfeito. Era mesmo algo de maravilhoso, na sua opinião muito pouco imparcial.
De tão distraído que ficou a contempla-la, só acordou quando ela, confusa, o
chamou. Atando Mocas à porta do café que ficava ao lado do centro hípico,
murmurou para o cão, certo de que ele o compreenderia, “Vá Mocas, vou tentar
não demorar muito, está bem?”
Mocas
lambeu-lhe a mão, como se pretendesse dar-lhe a sua aprovação. Aninhando-se num
canto mais resguardado do vento, o cão, sempre prazenteiro, deitou-se, o que
acalmou a culpa do rapaz por o deixar à sua espera. Voltando para dentro, encontrou
Leonor já sentada, aguardando por ele. Para seu alívio, a interacção entre
ambos não estava a ser constrangedora nem desconfortável, quem os visse de fora
diria que nunca havia acontecido nada. Reconfortado, puxou uma cadeira e
sentou-se, tentando não olhar demasiado para a rapariga, por muito que
adorasse.
Leonor,
se a início sentira um certo desconforto por se ver numa situação em que não
conseguira fugir a ter que dar conversa a Afonso, passara pela fase das
saudades e da nostalgia, agora, vendo-o tão feliz por ter alguma da sua
atenção, começava a sentir a culpa a tornar-se cada vez mais difícil de
ignorar. Quando tomou conscientemente a decisão de criar distância entre ambos,
pensou que ele fosse ficar magoado por uns tempos mas que depois fosse
esquecer. Certo que, de vez em quando, deparara-se com um par de olhos
tristonhos a fitarem-na, mas não assumiu que fosse nada por aí além. Agora
via-o tão contente que a fazia sentir uma onda de ternura para com ele, tanto
que se chegou mesmo a perguntar como é que fora capaz de se afastar.
Coibindo-se
de conter qualquer demonstração de afecto que traduzisse o carinho que sentiu
naquele momento, o que coincidiu com a ocasião em que Afonso parara de falar,
afagou-lhe a mão. O rapaz, por sua vez, conseguiu conter a sua primeira reacção
que seria saltar até a cabeça tocar no tecto em prol de não fazer com que a
rapariga se retraísse e tirasse a mão. O que escapou ao seu controlo foi a
tonalidade com que as suas bochechas ficaram, mas aparentemente isso conseguira
um sorriso por parte de Leonor. Se, por acaso, se tratasse de outra pessoa, ele
teria retirado a mão, afinal ela afastara-se porque quisera e ele respeitava
isso, mas a rapariga impossibilitava qualquer pensamento coerente.
Apesar
de tudo, o gesto não levou a embaraços por parte de nenhum deles. Se a
rapariga, por um lado, pôde demonstrar como se sentia naquele momento, o rapaz,
teve direito a uma das raras expressões de carinho por parte dela, o que para
ele significava imenso, por muito pequeno que esse gesto pudesse parecer.
Afonso, chamando a si uma dose de sangue frio, conseguiu, não só retribuir,
como acabar por lhe dar a mão. Nem o facto de não terem sido trocadas palavras
durante todo aquele momento o contaminou com desconfortos, era como se
estivesse tudo dito e não fosse necessário acrescentar fosse o que fosse.
Para
constrangimento de ambos, o empregado, uma figura afável e conversadora,
interrompeu-os, primeiro para lhes perguntar o que queriam tomar, depois para
os servir e meter conversa. Por muito simpático que Chico fosse e por muito que
gostasse da companhia dele em dias em que ele tinha pouco que fazer e se podia
dar ao luxo de dar dois dedos de conversa, Leonor achava que ele não podia ter
pior sentido de oportunidade. Afonso, porém, parecia estar a fazer um esforço
herculeano para lhe sorrir. Quando, por fim, os deixou entregues aos seus
cafés, já eles tinham quebrado o contacto havia algum tempo. Receando que se
seguisse um silêncio desconcertante, o rapaz disse, rindo-se, “E a tal
fotografia que me ias mostrar?”
Leonor não
estava nada à espera daquela tirada, tanto que começou a rir. Assim que se
recompôs, lá tirou o telemóvel e, depois de um minuto à procura, a sua busca
deu resultado e mostrou a Afonso uma fotografia sua, não devia ter mais de seis
anos na altura. O rapaz, enternecido com as bochechas de criança que Leonor
tinha então, mas que entretanto perdera, constatou que afinal, quem estava no
colo dela, era, nada mais, nada menos, do que Tomás, sem o ar assustador que
tinha actualmente. Azedo, pensou “também está com um cão ao colo”, mas o que acabou
por dizer foi, em tom de brincadeira, “Que querida, o que é que aconteceu?”
Fingindo
uma indignação exacerbada, a rapariga deu-lhe um estalo no braço. Afonso
retaliou num tom de voz agudo, mostrando-se, também, ultrajado pelo estalo ao
de leve que Leonor lhe dera, juntando uns quantos gestos de mão. Pelo menos
conseguiram colmatar os estragos que Chico causara quando os interrompera com
os cafés e com a história daquela vez em que um pastel de nata encravara atrás
do micro-ondas.
Mais
tarde, o telemóvel de Leonor tocou. Já começava a escurecer e Guida não ficava
descansada enquanto ela não estivesse em casa. Foi com grande pena sua que,
assim que voltou a colocar o aparelho no bolso, disse, “Era a minha mãe, já se
faz tarde e eu devia ir andando para casa”
“Sim…eu também
devia ir”, tartamudeou Afonso, sem conseguir esconder a sua decepção, afinal a
tarde estava a ser, na sua opinião, reconfortante, tanto que colocar-lhe um
ponto final lhe parecia quase fisicamente doloroso. Não querendo nada mais do
que continuar, convidou, certo, pela primeira vez, de que não ouviria um não, “E
se eu te acompanhasse? É que é de noite, estás sozinha…”
Aceitando
sem grande sacrifício, Leonor colocou as moedas de ambos em cima do balcão e,
nesse instante, ainda que por pouco tempo, o rapaz podia jurar que a viu
fulminar Chico com o olhar, o que lhe deu um certo contentamento. Lembrando-se
de que Mocas ficara aquele tempo todo à sua espera, Afonso correu para junto do
cão, pedindo-lhe mil desculpas. Mocas, a algum custo, levantou-se, mas ficou,
decididamente, mais consolado quando a rapariga o mimou. O caminho até casa
foi, sob pretexto de não cansar muito o cão, feito em passo lento, mas, ainda
assim, quando já se avistava a casa de Leonor, ambos esmoreceram um pouco.
À porta
de casa, a rapariga, encarando o rapaz, confessou, “Gostei mesmo muito desta
tarde…desculpa por ter sido tão parva ultimamente”
“Podemos
repetir quando quiseres”, respondeu Afonso, sorrindo. Quando Leonor lhe beijou
a face, quase sentiu os joelhos cederem.
Nesse
momento, Tomás abriu a porta, surpreendendo-os. O rapaz, se estava para receber
a irmã com um sorriso afável, ao ver Afonso revirou os olhos. Não via mesmo
como é que Leonor engraçara com aquele banana mas enfim, raparigas era algo de
muito abstracto. Estava já para ter uma saída pouco simpática quando Mocas,
indo em socorro de Afonso, decidiu que as partes de Tomás eram interessantes,
tanto que não fez cerimónia em colocar o focinho entre as pernas dele, dando à
cauda. Tomás, incomodado com o facto de ter um cão enorme a cheirar-lhe as
zonas baixas, recuou, mas não sem enviar a Afonso uma mensagem telepática
manifestando o seu desagrado para com quaisquer pretendentes da irmã.
Afonso,
bem como Leonor, desmancharam-se a rir, só parando quando sentiram dores de
barrigas. Mais calmos, não tiveram mais desculpas para esticarem o tempo que
passavam na companhia um do outro, acabando por se despedirem, ambos com aquele
sorriso.
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