sábado, 11 de dezembro de 2010

Prólogo


“Susana passa-se algo?”, perguntou Guida preocupada. A sua melhor amiga já não era estranha nenhuma naquele estilo de vida, afinal estava enterrada nele até aos cabelos desde os 15 anos, mas por algum motivo parecia melancólica naquela noite, “Não pareces nada tu…”
“Oh não é nada…”, murmurou de volta Susana enquanto voltava a colocar os fones na cabeça, suspirando. Mal podia esperar que a noite chegasse ao fim. No decorrer de cinco anos tinha tentado assentar, mas acabou por cometer uns erros com os quais esperava ter aprendido, daí a sua decisão de se tornar Dj e animar a noite em vez de se afastar completamente da vida à qual estava habituada, desta maneira podia entreter-se e, embora não quisesse admitir, observar quem vinha, alem de que precisava do dinheiro. Uma relação pessimamente acabada não lhe dera outra alternativa senão desistir de procurar algo sério e aproveitar a vida.
“Se estás aborrecida vai lá abaixo e diverte-te, eu tomo conta disto”, voltou a tentar Guida. Tinha conhecimento da preferência da sua melhor amiga pelo mesmo sexo desde os 12 anos e aceitava, apesar de não partilhar os mesmos gostos, afinal não ia para uma disco…ahem, alternativa, por assim dizer, senão porque sabia que Susana gostava de a incluir numa parte tão importante da sua vida. Concluindo, custava-lhe vê-la tão abatida sem sequer saber o que a atormentava, “Se quiseres falar, já sabes, sou toda ouvidos”
“Estou a aborrecer-me, já sei que se for lá abaixo basta virar-me para qualquer uma e piscar-lhe o olho que ela cai-me aos pés”, disse finalmente Susana, não era que fosse convencida, não, pelo contrário, no fundo até que era muito modesta, mas não ao ponto de ser cega e não se aperceber do efeito que a sua aparência tinha nos outros, “Onde está a piada nisso? Preciso de um desafio”
Realmente era verdade, reparou Guida, não só a sua amiga não tinha o menor problema em conseguir quem queria, mulher ou homem (caso os quisesse e ainda estava para vir o dia) como também os modos promíscuos das frequentadoras do bar não dificultavam. Levantou a cabeça e observou a multidão que se aglomerava na pista de dança. Havia imenso contacto físico e a timidez, se é que alguma vez houvera alguma, rapidamente era abandonada com o auxílio do álcool.
“Vá lá, tem que haver alguém por aqui que não tenha as mãos dentro das calças de outra pessoa”, pensou Guida frustrada. Decidiu rapidamente que talvez devesse dirigir a atenção para outro lado. Concentrou-se nos sofás que não estavam tão cheios e os seus olhos verdes límpidos pousaram numa rapariga que se encontrava ao lado de um rapaz de cabelo comprido. “Ora o que temos nós aqui…”
A rapariga parecia nervosa, talvez fosse a primeira saída num local como aquele, não largava o braço da companhia e pareceu um tanto desagradada quando outra rapariga lhe agarrou o rabo, ainda assim Guida, apesar de não apreciar mulheres, tinha que admitir que aquela era bem-parecida, feminina e com cabelo escuro comprido, tinha um ar frágil e delicado com uma inocência doce, as bochechas estavam um pouco coradas e os olhos vidrados.
“Susana chega aqui!”, disse freneticamente, parece que afinal ainda havia hipótese de divertir a Dj, “Já tinhas visto aquela por aqui antes?”
“Deve ser nova por cá, pelo menos não me lembro da cara dela…”, disse Susana de olhos arregalados.
“Então, o que é que achas?”, insistiu Guida. Com alguma sorte ainda havia de ser uma noite interessante, “Podias tentar ir-lhe ao pacote e tal…”
“É bem gira e faz o meu género, mas olha bem para ela, de certeza que é hetero e só veio acompanhar o guedelhudo”, murmurou Susana num tom amargo.
“Sim…é provável”, descaiu Guida, mas recuperou rapidamente, “Bah, só sabes se fores lá e olha, fazemos assim, eu tomo conta disto por aqui e tu tens até às 3 para a conseguires comer, querias um desfio, tens o teu desafio”
“Hm, não sei, ela parece tão deslocada aqui que não se vai sentir nada à vontade…”, suspirou a Dj de modo desanimado, estava enternecida com o ar inocente e tímido da rapariga e por isso receava intimidá-la.
“Só vais saber se tentares e ela está tão tímida que de certeza que não te cai aos pés assim tão facilmente”, insistiu Guida, “E se continuar a ser assediada por aquelas horrorosas que até dói olhar para elas, vai ficar traumatizada e nunca mais cá põe os pés e tu não a tornas a ver”
“Isso é que não!”, riu-se Susana, “Convenceste-me, vou lá e vejo o que posso fazer por ela, se tiver sorte ainda lhe pago uma bebida.”
“Vai-te a ela, gata”, brincou Guida, “Agora a sério, tu vê lá o que fazes que estas não aparecem por aqui todas as noites.”
“Pode estar presa mas eu solto-a, até ao final da noite garanto-te que já a tenho”, disse a Dj, bastante mais confiante, “Se jogar para a minha equipa, é claro…”
“Tanta confiança mas ainda chegas aqui de mãos a abanar”, picou Guida, afinal tinha que se divertir, “Vamos dificultar um pouco, caso ela não jogue para a equipa da casa, vais ter que a fazer querer experimentar”
“Oh Guida, isso já vai ser um bocadinho impossível”, disse Susana, apesar de já ter bastante experiência e de já de lhe ter passado todo o tipo de raparigas (menos este, talvez) pelas mãos, meter-se com uma que favorecesse o sexo oposto era demais.
“Se o conseguires eu prometo-te que um dia experimento o teu estilo de vida”, desesperou Guida, o que uma rapariga não tinha que fazer pela sua melhor amiga.
“Aceito! Mas não te esqueças do que disseste”, disse Susana antes de tirar os phones e partir em direcção à rapariga mistério. Parece que afinal esta ia ser mesmo uma noite interessante.

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