quarta-feira, 18 de julho de 2012

Capítulo 98


 Finalmente :D

Já que Guida criara, sem sequer se esforçar demasiado, tal como acontecia com qualquer coisa a que se dedicava, a reputação de organizar festas objectivamente de arromba, embora de moral duvidosa, iria fazer jus a essa mesma reputação. Strippers e álcool, por muito apropriados que fossem, não eram o suficiente para tornar aquele dia inesquecível. Mas como é que havia de superar aqueles eventos cujas distracções fariam uma ninfomaníaca corar? Felizmente para ela, Rodrigo também desejava deixar aquele dia na memória de todos os presentes e, entre um e outro, chegaram a um consenso. Cada um contribuiria para o evento, afinal não haveria mais ninguém no planeta a quem confiassem tal tarefa. Ao ouvir o que seria o plano, Susana, que não se pronunciara enquanto lhe expunham a ideia, sentiu um arrepio, “Não posso alinhar nisso!”

“Vais e não tens voto na matéria!”, replicaram tanto Guida como Rodrigo, sorrindo de modo travesso. Estava fora de questão que a loura não comparecesse, tal ideia soava a blasfémia aos ouvidos de ambos.

“Mas…isso parece tão mal…”, gaguejou a outra, torcendo o nariz, “Pronto, é a vossa última noite antes de darem o nó mas não acham que é abusar um bocado?”

“Tu antes alinhavas na boa”, contrapôs Rodrigo, abanando a cabeça de modo acusador, e Guida, em tom em todo idêntico, acrescentou, “A Daniela domou-te bem, andas uma coninhas agora…”

“Não ando nada!”, contrapôs Susana, notoriamente tocada. Não era que pudesse fazer o que fazia antes, estava casada afinal de contas. Porém, alfinetadas na sua integridade levavam-na ao rubro. Rangendo os dentes, acabou por ceder, “Ok, mas nem uma palavra à Dani”

“Certíssimo”, concordaram Guida e Rodrigo, dando mais cinco um ao outro, muito para exasperação da loura.

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Foi assim que, uma semana mais tarde, Susana saiu de casa mas não sem se despedir de Daniela e de lhe assegurar que, mesmo que ela não lhe tivesse pedido, iria dando notícias. Não era que tencionasse fazer algo que pudesse vir a fragilizar as coisas, mas a rapariga estava perfeitamente consciente do que poderia esperar tratando-se de uma festa de Guida e a loura preferia jogar pelo seguro. Mais por considerar justo que por algum motivo adicional, a morena resolveu fazer o mesmo, no entanto não previa que a festa de Marta fosse algo muito fora do esperado, no máximo esperava erva, não contava com genitais à vista nem nada que se parecesse.

No último momento, a outra voltou atrás para beijar Daniela outra vez, só então, piscando-lhe o olho, é que deixou a sua companhia. O sorriso que a rapariga sempre pensou que conseguia disfarçar para não dar o braço a torcer e mostrar que também se derretia, com facilidade até, era das melhores partes do dia para si. Fez o percurso desde a sua casa até à de Guida, carregando no botão da campainha entusiasticamente. Depois de definir um plano para se divertir sem parecer atada e, ao mesmo tempo, sem pisar o risco, a sua expectativa para aquele evento melhorou muito. Guida, ainda com ar ensonado, embora penteada, afinal Deus lhe livrasse abrir a porta com um ninho de cegonhas na cabeça, saudou, “A porra da campainha não é para estragar, puta”

Revirando os olhos como resposta, Susana entrou, distribuindo festinhas pelos golden retriviers de Guida, “Bom dia coisa boa!”

“Já tiraste o dedo do cu e agora já estás entusiasmada, não é?”, replicou Guida, a quem a energia da loura causou algum espanto, sobretudo porque estivera prestes a ver que só contaria com a sua presença se a arrastasse.

“Nem te passa por essa cabeça linda”, disse a outra, encaminhando a amiga para a casa de banho, “Enquanto tomas banho, eu escolho a tua indumentária para o dia!”

Guida, por muito que quisesse contrapor, admitia que, se Susana deixara as suas habituais calças largas, e era quando não eram as de pano, em casa e trouxera umas de ganga, de boa marca, justas, ao menos podia deixá-la ter esse prazer, “Ainda me vou arrepender, pode ser mas se me fizeres parecer uma mendiga da esquina…”

“Calma, vais ver que vai correr bem”, garantiu a loura, sorrindo de orelha a orelha. Ignorando o olhar assustado da amiga, fechou-lhe a porta na cara e dirigiu-se ao imenso guarda-roupa desta, que consistia, de modo sucinto, numa divisão inteira. Deitando mãos à obra, pensou em como gostaria de ver Guida vestida. Muita pele à vista era imperativo. Realçar os atributos, mais que não fosse para ter para onde olhar, idem aspas. Satisfeita com a sua escolha, aguardou pela amiga.

Enrolada numa toalha, Guida, de sobrolho erguido, analisou a roupa que estava numa cadeira. Tinha que dar o braço a torcer, não lhe passaria pela cabeça que a outra soubesse combinar duas peças de roupa, quanto mais uma indumentária completa. Quer dizer, não poderia passar por uma esquina sem que lhe metessem notas na roupa interior, mas pelo menos não parecia uma prostituta de beira de estrada. Uma vez vestida, aprovou o resultado, ao ver-se ao espelho, “Estás a adorar, não é porca?”

“Ahm?”, balbuciou Susana, tirando a vista das pernas da amiga pela primeira vez desde que aparecera ali de toalha. Apanhada, olhou para cima, para a encarar, “Gosto, gosto”

Apesar de ter olhos, olhos esses de que se orgulhava muito, na cara, a melhor maneira de Guida saber se estava apresentável era através da reacção da loura. Ainda por cima, naquela ocasião, estava particularmente babada. A auto-estima de Guida, que se elevava como um balão, teve que voltar à Terra, figurativamente, uma vez que esta pairava sempre bem lá em cima, no momento em que Rodrigo tocou à campainha, afinal não podia passar o dia a apreciar-se ao espelho. Abrindo a porta, a outra deparou-se com o amigo, trajado tão a rigor como a amiga, o que fez com que tivesse que comentar, “O Tiago arrancou-te os pêlos do peito com os dentes?”

“Não, a tua mãe”, replicou Rodrigo, indignado. Não tinha sofrido durante meia hora para ter que levar com aquelas bocas, ainda por cima de alguém que não sabia apreciar a visão que era o seu peito, trabalhado com peregrinações ao ginásio e dieta cuidadosa ao mais alto nível, “Gajas…”

“Ignora, estás óptimo”, assegurou Guida. O mais provável seria que Rodrigo fosse tal e qual a sua pessoa, versão masculina e, como tal, entendia-o e defendia-o. Assim que todos estavam prontos, foram para o carro de Rodrigo, uma vez que o de Guida tinha dois lugares, um para Guida e outro para o peito desta, de acordo com Susana, que não se absteve de se pronunciar.

Depois de ser mimoseada por um bombardeamento de insultos, a loura sorriu e tirou do bolso, um bigode farfalhudo que passou à amiga. Guida, baralhada com a aleatoriedade daquilo, colocou-o na mesma. Rindo para dentro, a outra tirou uma foto a ambas, muito para espanto da amiga que revirou os olhos, na sua opinião, Susana estava demasiado frita para tentar perceber. Por sua vez, a loura mandou a fotografia a Daniela, dizendo:

“Consegui mesmo que ela usasse, se ela soubesse…”

O jantar decorreu normalmente, com tanta comida que alimentaria uma aldeia inteira, muito para satisfação da loura, que entretanto recebera o reportório da rapariga de como estava a decorrer o dia com Marta. Já tinha fumado e tanto ela como Tiago mal abriam os olhos na foto que lhe enviara mas nada levava a crer que fosse como o que Guida e Rodrigo tinham preparado. Voltando a sua atenção para a comida, a outra regozijou-se no facto da morena ser de confiança. Tinham discutido limites e Daniela, consciente de que Susana não tinha tido uma despedida de solteira, nem ela própria, permitira-lhe desfrutar daquela como bem lhe apetecesse, sendo o limite aceitar uma lapdance.

Uma hora mais tarde, o momento por que todos aguardavam. Guida confiava na loura para ter ajudado Rodrigo a encontrar Strippers decentes, enquanto ela faria o mesmo em relação aos Strippers masculinos, afinal, ali só a outra é que dispensava esses. Num bar popular, sentaram-se nos sofás, enquanto a empregada, com uma saia que passava por um cinto, trazia as bebidas. Os três despejaram-nas de penalti, como se fosse água, mandando vir a segunda. Quando chegou, as Strippers chegaram, também. Entusiasmada, a outra, que as escolheu mais pelos atributos, que pelo espectáculo, arregalou os olhos. Rodrigo, por seu lado, murmurou, de modo desagradado, “Mamas…”

Dando início ao número, uma das Strippers, subiu para o varão, sendo a única pessoa iluminada na sala escura. Lentamente, ora subindo o varão, ora caminhando de quatro pelo palco, foi tirando a roupa, muito para horror de Rodrigo que viu um fio dental aterrar-lhe na cabeça, de modo provocante. Nada além da rotina genérica, o que foi bastante enfadonho para Guida, que revirou os olhos. Ainda assim, colocou uma nota no peito da “dançarina exótica”, como eram oficialmente denominadas e apontou na direcção de Susana, sussurrando-lhe, “Acho que ela iria adorar que a entretivesses”

Ainda semi-nua, a stripper, aproveitando a dica de Guida, abordou a loura, com um sorriso travesso, debruçando-se sobre ela, quase sem deixar espaço entre as duas, “Estás a gostar?”

Com os olhos a saltar entre o peito e a cara da stripper, a outra, com um brilho suspeito no olhar, respondeu, sem deixar escapar a oportunidade, “Podia ser melhor”

“Hm, acho que tenho uma ideia”, picou a stripper, que colocou a mão no peito de Susana, fazendo-a recuar até ao sofá, não se abstendo de se lhe sentar no colo, eliminando qualquer distância. Durante os próximos momentos a loura, que não podia tocar, deixou a stripper fazer como muito bem entendesse, sempre com o contacto máximo e distância mínima.

Entretanto Guida, aborrecida pelo espectáculo genérico e, na sua opinião, mal executado, das Strippers, foi enchendo, até que ficou sem paciência. Para admiração de tudo e todos, arrancou o bigode postiço, levantou-se, dirigiu-se à stripper que estava no varão e disse, “Aprende que eu não duro sempre”

Se os espectadores estavam perplexos, mais ficaram quando, juntando o gesto à palavra, Guida, agarrando o varão, certificou-se que tinha a atenção de todos os presentes e deu início à sua demonstração. O certo foi que não desapontou, até Rodrigo estava de queixo caído. A loura, ainda a receber uma lapdance da stripper, pensou que naquele momento é que a sua vida estava completa, para tornar aquele momento excelente, só mesmo tendo Daniela ali. E por falar nela, nesse momento Rodrigo encostou-lhe o telemóvel ao ouvido, de modo a que ouvisse a rapariga perguntar, “Estás a gostar?”

“Oh sim”, respondeu a outra. Estava num ponto em que não tinha que esconder nada daquela noite à sua mulher, afinal ela própria acordara com tudo e não havia desconfortos de nenhuma parte. Disse, “Obrigada”
Para contentamento de Rodrigo, não um, não dois, mas três Strippers masculinos apareceram nesse momento. Como uma criança numa loja de doces, levou o seu tempo a apreciá-los enquanto faziam um número em todo semelhante ao das raparigas, abanando tudo quanto tinham para abanar. Quando um deles estava apenas de tanga, Guida, aproximando-se por detrás, puxou-lha para baixo, muito para delícia de Rodrigo e constrangimento da loura.

Susana não conseguiu aperceber-se de quanto tempo teria passado até que tudo aquilo descesse vertiginosamente o nível. O constrangimento que sentira ao ver o stripper nu pareceu insignificante ao que sentiu quando viu Guida, Rodrigo e os Strippers, tanto masculinos como femininos passassem, de toques indecentes a uma orgia ali mesmo à sua frente. Tentando concentrar-se nalguma coisa que não envolvesse Guida com um homem e uma mulher ao mesmo tempo ou Rodrigo com um deles de quatro à sua frente, enrolou uma e ajeitou-se no sofá, observando o desenrolar de tudo sob umas pálpebras pesadas. Ao seu lado, um dos Strippers sentou-se e ela, sempre disposta a partilhar, ofereceu a ganza, “És servido?”

“Se faz favor”, agradeceu ele, visivelmente contente, dando uns bafos, antes de devolver à loura, “Sempre quis fumar uma contigo”

“Na boa”, respondeu a outra, entre um bafo e outro. Verificando o telemóvel constatou que Daniela não lhe dava notícias desde a foto dela com a cobra que fazia parte do espectáculo de uma das Strippers da festa de Marta, ao pescoço. Enviou uma mensagem, a perguntar como é que as coisas estavam a correr e voltou a olhar para Guida e Rodrigo, suados e ofegantes, embora tivessem dado conta daquela gente. Depois do que tinham bebido e consumido, isto para não falar da proeza que fora a orgia, achou melhor dar a noite por terminado, agradecendo aos Strippers e encaminhou-os para o carro de Guida. À saída, consultou o telemóvel, vendo que a rapariga lhe contara como correra o resto da noite:

“Nd de maix, tavm qui mas gajax nuax e erva, nd de abuzado max axo que tou um cadinho indisposta loooooooooooooool”

Quando acabou de ler a mensagem, apenas implorou que a morena não pegasse no carro. Falando em carro, com Guida com o bigode falso colado à bochecha e semi-consciente e Rodrigo caído no passeio agarrado à sua perna, quem iria conduzir? Daniela tinha-lhe ensinado as bases da condução de um carro, se bem que do carro velho estilo executivo da rapariga para o jipe de Rodrigo fosse uma diferença considerável. Sacudindo Rodrigo da sua perna, decidiu-se. Pondo Rodrigo no banco de trás, onde ficou a babar os estofos e Guida ao seu lado, preparou-se para arrancar, ignorando e enxotando as mãos da amiga, “Hm Marta…”

Ao tentar meter primeira, o jipe deu um solavanco para trás, atingindo a parede. Mais desanimada, corrigiu a mudança até que conseguiu arrancar, mas não deixar ir abaixo e sem antes bater uma segunda vez. Com um espelho a menos e um farol partido, avistou a casa de Guida e, já a mandar foguetes por ter conseguido trazer o carro, decidiu travar. Vitoriosa, premiu um pedal a fundo…o acelerador. Em cheio no descapotável de Guida. Aquilo não podia ser verdade. Saiu do carro, ainda com a amiga a gemer disparates e fechou os olhos. Quando os abrisse a chapa estaria como no dia em que saiu da fábrica.

Ou não. Parece que ia ter que abrir os cordões à bolsa para cobrir aqueles arranjos todos. A mossa que lhe faria na carteira não era, de maneira nenhuma, tão grande como as que deixara no carro de Rodrigo e no de Guida, por isso encolheu os ombros. A muito custo, herculeano mesmo, levou-os para dentro. Vendo o telemóvel pela última vez, recebeu de Daniela:

“Agora é que foi loooooooooooooooool”

Após aquela noite, até tinha medo de saber o que se tinha passado. Atirando-se para a cama de Guida, deixou-se adormecer, mais tranquila.

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